41º CBPP: Diversificação no exterior e gestão sistemática são destaques nas palestras técnicas 

O maior evento de previdência privada do mundo já começou! Na manhã desta segunda-feira (16), os participantes do 41º Congresso Brasileiro de Previdência Privada, pela primeira vez em formato 100% online e ao vivo, puderam conferir o conteúdo das palestras técnicas.

As 20 palestras técnicas da programação acontecerão pela manhã e à noite no auditório AZ Quest 2, ao longo dos quatro dias do evento, no centro de eventos digital da Abrapp. Há possibilidade de interação em tempo real com os palestrantes por meio de envio de perguntas no chat.

Inaugurando o conteúdo desta manhã, a apresentação “A importância para uma entidade de previdência complementar de se diversificar no exterior” foi conduzida pelo Head of Sales da LeggMason, grupo que faz a gestão de US$ 1,4 trilhão, Roberto Teperman.

A palestra abordou a importância para as EFPC de se diversificar no exterior como uma alternativa para queda das taxas de juros no mercado brasileiro. Teperman explicou o que é uma carteira bem diversificada, utilizando ativos no exterior, através de exemplos práticos, e também comparativos entre benchmarks e classe de ativos locais e internacionais.

Muito para avançar – O executivo destacou que o Brasil tem muito a avançar na regulação desse tem. A Resolução CMN 4.661/2018 permite investimento de até 10% no exterior, enquanto grande parte dos países já não têm limites para esse tipo de investimento.  “É decisão tomada pelo Comitê de Investimentos quanto comprar e o que comprar, sejam ativos locais ou de fora daquele país”.

Na Colômbia é possível ter exposição de até 70% em ativos internacionais, dependendo do fundo. No México, essa exposição está em torno de 25%, assim como na África do Sul. Na Coréia do Sul esse limite varia de 30% a 70%.

Performance e proteção da carteira – O instrumento de diversificação internacional torna-se fundamental no Brasil, considerando o contexto de alta volatilidade e de taxa Selic na mínima histórica, com CDI com rendimento de juro real negativo e NTN-B oferecendo rendimento de 3 a 4% a.a. A estratégia de investimento com foco no longo prazo,  buscando maior descorrelação com o cenário doméstico traz benefícios em duas frentes para as EFPC: performance e proteção.

Teperman observou que as EFPC que tomaram a decisão referente à sua política de investimentos em 2019, e introduziram investimentos no exterior, lograram ter uma grande proteção durante a crise deste ano de 2020.

Essa decisão também vem em linha com o crescente desafio de bater as metas atuariais. “Todo mundo, não só os brasileiros, estão buscando hoje o yield (rendimento). E para você ter yeld é preciso diversificar, achar alternativas, olhar para o longo prazo. Com os juros no atual patamar, e em nossa opinião esse cenário deve se perpetuar ainda por um bom tempo, a EFPC terá que achar opções para fazer essa alocação nos próximos anos”, destacou o executivo da Legg Mason.

Ele apresentou como exemplo uma carteira de estratégia em fundos de fundos multimercados globais, envolvendo ações no mercado dos EUA, países da Ásia e Europa que conseguiu entregar consistentemente, nos últimos 10 anos, INPC + 5,5%.

Por onde começar – A melhor maneira para começar a investir no exterior, segundo Teperman, é partir de onde o gestor da EFPC se sente confortável. Ou seja, pelo básico. Isso envolve a alocação por fatores como: região geográfica, setores econômicos, classe de ativos, renda variável ou renda fixa, títulos de alta qualidade ou alto rendimento, alternativos (multimercados) etc.

Ele destaca que a primeira pergunta a ser feita não é relativa a investir em real ou dólar, mas como será feita a diversificação. “ É necessário ter ativos que se comportem de maneira diferente dos ativos locais (decorrelação). Outro ponto importante é ter uma carteira em mercados que possam oferecer proteção, caso aconteça algum solavanco no Brasil. E a terceira pergunta é que deveria ser referente ao câmbio”.

