2º Seminário Dever Fiduciário: A hora da agenda ASG é agora

Luís Ricardo Martins, Diretor-Presidente da Abrapp, no 2º Seminário Dever Fiduciário

A Abrapp e o Sindapp realizaram, nesta quinta-feira (10), o 2º Seminário Dever Fiduciário. O seminário contou com apoio institucional da UniAbrapp, ICSS e Conecta, patrocínio ouro da XP, e patrocínio bronze da Apoena Soluções em Seguros e do Gruppo Agentes Autônomos de Investimento.

O objetivo do evento foi promover a adoção de práticas sustentáveis e éticas no seu conceito mais amplo, envolvendo questões de governança, econômico-financeiras, sociais e ambientais. Tudo isso numa visão de que há muito deixou de ser uma agenda positiva e sim parte integrante do dever fiduciário de conselheiros e dirigentes das entidades fechadas de previdência complementar.

O seminário contou com excelentes painelistas que mostraram que as práticas ASG cada vez mais são uma preocupação do mercado, e as empresas e entidades que até então não estavam atentas a essa questão estão adaptando suas operações para atender a esse novo padrão.

Responsabilidade cada vez maior – Os temas da agenda ASG não são novidades para o setor dos investidores institucionais, ponderou o Diretor-presidente do Sindapp – Sindicato patronal das EFPC, José de Souza Mendonça. O que há de novo, completou, é a evidência de que a responsabilidade dos administradores sobre eles será cada vez maior.

“Com esse intuito, convidamos todos, investidores institucionais vocacionados para o longo prazo, dirigentes das entidades, a discutirem esses aspectos de forma prática e construtiva”, destacou Mendonça, reforçando a proposta do evento e o convite que se faz a lideranças, diretores e conselheiros com essa iniciativa.

Mendonça registrou os agradecimentos aos patrocinadores e os Diretores envolvidos na realização do evento: Erasmo Cirqueira Lino, Diretor do Sindapp responsável pela pasta de Promoção da Ética; Carlos Aberto Pereira, Diretor da Abrapp responsável pelas Comissões de Governança e Riscos, Keite Bianconi, Diretora da Abrapp responsável pelo Comitê de Sustentabilidade, e o Vice-Presidente da Associação, Luiz Paulo Brasizza, que acompanhou de perto o projeto de Relatório de Sustentabilidade da Abrapp, cujos destaques foram apresentados no seminário. Ele destacou, ainda, a especial contribuição de Aparecida Pagliarini, Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp.

Mudança de mentalidade – A sigla ASG nunca foi tão falada, ressaltou Luís Ricardo Martins, Diretor-Presidente da Abrapp, ao notar que as questões socioambientais têm peso cada vez maior na tomada de decisão. Ele acrescentou que há mudança da visão sobre o investimento com critérios sociais, antes percebidos até com viés assistencial, para algo primordial que integra os negócios e afeta positivamente a rentabilidade e a performance dos investidores.

Essa pauta acelerou no cenário pós-pandemia e os gestores das carteiras das entidades fechadas estão sensíveis à temática ASG, em um contexto de queda abrupta da taxa básica de juros. Será preciso, dentro da estratégia de longo prazo, ter mais exposição a risco para buscar rentabilidade e a diversificação torna-se palavra de ordem.

Assim, para as entidades fechadas, como principais veículos de poupança de longo prazo do País, e que fecharam abril de 2021 com R$ 20 bilhões de superavit agregado, o tema sustentabilidade ganha ainda mais destaque. Há o reconhecimento de que os aspectos sociais, ambientais e de governança realmente trazem grandes oportunidades com retornos sustentáveis e melhor gestão dos riscos.

Dever fiduciário e educação – Além de mitigar riscos e se casar com os objetivos de longo prazo das EFPC, o investimento responsável faz parte do dever fiduciário dos gestores de recursos de terceiros, que deve ser pautado pelas melhores práticas, lembrou Luís Ricardo. “Analisar a sustentabilidade de uma empresa investida é tão necessário quanto analisar suas demonstrações contábeis. Isso está dentro da linha do homem probo, da prudência na gestão dos recursos.”

Ele reconheceu que estimular a adoção desses critérios – ainda que hoje a temática esteja em grande evidência – faz parte de um processo educativo e lento. Por isso, a Abrapp vem trabalhando nessa frente desde 2007, quando incentivou a adesão das EFPC ao PRI – Principles of Responsible Investment, por meio de uma política institucionalizada que reflete a importância que o sistema dá a essa pauta.

