Nova edição da Revista: Vagner Lacerda fala sobre economia da longevidade e como as EFPCs devem adaptar suas estratégias a essa nova realidade*

*Edição n° 453 (julho e agosto de 2024) da Revista da Previdência Complementar – publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.

 

Entrevista com Vagner Lacerda, por Rejane Tamoto

A longevidade traz oportunidades para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). O aumento da expectativa de vida de participantes e beneficiários é uma realidade, e a oferta de produtos e serviços pode ser uma estratégia para que os pagamentos de benefícios possam retornar ao sistema via o consumo dos aposentados. Esse círculo virtuoso faz parte da economia da longevidade, conceito que abrange toda a jornada de envelhecimento das pessoas e que faz parte da tese de doutorado “Risco de Longevidade e Estratégias de Proteção em Fundos de Pensão Brasileiros”, de Vagner Lacerda, Vice-Presidente da Associação Brasileira do Cidadão Sênior (Abracs), membro do Conselho dos Direitos do Idoso do Distrito Federal, Mestre em Economia e Doutor em Gerontologia. Por mais de uma década, Lacerda acumulou passagens pelos Conselhos de entidades como Previ, Cassi e Economus, além de ter sido conselheiro fiscal da Abrapp e do Sindapp.

O especialista avalia que as EFPCs devem se preparar para participar da economia da longevidade, que é um ganho social. “O conceito de benefício que as entidades geram não pode ficar limitado à entrega de pagamentos. É preciso ir além e entender como desenvolver mecanismos que possam cuidar das pessoas e apoiá-las em toda a jornada”, afirma. Na entrevista a seguir, Lacerda define a economia da longevidade, suas oportunidades, e como as EFPCs devem adaptar suas estratégias a essa nova realidade demográfica. Confira a seguir:

 

Poderia explicar o conceito e o tamanho da economia da longevidade no Brasil?

Vagner Lacerda: A economia da longevidade foi conceituada pela primeira vez pela Oxford Economics em 2007. Ela se refere ao consumo de produtos e serviços por pessoas acima de 50 anos e abrange uma vasta gama de serviços, desde saúde até produtos de consumo diário. A estimativa é que essa economia movimente cerca de R$ 1,6 trilhão no Brasil. Hoje, o valor de pagamentos de benefícios anuais pelo sistema de previdência fechada é significativo, de R$ 90 bilhões.

Negócios ligados à economia da longevidade são importantes para que esses valores pagos em benefícios possam retornar ao sistema de Previdência Complementar. A França e outros países europeus lideram a criação de produtos e serviços para apoiar a jornada do envelhecimento e buscam ser pioneiros globais nesse setor.

 

Quais são os desafios para que a longevidade seja um ganho social?

Vagner Lacerda: Um desafio é a mudança cultural e de mentalidade, tanto dos gestores quanto dos participantes e beneficiários dos planos de Previdência Complementar. Outro é a necessidade de políticas públicas que compreendam as necessidades dos idosos e incentivem os investimentos voltados para essa parcela da população. Envelhecer é um ganho social e será necessário construir uma agenda que proteja as pessoas porque o risco de longevidade não é só um problema dos fundos de pensão, mas um problema social.

É importante viver muitos anos, mas com qualidade de vida, sustentabilidade financeira e com políticas públicas que possam arcar com essas despesas, inclusive com a geração de empregos para essa população.

 

Quais são as principais demandas dessa população?

Vagner Lacerda: É preciso desenvolver serviços para os aposentados que enfrentam fragilidades como solidão, depressão e violência. Para as mulheres, há desafios adicionais, principalmente para aquelas que tiveram filhos por volta dos 40 anos e vivem o fenômeno conhecido como a “agenda sanduíche”. São mulheres que cuidam ao mesmo tempo de filhos adolescentes e de pais idosos. Essa dupla responsabilidade recai sobre 80% a 90% das mulheres, que ainda cuidam de sogros e sogras.

Esse é um problema social que vai além do sistema de previdência fechado. Outro ponto é preparar os jovens para cuidar das gerações mais velhas. Tais desafios apresentam uma oportunidade para as entidades fechadas de previdência assumirem um papel de protagonismo. Ao desenvolverem mecanismos de apoio legítimo para seus participantes e beneficiários, podem não apenas ajudar seus membros, mas também influenciar o mercado e o Estado a adotarem práticas semelhantes.

 

Isso significa que as entidades devem se posicionar o quanto antes para fazer parte da economia da longevidade?

Vagner Lacerda: Sim, porque o conceito engloba o desenvolvimento de uma economia que acompanhe a jornada do envelhecimento de forma integrada, oferecendo soluções que evoluam com as necessidades das pessoas ao longo do tempo. Para as entidades de previdência é uma oportunidade fantástica. Diferentemente dos bancos, que muitas vezes perdem clientes para concorrentes, os fundos de pensão têm a vantagem de acompanhar os associados durante toda a sua vida laboral e pós-laboral.

As entidades devem planejar estratégias de investimentos para começar a garantir a sustentabilidade no longo prazo. Não podemos esperar o saldo das reservas acabar e as pessoas viverem mais do que o esperado. Muitas entidades de previdência estão abraçando essa agenda com coragem, posicionando-se não apenas como investidores, mas como facilitadores dessa economia. É necessário que as fundações entendam, por meio de pesquisas qualitativas e quantitativas, como seus participantes e beneficiários estão vivendo e envelhecendo, se precisam de cuidadores, se têm relacionamentos familiares, se vivem sozinhos ou não.

Nesse contexto, acredito que parte dessas informações podem ser pesquisadas pelas entidades e parte pelo sistema Abrapp.

 

(Continua…)

 

Clique aqui para ler a entrevista completa na íntegra

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