41º CBPP: Ricardo Amorim ressalta desafios da baixa taxa de juros e importância da educação financeira

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No Eixo Temático 1 – Impacto do Presente no Futuro do 41º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP), que iniciou nesta segunda-feira, 16 de novembro, o economista Ricardo Amorim participou de Insight Session com o tema “O Day After da Crise que Ninguém Esperava”, abordando os impactos da pandemia de COVID-19 no cenário macroeconômico brasileiro e mundial, e os desafios daqui pra frente.

Ricardo Amorim destacou que 2020 tem sido um ano diferente, mas cheio de lições, destacando que o Brasil vive um momento de queda da taxa de juros que foi acelerado pela pandemia, com Selic se aproximando de zero. “Isso torna o Brasil se um país ‘normal’ em tempos anormais, porque a taxa de juros perto do zero ou até negativa tem sido comum em outras países. A gente vinha caminhando nessa direção, mas faltou a pandemia para dar o último passo”. Segundo ele, esse cenário macroeconômico atual muda tudo do ponto de vista de quem aloca recursos, de quem precisa poupar e de quem precisa de crédito. “Isso é uma transformação gigantesca”. 

Amorim citou alguns aspectos relacionados a essa transformação, ressaltando que o cenário requer uma revolução na indústria de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). Ele ressaltou o impacto expressivo que essa redução da taxa Selic tem nos planos de Benefício Definido (BD). “Quando olhamos para a estrutura de equipes da parte de alocação de investimentos no geral, em um país em que a taxa de juros sempre foi elevada, a maior dessas equipes eram especializadas em renda fixa, e essa estrutura não faz mais sentido. Esse talvez seja o desafio estrutural mais importante e complicado”. 

Apetite ao risco – Segundo Amorim, há dois caminhos para resolver esse desafio: um é uma readequação da equipe, com pessoas treinadas para lidar com risco de crédito e passar a entender outros riscos. Ele citou ainda que as equipes devem ser montadas de formas diferentes dentro das instituições, com expertises e níveis distintos de tolerância ao risco, destacando que uma grande transformação que os investidores devem enfrentar é a questão da visão curto prazista, que deve ser mudada a partir de agora, diante desse novo cenário. “No momento, a gente tem investidores experientes moldados em um ambiente que não é mais o visto, e isso pode levar a uma visão de mercado deturpada”, disse, ressaltando que as EFPCs devem olhar para isso mais do que qualquer outra classe dos investidores.

A busca por alfa também se tornou importante, citou o economista, com a questão de apetite a risco relacionada ao prazo de investimento. “O que a gente vê é que quanto mais se amplia o horizonte, melhor a possibilidade de retorno. Para ter apetite a um risco maior, a solução é ter horizontes mais longos”. Segundo Amorim, usar o benchmark com base no CDI leva a decisões erradas e reforçou a importância de diversificar investimentos, inclusive, internacionalmente. “Ainda que eu acredite que hoje, no geral, as oportunidades de investimentos dentro do Brasil são muito melhores do que as que tem fora do país, não acho razoável que tenhamos os atuais limites para investimentos externos, e muito menos que os investidores tenham alocações muito inferiores a esses limites”. 

Ele ressaltou que se essas alocações fossem maiores, os investidores não teriam as dificuldades que tem hoje, pois os investimentos no Brasil ficaram muito aquém dos investimentos fora do país em uma análise de movimentos em horizontes longos. Amorim exemplificou que os investimentos das últimas décadas que tiveram melhor retorno fora país normalmente foram em setores que não estão presentes no Brasil, enquanto a bolsa brasileira não apresenta retornos tão positivos na mesma base comparativa. 

Educação financeira – Por conta das necessidades das pessoas terem que trabalhar de casa por um período longo, com o home office instalada na maior parte da empresas devido à pandemia, há hoje um novo impacto nos formatos de trabalho que até então as pessoas estavam acostumadas. “Com as relações de trabalho mudando, isso vai mudar também as relações com os fundos de pensão. É uma transformação gigantesca que não sabemos se será permanente”, disse Amorim. 

Ele citou que junto a esse fator, há a expansão recente dos planos de previdência complementar para familiares dos atuais participantes, sendo essa é uma das transformações importantes do sistema, que passa a ter um papel maior. Nesse sentido, Amorim ressaltou o papel da educação financeira, enfatizando que o Brasil precisa enfrentar essa questão e que é preciso o incentivo à formação de uma poupança de longo prazo para que se tenha uma qualidade de vida maior. “A própria pandemia talvez tenha acelerado isso”, pontuou, ressaltando que a indústria de previdência tem um papel forte em relação a esse tema. 

Segundo ele, juntar juros mais baixos com uma estrutura de emprego informal e falta de educação financeira pode gerar impactos negativos para a sociedade. “Educação financeira transforma um país em todos os aspectos”, destacou. 

Desafios – Ricardo Amorim disse ainda que daqui pra frente o Brasil enfrenta desafios com a necessidade das reformas para realização de um ajuste fiscal no país. Ele ressaltou também os impactos que a situação da política americana pode ter mundialmente, com um cenário de retorno da batalha comercial entre Estados Unidos e China. 

Para ele, as oportunidades do futuro estão pautadas na capacidade de resposta em momentos muito difíceis. “Acredito que a indústria de previdência complementar está passando, e passará pelos próximos anos, por uma grande transformação que pode vir a ser uma oportunidade dependendo da atitude pró-ativa que o sistema tiver”, complementou Amorim.

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