Não é de hoje que o tema de diversificação de ativos assume um papel de protagonismo na construção de uma carteira de investimentos. Há anos este tema é foco de discussão entre acadêmicos, agentes de mercado e investidores.
A disseminação de conceitos acadêmicos ligados à diversificação de ativos, como por exemplo, a teoria moderna de portfólio, aliado aos diferentes eventos macroeconômicos vivenciados ao longo das últimas décadas, reforçaram ainda mais a importância de não concentrar todos os ovos numa única cesta, e sim diversificar os recursos em diferentes ativos, classes e regiões, de forma a colaborar com a diluição do risco do investidor e diversificar seus rendimentos.
Assumindo que essa é uma premissa bem difundida e estabilizada no ecossistema de finanças e de investimentos, vale destacar, através deste artigo, que, apesar do conceito de diversificação estar devidamente estabelecido, sua forma de execução ainda carece de discussão.
No estágio atual, onde novos instrumentos, estratégias de investimentos e estilo de gestão estão à disposição do investidor, o foco deste texto será pautado em “como fazer”, da forma mais eficiente, a busca de maximizar o retorno e minimizar o risco com a diversificação de uma carteira de ativos.
Sendo assim, será abordado o benefício do uso de diferentes estratégias de investimentos, em especial o uso de investimentos temáticos e estratégia alternativas de geração de renda como instrumento para melhorar a relação de retorno e de risco de uma carteira tradicional.
A evolução das estratégias de investimentos – Antes de iniciar a abordagem referente aos investimentos temáticos e geração de renda alternativa e suas respectivas contribuições frente ao portfólio do investidor, vale revisitar o quanto as estratégias de investimentos vem evoluindo ao longo dos anos, e como isso impacta na pauta de “como fazer” a diversificação de carteiras.
Assim como nos demais segmentos da economia global, o setor financeiro se beneficia do desenvolvimento e do crescimento de novas tendências de mercado, das mudanças das necessidades e do comportamento dos consumidores. Um olhar atento ao mercado de capitais nos últimos anos, é possível observar que as questões tecnológicas, adequações regulatórias e eficiências operacionais vem propiciando o desenvolvimento de uma gama de estratégias de investimento.
Para contextualizar o leitor sobre a evolução de forma resumida, vale citar a linha do tempo da expansão dessa gama de estratégias de investimentos. Por exemplo, no mercado acionário, inicialmente seguia-se a comum estratégia de olhar o tamanho da empresa – o que pode ser traduzido como a capitalização de mercado de uma empresa – ou uma classificação por setor de atuação – consumo, financeiro, energia etc. Ao longo do tempo, foi possível expandir os horizontes do mercado de ações e começou-se a se levar em consideração os fatores de risco das companhias – valor, crescimento, qualidade entre outros – e, mais recentemente, profissionais do mercado de capitais passaram a considerar os temas onde um grupo de empresas faz parte ou se beneficia do desenvolvimento e do crescimento de novas tendências, como, por exemplo, a robótica, energia limpa, saúde digital, blockchain e outros mais.
Esta última tendência, vale destacar, não é exclusivo às estratégias de investimento no mercado acionário. Essa evolução também pode ser notada por meio das estratégias de geração de renda, que originalmente eram concentradas em instrumentos de dívidas, em que sua diferenciação, de forma simplificada, dava-se por risco do emissor, setor, região, prazo etc. Com a evolução do tema, houve a adição de algumas estratégias de renda alternativa como por exemplo distribuição de dividendos de fundos imobiliários – nos Estado Unidos denominados como Real Estate Investment Trusts (REITS) -, ações preferencias americanas, estruturas de participação limitadas – denominadas de Master Limited Partnership (MLP) – que, de forma exemplificativa, podem oferecer renda ao investidor através da locação de dutos e instalações de armazenamento de recursos naturais, como petróleo e gás natural (entre outras).
A importância das Estratégias Temáticas e de geração de renda – É possível caracterizar uma estratégia de temáticas em duas fases, sendo a primeira um processo de identificação de poderosas tendências disruptivas por meio da combinação da análise fundamentalista e setorial (bottom-up), somada à uma segunda parte, que é a abordagem macroeconômica (top down) na escolha de ativos que podem se beneficiar da consolidação dessa tendência.
Por natureza, o investimento temático é uma estratégia de longo prazo, orientada para o crescimento, que é tipicamente irrestrita geograficamente ou por classificações tradicionais de setor / indústria, tem baixa correlação com outras estratégias e que investe em conceitos relacionáveis ao tema.
Dentre os temas relacionados, é possível citar alguns bem populares, como segurança da informação, robótica, energia limpa, lítio e baterias, urânio, medicina digital, sequenciamento genético e blockchain.
Já para o caso da estratégia de renda alternativa, este segmento visa obter rendimento fora das fontes de renda tradicionais, como, por exemplo, em títulos do tesouro, títulos corporativos e ações de dividendos blue-chip. Com isso a renda alternativa busca aumentar o rendimento de uma carteira, diversificar as exposições e, em muitos casos, também oferecer potencial de crescimento.