Benefícios da Gestão Sistemática – A diversificação de investimentos também se dá pela escolha do tipo de gestão. Esse tópico foi destaque na palestra “A diferença entre Pesquisa e Estratégia na gestão de Fundos de Investimento”, conduzida por Rodrigo Terni, Sócio-fundador da Giant Steps Capital, maior gestora sistemática da América Latina.

Durante a apresentação, Terni ressaltou o impacto que a tecnologia pode ter na tomada de decisão, especialmente nas etapas de pesquisa e desenvolvimento de estratégias de gestores, no contexto da chamada gestão tradicional e gestão sistemática.

Para o executivo, não existe uma diferença existencial entre gestão tradicional e a sistemática, pois estas seguem basicamente as mesmas etapas. “A gestão sistemática, em minha opinião, é uma evolução da gestão tradicional. Ela agrega muitas ferramentas poderosas que farão diferença no futuro entre o gestor que terá sucesso e o gestor que não terá sucesso”, ressaltou Terni, notando que a sistematização de investimentos é uma tendência mundial que vem desde a década de 1990.

“Eu não acredito que isso vai parar; crescerá cada vez mais. Todos os gestores terão que investir em sistematizar o seu processo para que ele continue tendo resultado”, completou Terni.

Escala e agilidade –  Enfocando as etapas da tomada de decisão de investimentos, o Sócio-fundador da Giant Steps mostrou o impacto da tecnologia na pesquisa das informações, que vai muito além da capacidade humana. As ferramentas tecnológicas  possibilitam o processamento de centenas ou milhares de variáveis em um curto espaço de tempo, encontrando relações complexas entre elas. Além disso, é possível  agregar na pesquisa, além dos dados econômicos, dados alternativos advindos de imagens, notícias, vídeos e outras fontes.

O uso da tecnologia permite ainda a tomada de decisão a partir da simulação de multi cenários (indo muito além do trinômio – base, otimista ou pessimista), e ajustá-los de forma dinâmica, ou seja agregando novos fatos conforme estes acontecem nos mercados. O ajuste de um cenário, que poderia levar semanas em uma abordagem tradicional, é feito em minutos.

Ele lembrou que a tecnologia também permite simular o efeito de cenários improváveis, mas de grande impacto, os chamados “cisnes negros”, a exemplo da pandemia de COVID-19.

Outra vantagem da gestão sistemática é que os gestores conseguem trabalhar em pequenas teses, em vez de uma única grande tese de investimentos, de forma a explorar oportunidades de ganhos em mercados internacionais e que estão disponíveis em curtas janelas de tempo.

Mais do que estratégia, o valor está na pesquisa – Ao trazer as conclusões, Terni ressaltou que todo gestor multimercados tem basicamente o mesmo objetivo: gerar bons retornos, descorrelacionados, diferente do que as EFPC conseguiriam comprando ativos diretamente no mercado. Contudo, há um grande diferencial em fazer isso utilizando ferramentas tecnológicas avançadas, em relação a continuar seguindo um modelo de análise tradicional utilizado há 20 ou 30 anos.

Ele enfatizou que muito mais do que a estratégia, o maior valor da gestão está na boa pesquisa. “A estratégia de todo mundo acaba sendo muito parecida, seguindo uma tendência ou outra. Mas a boa pesquisa, achar bons dados, escalar isso com informações a partir de fontes diferentes do mundo inteiro, isso é difícil de fazer. Construir uma boa carteira e ter um bom controle de risco é difícil de fazer. Esse é o papel de um bom gestor”.

Terni ressaltou ainda que qualquer gestor, inevitavelmente, precisará caminhar para trabalhar com dados em grande escala e extrair insights a partir das leituras de suas complexas relações. E, por fim, é preciso ter criatividade: “ela é valiosa para identificarmos formas diferentes de utilizar a informação”, completou.

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