Entrevista: Diversificação com oportunidades em Bolsa, Crédito Privado e Exterior

Cláudio Pires, MAG

Com um cenário de taxas de juros em mínimas históricas, a diversificação e a busca de retorno diferenciado vêm ganhando cada vez mais relevância. Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, Claudio Pires, Diretor da MAG Investimento, traz uma análise de cenários futuros e as oportunidades para as entidades fechadas (EFPC). Em relação à Bolsa, o gestor acredita que os setores mais “promissores deverão ser justamente os mais impactados pela pandemia e que têm muito a ganhar com a normalização das atividades, com destaque para o setor de companhias aéreas”.

O Diretor da MAG aponta oportunidades nos ativos de crédito privado e investimentos no exterior. Confira a seguir a entrevista na íntegra: 

Blog Abrapp em Foco – Analise o cenário do atual patamar de juros na economia brasileira e os desafios para as carteiras de investimentos das EFPC.

A taxa Selic está em seu mínimo histórico e acreditamos que se manterá assim até o final de 2020. Algo importante de ser mencionado é que, apesar das taxas de juros de curto prazo estarem muito baixas, as de longo estão relativamente altas porque refletem um cenário de incertezas. Para 2021, uma normalização é esperada, mas o timing e o tamanho do ajuste dependerão da situação fiscal do país. A manutenção da austeridade fiscal e o comprometimento com o teto de gastos devem postergar a alta de juros para o segundo semestre, e em ritmo moderado. Um cenário inverso, de deterioração fiscal, pode antecipar a alta de juros, além de majorar a intensidade desse movimento. Da mesma forma, as taxas de longo prazo também reagem à situação fiscal do país.

Em qualquer uma das situações, a ampliação de uma gestão ativa nos mandatos e a diversidade das carteiras, com alocação nas mais variadas classes de ativos, precisarão fazer parte da política de investimentos das EFPC. Importante destacar que, mesmo em uma hipótese de deterioração fiscal, a taxa Selic não se elevará aos níveis vistos no passado recente, que possibilitavam uma gestão concentrada na Renda Fixa.

Blog Abrapp – Quais as projeções de PIB para este ano e para 2021? Como será o ritmo de recuperação da economia brasileira?

Nossa projeção é 4,5% de queda para este ano e para 2021, 3,5% de alta. Sobre o ritmo de recuperação, acreditamos que será desigual, uma vez que alguns setores estão conseguindo fazer uma retomada mais rápida, porém setores como o de serviços tem sofrido bastante, tanto no Brasil quanto no mundo. Em 2019 o setor de serviços respondeu por 76% do PIB brasileiro, o que nos dá a dimensão da sua importância como produção de riqueza. 

Blog Abrapp – Quais as perspectivas da Bolsa para o fechamento deste ano e para 2021? Quais setores mais promissores?

Nossas perspectivas são de 107 mil pontos para esse ano e de 123 mil para 2021. Empresas dos setores de e-commerce e tecnologia, que foram destaque absoluto em 2020, devem seguir bem, porém não devem ser as protagonistas em 2021. Os setores mais promissores deverão ser justamente os mais impactados pela pandemia e que têm muito a ganhar com a normalização das atividades, com destaque para o setor de companhias aéreas. 

Blog Abrapp – Analise as oportunidades no crédito privado e multimercados.

Sobre crédito privado, foi um mercado que sofreu muito na pandemia, os ativos se desvalorizaram bastante, a taxa Selic baixa impactou muito a precificação dos papéis, mas acreditamos que a partir de agora estão trabalhando num patamar de taxas e preços mais atrativos. Podemos dizer que nos preços atuais é uma classe de ativos em que vale apostar. 

Com relação aos multimercados, a grande beleza deles é a flexibilidade que o gestor tem de atuar em diversas classes de ativos, permitindo uma abordagem construtivista, sendo possível até mesmo alocar recursos em outros países. Eles cresceram, ganharam importância e, ao contrário do crédito privado que diminuiu em 2020, o multimercado ganhou espaço esse ano e a tendência é que continue. 

Blog Abrapp – Poderia comentar a importância de diversificação das carteiras das EFPC com alocação em investimentos no exterior?

Nós acreditamos nisso e atuamos assim desde 2014, quando lançamos o primeiro fundo offshore, o que foi uma grande aprendizagem para o mercado e, também, para as EFPCs. Quem tinha um portfólio diversificado teve uma performance muito melhor do que quem estava concentrado em ativos brasileiros. Em 2020, os ativos brasileiros tiveram performance negativa, principalmente se comparado com os países desenvolvidos e até mesmo em desenvolvimento.

Blog Abrapp – Poderia indicar uma estratégia de alocação mais adequada para o momento atual e próximo ano?

Nosso conselho é aumentar a diversificação, ampliar alocação em renda variável e utilizar de forma ampla o limite que a legislação permite em investimento offshore (10%). Na linha da diversificação, acreditamos que seja, também, o momento de aumentar a alocação em títulos de crédito privado, e não de diminuir. A pandemia deixou os preços destes títulos atrativos. 

Blog Abrapp – Poderia comentar a importância do controle de riscos a partir do cenário de pandemia? 

É preciso reforçar a governança e o controle de risco, um aprendizado da pandemia. Ter uma carteira balanceada e com limites de risco e Stress bem gerenciados se mostrou altamente relevante. Como ainda estamos saindo da pandemia, a volatilidade dos ativos segue elevada, mas acreditamos que haja espaço para uma diminuição. Destacamos novamente a importância dos controles de risco das entidades, algo que todos precisam revisitar.

 

 

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