O setor de previdência complementar no Brasil tem enfrentado um período de transformações significativas, impulsionado por mudanças demográficas, econômicas e regulatórias.
O Brasil conta com uma população idosa que saiu de 11,3% em 2012 para 15,1% em 2022 segundo o IBGE e um sistema de previdência social pressionado (representando 40% do total de despesas primárias públicas) que registrou um crescente interesse pela previdência complementar (aberta e fechada), que atualmente representa R$ 2,4 trilhões em ativos e cobre de forma complementar a renda futura de pouco mais de 18 milhões de pessoas. A Reforma da Previdência, consolidada nos últimos anos, trouxe novas realidades para trabalhadores e aposentados, aumentando a necessidade de planejamento de aposentadoria individual.
Globalmente, o mercado de previdência complementar é diversificado e robusto, com países desenvolvidos apresentando uma alta penetração desses serviços, mas com desafios permanentes, já que a expectativa de vida continua a aumentar. Dados de pesquisa realizada pela OCDE registram que somente as Entidades Fechadas de Previdência atingiram patamar mundial superior a US$ 35 trilhões em reservas. Na Europa, sistemas como o do Reino Unido e da Holanda são notáveis pelo alto grau de cobertura e pela sofisticação dos produtos oferecidos e pela inscrição automática dos trabalhadores a um plano de previdência complementar privado. Nos Estados Unidos, um ponto de destaque, que retrata uma tendência para o Brasil, é que o índice de cobertura dos planos de previdência corporativa é de 85% para empresas de grande porte e 53% para empresas com menos de cem funcionários (segundo matéria do Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia).
No Brasil, o setor tem mostrado um crescimento constante nos últimos 5 anos. Em termos de números, o mercado brasileiro de previdência complementar deve fechar o ano de 2023 com crescimento de cerca de 9% na previdência aberta e de 5% na previdência fechada. Este crescimento é impulsionado tanto pela conscientização das pessoas quanto pela melhoria do quadro regulatório e da oferta de produtos, mas está longe de representar todo o potencial e a necessidade latente de formar reservas que sustentem um futuro adequado a todos. Na conjugação do contexto atual e dos números, temos escancarada uma grande oportunidade de crescimento do setor.
Tendências:
- Crescimento do Mercado: Espera-se que o mercado de previdência complementar continue crescendo em 2024. Com a estabilidade econômica gradual, investidores estão buscando alternativas para complementar a aposentadoria, vislumbrando planos de previdência privada como uma opção atrativa e que é potencializada pelos incentivos tributários, os quais podem ser ampliados, dados os projetos em tramitação no governo.
- Diversificação de Produtos: O setor tem se diversificado em termos de prestação de serviços oferecidos. Planos mais flexíveis e adaptados às necessidades individuais, estão em ascensão, mesmo que ainda tímidos no que diz respeito as evoluções regulatórias. Além disso, espera-se uma inovação contínua em produtos que facilitem e atraiam também as empresas como agentes de incentivos previdenciários dentro de suas políticas de gestão de pessoas.
