Nós seremos humanos costumamos temer a mudança, preferimos o que nos é comum do que é desconhecido. Fomos geneticamente programados para evitarmos as mudanças porque em tempos ancestrais isto significava muito risco de vida para nossa espécie. Em termos fisiológicos, a amígdala dentro do nosso cérebro interpreta as mudanças muitas vezes como uma ameaça, e a resposta física do corpo é a liberação de hormônios como cortisol que nos impele a uma resposta para lutar ou fugir de uma situação. Entretanto, o filósofo grego Heráclito nascido 5 séculos antes Cristo disse que: a única constante no Mundo é a mudança. A vida por estar em constante fluxo é por natureza dinâmica, e não estática como gostaríamos que ela fosse.
A lista de grandes mudanças pelo qual mundo passa é enorme, a começar pelas mudanças climáticas que tem afetado todos os países. As mudanças climáticas criam desafios para as sociedades, e para os governos. E este é exato momento em que a economia do mundo e do Brasil se encontram, no limiar de três grandes mudanças que são a Descarbonização, a Desglobalização e nossa Eleição.
A questão das mudanças climáticas também atende pelo nome de Descarbonização, que tem como objetivo manter a temperatura do nosso planeta limitado em 1.5º Celsius acima dos níveis pré-industriais. As maiores economias acordaram em atingir a neutralidade em carbono no ano de 2050, isto é, que todas as emissões de CO2 feitas principalmente por combustíveis fósseis precisam ser compensadas de alguma forma, e uma das maneiras de se fazer isso, é a captura deste carbono pela agricultura e pela preservação ou ampliação de florestas.
Neste tema da captura de carbono, o Brasil novamente está na vanguarda por ter sido um dos primeiros países do mundo a criar a tecnologia dos biocombustíveis para motores que são movidos à etanol da cana de açúcar (Programa Pró-Alcool). Em um trajeto de 1000 km, por exemplo, um sedã médio usando gasolina emite perto 130 kgs de CO2, enquanto um veículo movido a etanol emite perto de 60 kgs de CO2. Isto sem considerarmos, o ciclo produtivo da cana que por si só é capturador de carbono.
Em termos de custos energéticos, o Brasil possui uma competitividade ímpar, considerando se um cenário de energias baseadas em carvão serão cada vez mais caras, dado que a matriz energética brasileira que é em grande parte renovável, e descorrelacionada em termos de preços com as das energias fósseis. A estratégia de investimento da Trígono está posicionada para aproveitar este momento, investindo em empresas que são verticalizadas na produção da energia consumida.
O Covid mudou a economia global para sempre. Ele pode ter sido o ponta-pé para o fenômeno da Desglobalização, isto é, devemos caminhar na direção oposta ao de cadeias mais integradas. A interdependência econômica entre países se acelerou desde o fim da polarização ideológica entre capitalismo e socialismo, sob a qual o mundo vivia até a queda do Muro de Berlim em 1989.
O pragmatismo chinês estabeleceu seu país como o principal fornecedor de baixo custo de todos os bens que as economias principais do mundo ocidental precisavam. A arbitragem na mão de obra que existia entre os trabalhadores ocidentais e os chineses foi a principal alavanca estratégica de inserção da China na economia global. 40 anos se passaram e hoje, o significado de ‘Made in China’ que era sinônimo de ‘mão de obra barata’, mudou drasticamente. Segundo estudo da Oxford Economics de 2016, os custos de mão de obra chineses são apenas 4% mais baixos do que nos EUA, ajustado por fatores de produtividade. O diferencial de custo laboral chinês que existia, quase desapareceu.
O advento do Covid levou ao estresse da cadeia global de fornecimento de produtos vindos da China, seja porque os portos ficaram fechados e seja porque as frotas de navios ficaram ocupadas para atender muitos pedidos colocados ao mesmo tempo, algo jamais imaginado por qualquer empresa ou governo. Isto levou, ao mundo ocidental a repensar seu relacionamento com a China, enquanto fornecedor principal de componentes e bens intermediários. Desde então, o termo que mais se ouve falar é reshoring, que significa que uma empresa que produzia no exterior pretende produzir novamente no seu país de origem, onde os produtos são vendidos.
Claramente, a desglobalização abriu uma oportunidade única para o Brasil, que até então estava atrasado em sua inserção das cadeias produtivas globais. A oportunidade é interessante porque uma vez que as multinacionais façam o deslocamento para uma produção doméstica, elas não irão refazer o caminho inverso tão logo. E como comentamos no tópico da descarbonização, as empresas investidas da Trígono possuem uma nítida vantagem competitiva nos custos de energia, sejam por serem verticalizadas, seja pelo processo produtivo eletrointensivo.
Por fim, nós brasileiros estamos diante de outro momento decisivo para nosso futuro: a Eleição. Independentemente de como seja a atuação do novo governo o que mais se espera é que importantes reformas avancem. Uma simplificação tributária é mais do que necessária para que as empresas possam ficar mais ágeis, quanto maior a competividade das nossas empresas, maior será a riqueza gerada para todos os brasileiros. E retomando ao que mencionamos sobre mudança na abertura, vale lembrarmos uma frase do grande físico Albert Einstein: A medida da Inteligência é a capacidade de mudar. Que possamos continuar olhando para o futuro em 2023, e posicionar nosso país para grandes mudanças que estão acontecendo.
*Shin Lai, Analista de renda variável na Trígono Capital