No Brasil, o Copom optou, de forma unânime, pela manutenção da taxa básica de juros em 10,50% a.a. A decisão de pausar o ciclo de corte de juros, após uma sequência de sete reduções sucessivas, veio em linha com as expectativas do mercado: segundo o boletim Focus divulgado em 21/jun, o mercado projeta que a Selic permaneça no atual patamar até o fim de 2024.
A decisão é justificada pela cautela quanto ao cenário externo, já que a persistência da inflação global tende a impactar o cenário de preços do mercado interno, onde a atividade econômica também segue resiliente. Além disso, o tema fiscal e a mudança na presidência do banco central seguem no radar dos analistas do mercado, o que contribui para as expectativas quanto à necessidade de uma taxa de juros estável para a convergência da inflação à meta.
No cenário internacional, o banco central americano decidiu manter os juros básicos inalterados, entre 5,25% e 5,50% ao ano; segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, os dados da inflação dos Estados Unidos ainda estão em um patamar elevado e o ritmo de crescimento da economia ainda é sólido.
Nesse contexto, a Bolsa tem perdido atratividade entre os investidores, com o Ibovespa recuando frente aos principais índices globais no desempenho de 2024. Nesse sentido, parte dos investidores locais continua optando por alocar em renda fixa, enquanto parte dos investidores estrangeiros tem migrado seu capital para mercados emergentes que apresentem maior valorização e menor risco interno.
Dessa forma, se, por um lado, o pessimismo com a Bolsa apresenta uma oportunidade para a entrada em ativos que estão descontados, por outro, as incertezas quanto aos juros futuros tendem a seguir pressionando a renda variável local. Neste ambiente de investimentos, em que o investidor brasileiro precisa considerar diversas variáveis que contribuem para o risco local, a alternativa para compor um portfólio equilibrado em termos de risco e retorno é a diversificação internacional.
Atualmente, o Brasil representa menos de 1% do mercado de renda variável global, ou seja, ao investir apenas localmente os investidores deixam de se expor aos grandes ativos que estão fora do Brasil, muitas vezes inseridos em economias mais estáveis, como a dos Estados Unidos. Um exemplo é o setor de tecnologia, que contribuiu fortemente para o desempenho da bolsa americana neste ano, mas que ficou de fora do portfólio de grande parte dos investidores brasileiros em função da baixa presença deste segmento entre os ativos locais.
Fonte: SIFMA (Securities Industry and Financial Markets Association).
Quanto à diversificação geográfica, segundo divulgado pelo Valor Econômico, entre os índices de ações que tiveram o melhor desempenho em 2024, em reais, estão o Merval (Argentina), Bist 100 (Turquia), Nasdaq e S&P 500 (Estados Unidos), Nikkei (Japão), entre outros. Vemos, portanto, que quanto mais diversificada for a alocação dos investidores, maior a possibilidade de garantir a rentabilidade do portfólio, especialmente em momentos de maior incerteza e ruídos.
Fonte: Valor Econômico. Considera o desempenho em 2024 até o dia 20/06/2024.
Nesse sentido, os ETFs (Exchange Traded Funds) surgem como uma solução ideal para trazer diversificação internacional de forma eficiente ao portfólio, facilitando a exposição a diferentes setores e geografias de uma só vez. A vasta maioria dos fundos negociados em bolsa de valores seguem os chamados índices de mercado; os índices, por sua vez, são compostos por uma vasta cesta de ativos, o que reduz o risco atrelado a determinado setor ou empresa.
Dessa forma, ao invés do stock picking – estratégia de investimento que se baseia em analisar e escolher individualmente os ativos com maior potencial de valorização – os investimentos em ETFs visam acompanhar o crescimento econômico dos diferentes mercados de forma diversificada e simples. Como exemplo, o WRLD11 é um ETF que oferece exposição a mais de 9 mil empresas globalmente, com aproximadamente 60% de exposição ao mercado americano, 30% a mercados de outros países desenvolvidos e 10% a mercados emergentes. Ou seja, por meio de um único ativo os investidores podem capturar o crescimento de diversas economias e setores, desde tecnologia nos Estados Unidos até indústrias em crescimento na Ásia, além do tradicional mercado de commodities, relevante em países emergentes como o Brasil.
Fonte dos dados: Quantum | Elaboração do gráfico: Investo. Dados do WRLD11 foram substituídos pelo seu equivalente no mercado americano em BRL.
Por causa de sua estratégia passiva, os investimentos em ETFs que acompanham índices de mercado demandam um menor custo, já que não é necessário o acompanhamento de centenas de empresas inseridas em seus respectivos mercados, nem é preciso que o investidor faça uma série de operações de compra e venda dos ativos na carteira. Para além da eficiência, é um investimento altamente transparente: a qualquer momento o investidor consegue acessar todos os ativos que compõem um certo índice e qual a participação de cada um deles no ativo.
No entanto, a vantagem mais significativa do ETF é o seu desempenho no longo prazo. Segundo pesquisa da S&P Dow Jones Indices, 74% dos fundos de renda variável do Brasil perderam para os seus respectivos benchmarks no período de um ano; no longo prazo, considerando dez anos, o percentual salta para 92%. Vemos, portanto, que a diversificação, atrelada a uma estratégia de longo prazo, garantem um portfólio resiliente e potencialmente rentável.
Para investidores de longo prazo, como fundos de pensão, a diversificação internacional é fundamental. A gestão passiva representa a abordagem mais eficiente, com os ETFs sendo os veículos mais adequados para essa estratégia, proporcionando uma maneira eficaz, econômica e transparente de alcançar uma exposição global robusta. Com a diversificação embutida nesses fundos, a gestão de riscos é melhorada, trazendo ao investidor uma combinação de segurança e rentabilidade. Num ambiente macroeconômico carregado de incertezas, adicionar ETFs globais ao portfólio é uma medida necessária para proteger e potencializar os investimentos.
*Cauê Mançanares é CEO e Sócio-Fundador da Investo