Em cenários cada vez mais voláteis e de eventos inesperados, combinar a expertise de gestores que contam com uma robusta avaliação macroeconômica com o poder de processamento da máquina para auxiliar a tomada de decisão mostra-se um caminho sem volta. Esses temas foram abordados nas Palestras Técnicas 25 e 27, realizadas nesta sexta-feira (22) no 42º Congresso Brasileiro de Previdência Privada.
Impactos pós-pandemia – A palestra “Cenário macro 2022 e visão do gestor” foi realizada por Luiz Maciel, Economista-chefe Macro Brasil no Bahia Asset Management, e César Aragão, Diretor de Relações com Investidores, Produtos e Alocação no Bahia Asset.
Em sua apresentação, Luiz ressaltou todos os impactos da pandemia de COVID-19 para a economia mundial, englobando o choque na oferta de bens, pressões inflacionárias persistentes e todos os governos trazendo para si os machucados, do ponto de vista fiscal, decorrentes dos estímulos para reduzir as cicatrizes deixadas pela crise.
Com relação ao mercado doméstico, o economista notou que o Brasil se beneficiou de um cenário externo favorável de forte demanda por commodities. Isso gerou um aumento superior a 30% nas commodities brasileiras e um choque de renda superior a 2% do PIB, existindo o risco de correção de preços nos próximos 12 meses. O país também deverá se beneficiar no futuro com receitas adicionais, estimadas em 1% do PIB, decorrentes da exploração dos grandes poços de petróleo do pré-sal, que devem entrar em operação a partir de 2025 e 2026.
Cenário para 2022 – Contudo, a ameaça do fim do “teto dos gastos” para financiar novos estímulos econômicos por parte do governo, o crescente temor do mercado sobre o descontrole fiscal, desancorando as expectativas inflacionárias, aliado ao descompasso entre oferta e demanda, e um cenário eleitoral imprevisível, geram grandes incertezas para o curto e médio prazos.
“Temos um incêndio da inflação e estamos tentando combatê-lo estimulando mais demanda: é jogar mais gasolina no incêndio. E o Banco Central tem que jogar água subindo os juros”, resumiu o economista, acrescentando que o país necessitará de uma nova âncora fiscal. Assim, a projeção do Bahia Asset é de PIB zero ou negativo para 2022, inflação perto de 5% para o próximo ano e 4% para 2023 e taxa Selic entre 10% e 13% nos próximos 10 a 12 meses.
Em complemento, César Aragão ressaltou que o Bahia Asset tem sido um parceiro importante dos investidores institucionais nos últimos 20 anos. Ele notou que cerca de 50% dos recursos sob gestão (AUM) provêm desses investidores, e detalhou a visão da gestora para entregar retornos acima do benchkmark a seus clientes com foco no longo prazo.
Estratégia de “quantamento”
A palestra “Gestão quantitativa” foi apresentada por Luiz Philipe Roxo Biolchini, CIO da Bradesco Asset Management, que já possui aprox. R$ 20 bilhões na área de gestão quantitativa. Na explanação, ele abordou como a ciência e as tecnologias avançadas de inteligência artificial, como o aprendizado de máquina e o processamento de linguagem natural, podem auxiliar no processo de alocação de investimentos.
A tecnologia permite extrair indicadores a partir da coleta e da análise sistemática de um volume massivo de dados de relatórios financeiros e de mercado, por exemplo, ajudando os gestores a identificar padrões e antecipar mudanças sobre o comportamento de ativos e empresas, agregando valor à tomada de decisão.
Os fundos quantitativos vêm crescendo de forma intensa e já representam mais de 30% dos recursos totais sob gestão no mundo – além de já responderem por grande parte do fluxo de ordens de compra e venda feitas nas bolsas, observou Luiz. Na BRAM, mais de 700 ativos em diversas classes e regiões geográficas são monitorados por profissionais especializados com a ajuda da tecnologia quantitativa.
Combinação poderosa – Luiz esclareceu alguns mitos comuns em relação à gestão quantitativa, como o de que seria uma “caixa preta” – o que se mostra o contrário, já que a programação executada pela máquina está registrada, o que colabora para maior transparência e boa governança. Outro mito é de que os dados apenas confirmariam vieses – sendo que a combinação destes com a análise humana é importante para antecipar mudanças de cenário.
O CIO apresentou o processo de “Quantamento” utilizado pela BRAM para alocação de ativos, resultante da associação entre a análise quantitativa e a fundamentalista humana. “Toda a parte histórica, de relação de dados e indicadores, de passado, é feita de forma quantitativa. A parte prospectiva, de futuro, é feita de forma fundamentalista. Só que o nosso futuro, cada vez mais, utilizará indicadores que apontarão se essa previsão está bem alinhada. Então, elas estão cada vez mais interligadas”, explicou.
Benefícios dos sistemas quantitativos – Dentre os benefícios da gestão quantitativa está a construção de portfólios com fronteira eficiente, a partir de mais de 10 mil combinações, considerando os mais adequados conforme a seleção de ativos, limites de tolerância ao risco e expectativa de retorno das entidades. Essa poderosa capacidade de combinação de ativos permite a criação de carteiras robustas, com ativos de baixa correlação e otimização dos custos de proteção, consumindo menos alfa.
Luiz lembrou que essa correlação nem sempre é estável e pode sofrer variações conforme a realidade do mercado, daí a importância da combinação entre o poder de processamento da máquina e a experiência humana, em uma gestão dinâmica. “Sempre precisamos ter o julgamento em relação ao ambiente em que estamos; não vamos só olhar para o passado, mas também avaliar se esse padrão continuará”, ressaltou, concluindo que o valor agregado pela gestão sistemática torna este um caminho sem volta para o mercado.