Entrevista: A alternativa dos investimentos no exterior em cenário de juros reduzidos

FernandoLovisotto_VinciPartners

Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, Fernando Lovisotto, CIO e Responsável por Equities, Hedge Funds e Investment Solutions da Vinci Partners, analisa os desafios de superação das metas atuariais dos planos das entidades fechadas de Previdência Complementar (EFPC) em um cenário de juros reduzidos. Entre as opções existentes, o gestor comenta a alternativa pelas investimentos no exterior e suas características.

Ex-sócio-diretor do RiskOffice entre 1999 e 2007, ano em que a Algorithmics assumiu o controle, Lovisotto passou a exercer a função de diretor técnico. Com formação em Engenharia e Mestre pela Escola Politécnica da USP, o gestor acumula longa experiência na atuação no segmento de investidores institucionais. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Blog Abrapp em Foco – Poderia comentar o atual cenário de juros reduzidos da economia e o desafio da superação das metas atuariais das EFPC?

Fernando Lovisotto – Desde 2016 temos passado por um momento de mudança de condução de política econômica que possibilitaram termos inflação mais baixa e assim juros menores. Para investidores de longo prazo, como as EFPCs, tal mudança gera um impacto grande na forma de investir seus recursos, fazendo com que a alocação que até então funcionava muito bem, baseada em títulos federais de longo prazo e bolsa, dê espaço a uma alocação mais diversificada, com participação de várias classes de ativos, para que suas metas sejam atingidas. Essa “nova” forma de investir traz consigo alguns desafios: compreensão de várias classes de ativos, escolha de produtos/gestores, rebalanceamento constante, controle de riscos e maior horizonte de investimentos para que o objetivo seja atingido.

Blog Abrapp – Poderia analisar a importância e a necessidade de maior diversificação das carteiras de investimentos das entidades fechadas diante do atual cenário macroeconômico?

Lovisotto – Como falamos antes, os títulos públicos no cenário atual não rendem mais que as metas atuariais (na maior parte dos casos). O prêmio extra que precisa ser obtido para fechar a conta, de forma que as EFPCs atinjam suas metas, virá de outras classes de ativos de maior risco. Como tais classes possuem risco maior que os títulos públicos, a diversificação e o controle de riscos são essenciais. Do ponto de vista de alocação de recursos, o que está havendo é um convergência com o que já acontece nos países desenvolvidos que convivem com juros baixos há mais tempo.

Blog Abrapp – Como os investimentos no exterior podem compor a política de investimentos das EFPC no sentido de se alcançar maior diversificação das alocações com menor risco?

Lovisotto – Quando falamos em diversificação é essencial pensar em investimentos no exterior. Há vários argumentos para isso: 1 – é a única forma de investirmos em setores da economias que não têm muita representação na nossa Bolsa de Valores; 2 – exposição a outras moedas; 3 – diversificação do risco de crédito; 4 – melhora da relação risco/retorno do portfólio como um todo. No entanto, a forma de realizar o investimento, a discussão de hedge cambial e a escolha de produtos, ainda são pontos que devem melhorar com o tempo e experiência.

Blog Abrapp – Poderia comentar a correlação ou descorrelação dos investimentos no exterior e dos investimentos domésticos?

Lovisotto – Os pontos listados anteriormente contribuem muito para gerar essa descorrelação já que geram exposição a fatores de risco que são “novos” nas carteiras. Importante falar que ao investirem no exterior as EFPCs não estão somente reduzindo risco via redução de correlação, mas estarão agregando retornos já que atualmente os retornos do mundo offshore possuem as mesmas ordens de grandeza dos retornos locais.

Blog Abrapp – Quais as principais opções de investimentos no exterior acessíveis às EFPC?

Lovisotto – Atualmente a gama de produtos oferecidos é bem grande. A dificuldade é a correta avaliação da qualidade dos mesmos e como a carteira deve ser montada e sua performance medida.

Blog Abrapp – O que acha da proposta de aumentar o limite de alocação da Resolução 4.661 dos investimentos no exterior para até 20% do total do patrimônio das entidades?.

Lovisotto – Nas nossas contas, no atual cenário de juros e prêmios nas classes de ativos, faz sentido esse aumento.

Blog Abrapp – Qual a melhor opção, o investimentos no exterior com hedge ou sem hedge cambial? Por que?

Lovisotto – A montagem da carteira é parte essencial dessa decisão de se investir no exterior. Nós preferimos carteiras diversificadas que busquem superar as metas atuariais no longo prazo e que possuam exposição cambial. Outro ponto que falamos é sobre o controle de risco e, nesse caso, achamos que é adequado lidar com o hedge cambial de maneira tática, realizando proteções de acordo ao momento da EFPC e cenário econômico.

Blog Abrapp – Poderia analisar a evolução futura das carteiras de investimentos no exterior?

Lovisotto – Acreditamos que este cenário de juros baixos deve permanecer por mais tempo e assim a diversificação da carteira de investimento ocorrerá. Os investimentos no exterior serão parte relevante das carteiras e forma com que é realizado será aprimorada no tempo: escolha de produtos melhores, composição da carteira e realização de hedges pontuais farão muita diferença no sucesso desses investimentos.

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