Para agilizar essa transformação, acrescentou o Diretor-Presidente da Abrapp, é preciso mudar o mindset das lideranças e dos formadores de opinião, para que possam sair da zona de conforto e trilhar a temática ASG. “Precisamos entender e atender os novos tempos”, adicionou, ao notar que as novas gerações cobram posicionamentos efetivos dos gestores sobre investimentos responsáveis.

“Penso que o processo educacional do mercado, essa comunicação, esse engajamento entre investidores e empresas investidas e a própria metodologia de avaliação desses ativos na temática ASG ainda são grandes desafios que se colocam”, observou Luís Ricardo.

Ele acrescentou que essa agenda integra o planejamento estratégico da Abrapp, está inserida no Código de Autorregulação em Governança de Investimentos, e que o sistema tem elevado cada vez mais sua profissionalização, por meio da qualificação e certificação de pessoas – temática que será enfocada pelo próximo Código de Autorregulação.

A hora é agora – As apresentações do 2º Seminário Dever Fiduciário reforçaram a mensagem de que este é o momento ideal para as EFPC iniciarem ou acelerarem sua jornada ASG.

Na palestra “Muito além do ambiental – estamos falando de EESG”, Sonia Consiglio Favaretto, especialista em Sustentabilidade e SDG Pioneer pelo Pacto Global das Nações Unidas, reforçou a mudança da visão sobre sustentabilidade, que deixa de ser vista como “abraçar árvores”, para reforçar sua real proposta: a transformação de um modelo que considera objetivo econômico com objetivos ambientais e sociais – daí a provocação do EESG, agregando o “E” de econômico.

Em sua fala, Favaretto reforçou, assim como Luís Ricardo, que essa mudança não é banal e nem acontecerá do dia para a noite. “É uma jornada – gostamos de usar essa palavra – que vai ser trilhada passo a passo”. Contudo, é preciso fugir da “armadilha do longo prazo”, entendendo que ainda que tenha um horizonte de tempo mais longo, é preciso dar os primeiros passos agora, pois são questões que impactam o hoje.

A especialista apresentou diversas pesquisas que mostram a crescente importância dada por investidores a essa agenda – junto a colaboradores e reguladores -, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ONU), entrando na tomada de decisão para a alocação de recursos. Essa pressão chega aos Conselhos das empresas, que passam a ter em suas agendas para 2021 a necessidade de olhar para temas como diversidade, equidade e inclusão, e a responsabilidade de orientar a estratégia ASG das companhias, gerando engajamento e valor agregado aos stakeholders.

Importância das EFPC – Na palestra “Fora da curva: o que explica o crescimento exponencial dos investimentos ESG?”, Marina Cançado, head de Sustainable Wealth da XP Private, e Beatriz Vergueiro, head de Produtos ESG na XP, reforçaram a importância dada por agentes de mercado e investidores à agenda ASG. Isso passa pelo reconhecimento de que o olhar financeiro tradicional para risco e retorno não é mais suficiente para lidar com outras dimensões da realidade, devendo ser ampliado.

Os investidores estão acordando e tomando para si esse protagonismo, o que exigirá também a revisão de uma série de pressupostos, destacou Marina Cançado. “Inclusive, porque alguns desses pressupostos das finanças de hoje talvez não deem conta de antever os vários impactos, inclusive nos preços dos ativos, que os atributos de sustentabilidade terão nos próximos anos”.

A head de Sustainable Wealth reforçou a importância das EFPC para o fortalecimento dessa agenda no Brasil, gerando um efeito em cadeia, a exemplo do que ocorreu na Europa. “Precisamos dos investidores institucionais, dos fundos de pensão, nessa jornada, para que consigamos avançar com consistência e, inclusive, ter um ecossistema mais robusto e diversificado de produtos financeiros”.

Beatriz Vergueiro apresentou uma visão prática sobre a estratégia de longo prazo da XP atrelada à agenda ASG, impactando desde as políticas, processos, esteiras de tomada de decisão, metodologias de rating dos produtos, grupos de diversidade e inclusão e capacitação de funcionários, bem como sua proposta para influenciar positivamente o mercado em torno dessa agenda.

A cobertura do 2º Seminário Dever Fiduciário tem continuidade, com as demais palestras e painéis, incluindo o Relatório de Sustentabilidade, Pesquisa apresentada pela Previc e palestra especial com Caio Magri, nas próximas publicações do Blog Abrapp em Foco.

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