*Edição nº 457 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.
Por Martha Elizabeth Corazza
Renda variável: o dilema do juro e o risco de abandonar a diversificação – O movimento de redução do risco nas carteiras dos fundos de pensão brasileiros, com a saída de recursos principalmente da renda variável, ganhou maior impulso no final de 2024 diante das incertezas no cenário global e do aperto monetário que trouxe perspectiva de juro ascendente. A despeito do juro real de até 8%, que faz a renda fixa ser a indiscutível protagonista das carteiras em 2025, as estratégias que combinam bolsa local com a proteção do investimento no exterior foram variáveis relevantes desde o ano passado até o final de março deste ano. No mercado local, ganharam destaque as empresas que são boas pagadoras de dividendos.
Proteção com ações globais – Apesar da atratividade do juro, a gestão dos investimentos da Valia segue diversificando cada vez mais, principalmente nos planos que adotam o modelo ciclo de vida. Nesse caso, a depender da idade do participante, a carteira chega a ter 65% dos ativos alocados em renda variável, o que faz sentido para os mais jovens, conta Maurício Wanderley, Diretor de Investimentos da entidade.
No consolidado de todos os planos da fundação, a renda fixa ocupa o maior percentual, perto de 60% dos ativos totais, devido ao peso das obrigações de Benefício Definido. Mas a alocação em renda variável global, que reúne bolsa brasileira e bolsas internacionais, é o principal ponto de diversificação tanto no ciclo de vida quanto nos perfis que podem ter um percentual de bolsa em suas carteiras.
Hoje há oito ciclos oferecidos de acordo com o potencial ano para a aposentadoria: desde o ciclo 2025, para os que estão muito próximos de se aposentar, até o ciclo 2060, para os mais jovens. O ciclo de vida é o desenho “default”, ou seja, todos os novos participantes que chegam à fundação vão para esse modelo, com 65% de ações. Todos têm uma parcela de até 10% em investimento no exterior e, na renda variável, 50% em gestão ativa e 50% em uma carteira indexada ao Ibovespa. “Em 2024, a gestão ativa sofreu mais, porém, a parcela de investimento em bolsa no exterior compensou parte das perdas com a bolsa local”, diz Wanderley.
A fundação opera atualmente no limite máximo permitido pela legislação para alocar no exterior, que é de 10% dos ativos totais. “Acreditamos que essa diversificação seja a estratégia mais adequada para o longo prazo”, explica o Diretor.
No modelo de perfis de investimento, são oferecidas cinco opções: desde o perfil mais conservador, que aloca 100% dos ativos em renda fixa atrelada ao CDI, até o mais arrojado, que chega a ter 60% de renda variável. De acordo com o dirigente, a migração de participantes entre os diversos perfis, com a intenção de fugir do risco, não tem sido tão relevante na entidade. O maior perfil atualmente é o moderado, que prevê 20% de renda variável. No perfil de CDI, que investe exclusivamente em renda fixa tradicional, ficam apenas os participantes que estão à beira da aposentadoria.
Nos perfis, as parcelas permitidas para investimento em ações são definidas como “renda variável global” porque abrangem tanto o mercado local quanto um percentual de bolsas internacionais. As posições nos fundos multimercados estão sendo reduzidas de modo expressivo, ainda que com calma, detalha o Diretor de Investimento. Ele lembra que a fundação segue acreditando no produto, mas faz um movimento tático. “O mercado está muito difícil e o juro muito alto”, justifica.
Ao encerrar 2024 com rentabilidade positiva em todos os seus planos, a Valia registrou também um desempenho que é ainda mais relevante: a solvência de todas as suas obrigações de Benefício Definido, avalia Wanderley. “Podemos dizer que se o ano passado não foi brilhante para os investimentos, foi muito bom em termos de resultados”, afirma.
Ele enfatiza que o plano BD da fundação já distribuiu R$ 7 bilhões em superávit desde 2008. “Além desse valor, o plano pagou o que apareceu no seu contencioso e tudo foi absorvido pelos resultados positivos dos investimentos”, diz. Em 2025, Wanderley vê o juro ainda como o grande fator a contribuir para a rentabilidade dos planos e a fundação estuda a possibilidade de adotar a marcação de títulos públicos na curva.
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