Cenários e tendências na economia mundial
A economia mundial passa por um momento de turbulências com a guerra russo-ucraniana e as tensões geopolíticas entre China e Estados Unidos. Além disso, inflação e desaceleração da atividade econômica também se descortinam no horizonte próximo.
Entretanto, vale dizer que tais solavancos fazem parte de um quadro maior, no qual se inserem importantes transformações que devem alavancar novos ciclos de crescimento. A mais importante de tais transformações talvez seja o processo de empoderamento econômico e político nos países emergentes, os quais também podem ser conhecidos como BRICS+. Capitaneados por China e Índia, tais países se beneficiaram da globalização produtiva ocorridas nas últimas décadas e lograram construir capacidades econômicas que agora os colocam como atores relevantes na arena global.
Vivemos, também, um momento de frenesi nas inovações tecnológicas, as quais devem apontar para um crescimento de setores liderados pela inteligência artificial, biotecnologia e novas fontes de energia.
Assim sendo, há bons motivos para se vislumbrar uma economia internacional dinâmica e um tanto mais policêntrica se comparada com as últimas três décadas.
Portfólios globais: diversificação de riscos com ETFs
Neste ponto, é relevante afirmar que a internacionalização produtiva traz consigo a internacionalização financeira, isto é, a construção de portfolios com ativos descentralizados pelo globo. Mais do que uma decorrência natural, tal fenômeno se mostra como necessário no sentido de diversificar riscos.
Segundo a teoria do portfólio de Markowitz, a diversificação de uma carteira em investimentos descorrelacionados pode não só dirimir riscos como trazer uma alocação eficiente com retornos estáveis. Mais que isso, deverá ocorrer um deslocamento da fronteira eficiente de retornos, permitindo maiores ganhos dados os mesmos níveis de risco, conforme se verifica no gráfico abaixo.
É neste ponto que os fundos de investimento e, sobretudo, os ETFs, são importantes para efetivar tais resultados. Com cerca de 6 trilhões de dólares a indústria de ETF ainda dá seus primeiros passos se comparada à de fundos mútuos, que possui sob seu arcabouço cerca de 40 trilhões de dólares.
Isto significa que ainda há significativo espaço para crescimento e, certamente, a curva dos ETFs é ascendente, como se pode ver no gráfico abaixo. Mesmo apesar de turbulências e incertezas que vem caracterizando a economia global e, particularmente, a norte-americana, o mercado de ETFs segue em crescimento.
Um dos fatores que explicam tal comportamento dentro do mercado dos Estados Unidos da América é a eficiência fiscal dos ETFs. Diferentemente de outros fundos de investimento, a construção dos ETFs permite que os investidores, geralmente, não precisem pagar imposto sobre ganhos de capital até que realmente o vendam.
Mas o fenômeno não se restringe somente aos benefícios fiscais. Sua praticidade, liquidez e eficiência fazem com que os ETFs tenham tido rodadas sucessivas de crescimento global. Seus mercados são líquidos e dotados de uma comercialidade ágil, tornando sua distribuição mais difundida. Qualquer pessoa física pode comprar um ETF presente nas grandes bolsas de valores, geralmente com custos de administração muito baixos.
Seu apelo global é demonstrado no Gráfico 3, no qual, com exceção dos mercados da Europa, Oriente Médio e África (EMEA), tem havido um crescimento mundial, ainda que no caso da APAC (Ásia -Pacífico) ele se mostre um tanto mais tímido.
A flexibilidade dos ETFs é outro ponto de destaque. Devido ao fato de serem fundos de índice, ou seja, são elaborados de modo a refletir o desempenho de benchmarks importantes como bolsas de valores, índices de renda fixa ou índices globais de referência no mercado, os ETFs se constituem amplamente como estratégias de investimento passivas e de baixo custo. A grande maioria dos 9 trilhões de dólares de ativos da indústria estão de fato em tais indexadores. Entretanto, pode-se dizer que o ETF evoluiu para algo além do que um simples fundo passivo do século XXI.
Em outras palavras, não se constitui na próxima moda do mercado ou um mero frenesi gerador de bolhas especulativas. Na realidade, trata-se de uma espécie de cesta adaptável a todo o tipo de estratégias de investimento, sendo capaz de empacotar praticamente qualquer mercado em blocos de risco comercializáveis, como se fossem peças de um quebra-cabeças ou tijolos de uma construção bem-sucedida. Nesses pacotes é possível existirem ações chinesas, conjuntos de empréstimos bancários, indexadores de bolsas de valores ou créditos de carbono. Hoje em dia, quase todo ativo negociável pode ser colocado numa estrutura de ETF.
Com essa facilidade de criação de novos produtos, é cada vez mais importante observar qual estratégia de investimento está sendo construída com cada ETF, e qual o índice seguido e os ativos subjacentes o investidor está se expondo.
Considerações finais
Os ETFs, portanto, se apresentam como alternativas importantes de alocação de recursos. Pensemos no caso de investidores de longo prazo, como fundos de pensão, que buscam uma estratégia que maximize o retorno financeiro, minimizando os riscos de perda. Para alcançar esse objetivo, a alocação global de ativos é essencial, pois permite uma diversificação geográfica e de setores, reduzindo a exposição a riscos específicos de um país ou indústria.
Outro ponto importante é a escolha da gestão passiva. Estudos mostram que gestores passivos superam gestores ativos em mais de 90% das vezes em períodos acima de 10 anos. A gestão passiva obtém tal resultado exatamente por ser baseada na replicação de um índice de referência, como já mencionamos, o que significa que o gestor não tenta superar o mercado, mas sim acompanhar seu desempenho.
Para implementar a alocação global com gestão passiva, os ETFs (Exchange-Traded Funds) são o instrumento mais eficiente em termos de custos e transparência. Os ETFs são fundos de investimento que são negociados como ações na bolsa de valores, e replicam um índice de referência, com retornos positivos e estáveis no longo prazo. Além disso, oferecem transparência total das alocações pois o investidor pode ver a composição da carteira a qualquer momento, e não há surpresas em relação aos ativos investidos.
Adicionalmente, a diversificação é um ponto chave na gestão de riscos, e os ETFs trazem a diversificação embutida nos produtos, simplificando a gestão de riscos para o alocador. Com apenas alguns ETFs, é possível ter uma carteira bem diversificada, que inclui ativos de diferentes países, setores e classes de ativos, reduzindo significativamente o risco da carteira.
Em resumo, a alocação global é necessária para investidores de longo prazo como fundos de pensão. A gestão passiva é o caminho mais eficiente para seguir, e os ETFs são o instrumento mais adequado para implementar essa estratégia. Com a diversificação presente nesses fundos, a gestão de riscos é otimizada, trazendo segurança e rentabilidade para o investidor.
*Cauê Mançanares é CEO da Investo