- Tecnologia e Inovação: A tecnologia continua desempenhando um papel crucial na personalização e gestão de planos de previdência. Em 2024, a evolução tecnológica, especialmente no campo da segurança da informação, da inteligência artificial e da hiperautomação, configurará um novo paradigma no setor de previdência complementar no Brasil. Essas inovações não apenas aumentam a eficiência operacional e a segurança, mas também melhoram a experiência do cliente, oferecendo serviços mais personalizados e acessíveis. No que diz respeito a Segurança da Informação, devem estar na pauta das Entidades de Previdência temas como: Proteção de Dados e Transações, Criptografia Avançada, Autenticação Multifatorial e Prevenção de Fraudes, trazendo para as entidades protocolos de segurança de última geração para garantir a confidencialidade e a integridade dos dados dos clientes participantes. Já na aplicação de Inteligência Artificial, o foco tende a ser a personalização e eficiência. Temas como Chatbots e Assistência Virtual alimentados por IA para interação com os clientes oferecendo respostas rápidas e personalizadas a consultas gerais, ajudando na gestão de dúvidas sobre planos de previdência, educação e processos de aplicação e termos de política. Ainda, a IA deve contribuir para Análise Preditiva permitindo às entidades de previdência oferecerem portfólios personalizados e conselhos baseados em padrões de poupança e perfil de risco do cliente. A IA também proporcionará a Industria de previdência ser mais eficiente, com a redução de tarefas repetitivas e a geração de conteúdos mais relevantes aos seus clientes, por exemplo. Por fim, a indústria financeira ainda está passando por transformações significativas que envolvem hiperautomações, aceleradas pelo Openfinance e pelo PIX, que exige empresas mais conectadas, mais automatizadas, para viabilizar distribuições em plataformas, conexão com outros ecossistemas, tornando toda e qualquer empresa transversal. Em 2024 devemos ter o início da ascensão dos Super Apps, que integrarão todo o sistema financeiro atual, considerando Criptoativos, Moedas Digitais e economia Tokenizada. Como resultado, espera-se que o setor prospere em um ambiente cada vez mais digital e orientado a dados.
- Regulamentação e Governança: Há uma expectativa de que o governo continue aprimorando o quadro regulatório para garantir maior segurança e transparência no setor. Isso inclui medidas para melhor governança, gestão de riscos, proteção ao investidor, novos incentivos tributários e uma agenda mais intensa de fomento. No aspecto da Governança observamos um forte movimento para iniciativas ESG, descarbonização da economia e este cenário não passará despercebido pelo Sistema de Previdência Complementar, que é um grande fomentador da economia nacional e mundial.
- Educação Financeira e Conscientização: Com a complexidade dos produtos de previdência e a importância do planejamento de longo prazo, cresce a necessidade de educação financeira. Iniciativas para aumentar a conscientização sobre a importância da previdência complementar são fundamentais para o crescimento sustentável do setor. O Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicaram resolução dia 26/12/2023 detalhando medidas a partir de 1º de julho de 2024, onde as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil deverão adotar medidas de educação financeira direcionadas a seus clientes e usuários pessoas naturais, incluindo empresários individuais. Essas medidas darão luz a necessidade de poupança de longo prazo.
Será um ano também de desafios para o setor, especialmente focados no impacto da “Volatilidade Econômica”, dado que o cenário econômico incerto pode impactar as decisões de investimento e a confiança dos poupadores e dos desafios inerentes a “Longevidade e Sustentabilidade”, uma vez que o aumento da expectativa de vida exige que os planos sejam sustentáveis a longo prazo, um desafio significativo e permanente do setor.
As perspectivas para o setor de previdência complementar no Brasil em 2024 são de crescimento, sustentação e evolução contínua. Apesar dos desafios da formação de poupança de longo prazo, a tendência é de um mercado mais robusto, diversificado e tecnologicamente avançado. É essencial que haja um esforço conjunto entre reguladores, operadores do setor e consumidores para assegurar um futuro mais estável e seguro para todos os brasileiros.
Expectativas da Quanta Previdência:
Sustentados por todas essas tendências que já fazem parte do modelo de gestão ambidestra da Quanta Previdência, nossa expectativa de crescimento para 2024 é arrojada e coloca a Instituição na vanguarda do segmento. Em evolução patrimonial o objetivo é crescer 32%, alcançando R$ 9 bilhões em reservas, um desafio de captação superior a 90% do volume captado em 2023. Já em número de participantes o alvo é alcançar 228 mil participantes, um crescimento de 23% em relação a base atual. Dentre os projetos estratégicos estão o lançamento da plataforma aberta de educação Acqua, que ocorreu em 11/2023 a consolidação do novo plano de previdência corporativo Cooprev, ancorado numa estratégia de distribuição em rede, lançamento de mais dos novos perfis/modalidades de investimentos e investimentos intensos em tecnologia, inteligência artificial, segurança da informação.
A Quanta Previdência é uma Entidade Fechada de previdência complementar, criada em 2004, administradora de planos de previdência para cooperativas, associações e empresas.
*Denise Maidanchen é CEO Quanta Previdência Cooperativa