Neste âmbito, podemos considerar como destaques em estratégias geradoras de renda alternativas, produtos como ações preferenciais, covered calls, empresas pagadoras de altos dividendos, estruturas de participação limitadas (MLP) e empresas ligadas ao setor imobiliário (REITS).
Investimento temático e de geração de renda alternativa como novas fontes de diversificação frente uma carteira tradicional – A diversificação entre classes de ativos continua a ser fundamental para uma composição de uma carteira de investimentos sólida e saudável. Nos Estados Unidos, a adoção da tradicional carteira 60/40, onde 60% da alocação está em ações e 40% em renda fixa, é muito comum. Esse tipo de estratégia ganhou destaque nos últimos anos por apresentar bons resultados ajustado ao perfil de risco do investidor.
Entretanto, olhando para frente, a simples diversificação entre renda fixa tradicional e ações (como uma carteira 60/40) pode não ser tão eficaz em determinadas variações dos cenários econômicos. Neste sentido, na tentativa de mitigar os riscos e maximizar os retornos, o investidor precisar considerar outras fontes de diversificação, utilizando classes e estratégias de ativos não correlacionadas.
Neste contexto, destacam-se tanto a estratégia de geração de renda alternativa, como a estratégia temática, que trazem elementos de solução viável para mitigar os desafios enfrentados pela geração de renda e, subsidiariamente, podem complementar a alocação em ações mais tradicionais, ao investir em ativos que podem se beneficiar da consolidação de tendências seculares.
Para fins educacionais e ilustrativo, realizou-se uma simulação de alocação comparativa entre carteiras com estratégias tradicionais de ações e de geração de renda frente às carteiras que contavam com o acréscimo de estratégias temáticas e de geração de renda alternativa. Essa simulação teve como objetivo verificar a eficiência da relação de retorno e de risco entre esses dois modelos.
Primeiramente, utilizou-se a estratégia 60/40 como carteira tradicional, onde 60% refletem um índice de ações globais1 e 40% seguem um índice de renda fixa global2, e comparou a mesma com uma estratégia 60/40 ajustada, onde 5% pertencente aos 60% foram distribuídos de forma igualitária entre 4 estratégias temáticas – infraestrutura americana3, lítio e bateria4, internet das coisas5 e cobre6 – e 5% pertencente aos 40% foram distribuídos de forma igualitária entre 2 estratégias de renda alternativa – ações preferenciais7 e Real Estate Investment Trusts (REITS)8.
As tabelas abaixo ilustram a composição das 2 carteiras.
A seguir, antes de efetuar a comparação da simulação entre as duas carteiras, com intuito de melhor avaliar e ilustrar o efeito de diversificação, realizou-se a análise de correlação entre todos os ativos.
Como observado na tabela acima, os ativos apresentam correlação inferior a 1, o que reforça a questão do benefício da diversificação entre ativos.
Por fim, foi realizado uma simulação de performance e de risco para as duas carteiras num período de 3 anos, e comparou-se as métricas de retorno, volatilidade e índice de Sharpe.
A simulação acima demonstra que, para o período avaliado e ativos selecionados, a inclusão do uso de diferentes estratégias de investimentos – temático e renda alternativa – contribuiu para uma melhora da relação de retorno e risco, conforme apontado pelo indicador de índice de Sharpe.
Dessa forma, é possível concluir que, considerando que o conceito da diversificação está devidamente estabelecido como uma ferramenta essencial para a composição de uma carteira de investimentos, tem-se que novos instrumentos, estratégias de investimentos e estilo de gestão que surgem de tempos em tempos são fundamentais para a aprimoração do “como fazer” este modelo de diversificação. O constante debate quanto ao uso dessas novas fontes de diversificação mostram que a busca para encontrar formas mais eficientes de maximizar o retorno e minimizar o risco de uma carteira de ativos é uma preocupação recorrente de gestores e investidores. Uma das soluções, conforme discorrido por meio do conteúdo educacional e ilustrativo deste artigo, mostrou-se que o foco nas estratégias temáticas e de geração de rendas alternativas podem trazer diversos benefícios para a composição de uma carteira de investimento, em especial na mitigação de risco e na potencialização de rendimento.
*Rodrigo de Araújo, Estrategista-chefe de investimentos da Global X ETFs para América Latina
Notas
[1] Ticker MXWD – MSCI ACWI INDEX
[2] Ticker LEGATRUU – Bloomberg Global Aggregate Total Return Index Value Unhedged USD
[3] Ticker PAVE US – Global X U.S. Infrastructure Development ETF
[4] Ticker LIT US – Global X Lithium & Battery Tech ETF
[5] Ticker SNRS US – Global X Internet of Things ETF
[6] Ticker COPX US – Global X Copper Miners ETF
[7] Ticker PFFD US – Global X U.S. Preferred ETF
[8] Ticker SRET US – Global X SuperDividend REIT ETF