Nova edição da Revista: Modelo que ajusta carteiras ao longo do tempo avança na América Latina e desafia entidades fechadas a adotarem critérios mais sofisticados no Brasil*

*Edição nº 459 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp, UniAbrapp e Conecta

 

Por Martha Elizabeth Corazza

Ciclo de vida transforma lógica dos perfis de investimento – Uma tendência ganha força rapidamente nos sistemas de Previdência Complementar em todo o mundo, com impulso em diversos países da América Latina: são os perfis de investimento, que definem o risco das alocações de acordo com os ciclos de vida/ target date. O modelo é considerado um passo à frente do clássico desenho que oferece diferentes graus de risco a serem escolhidos pelo participante.

Esse movimento, iniciado nos Estados Unidos e no Reino Unido, já chegou à América Latina. No México, o desenho foi implementado há cinco anos, informa Carolina Felix, consultora, especialista da UniAbrapp e pesquisadora associada à Pensión Research & Consulting. “Atualmente, o modelo está em fase avançada no Chile, onde foi aprovado como parte da reforma previdenciária, com implementação prevista para abril de 2027”, detalha Felix. Colômbia e Costa Rica também incorporaram essa alternativa em seus processos reformadores.

Considerada a principal tendência nos sistemas previdenciários complementares globais, a abordagem ciclo de vida vem se consolidando como uma solução para ajustar automaticamente os perfis de risco dos participantes, sem exigir uma escolha ativa. “Para muitas pessoas, essa é uma decisão difícil. O ciclo de vida retira essa responsabilidade do participante, transferindo-a ao gestor, que aloca os recursos conforme critérios como idade e apetite ao risco”, explica a consultora.

No Brasil, onde a opção já está disponível, falta um novo olhar para ampliar sua adoção pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs). “A linguagem ainda é um pouco difícil para alguns compreenderem. No diálogo com os participantes, as entidades precisam assumir o papel de especialistas que fazem uma recomendação e incentivam a adoção do ciclo de vida”, afirma Felix.

Novos critérios – Há outros critérios além da idade que podem facilitar a compreensão e aproximar o investimento do cotidiano do participante, elementos esses que começam a ser incorporados à medida que o modelo fica mais sofisticado: salário, capital humano e riqueza acumulada.

Saber se o participante possui um patrimônio fora do plano de benefício, por exemplo, é um dos critérios já utilizados para definir o risco no México. “No Chile, o modelo dos fondos generacionales, já aprovado, está em audiência pública para ter seu funcionamento detalhado. A única exigência feita até agora pela legislação é que a entidade ofereça pelo menos dez ciclos de vida diferentes”, complementa Carolina Felix.

Embora os Target Date Funds (TDF, na sigla em inglês) normalmente reduzam a alocação em ações à medida que o investidor envelhece, a indústria financeira mexicana adota critérios distintos para calcular a alocação ideal conforme as faixas etárias, segundo estudo realizado no país, que implementou o modelo em 2019.

Relatório produzido em conjunto pelas consultorias Vitalis e Pénsion Research & Consulting em 2024 acerca do mercado mexicano teve como objetivo desenvolver um modelo de TDF que refletisse, de fato, as condições demográficas e financeiras do país. O estudo destaca a importância de considerar o capital humano e sua correlação com o risco dos investimentos nesse cálculo.

Isso implica levar em conta, entre outros aspectos, as diferenças no perfil de “age-earning” — ou seja, as variações que os ganhos dos indivíduos sofrem ao longo da vida. Também é necessário incorporar o efeito permanente ou temporário de choques no mercado de trabalho.

Outro aspecto relevante diz respeito à relação entre o setor da economia em que o investidor atua e sua carteira de alocação em ações. “Se for um trabalhador da indústria da construção, por exemplo, e tiver um portfólio de ações concentrado nesse setor, a correlação entre o capital humano e o retorno obtido será forte e positiva para esse investidor”, aponta o estudo. A correlação entre os riscos associados ao capital humano e os retornos obtidos com investimentos em equities — que pode variar de positiva a negativa — desempenha um papel particularmente relevante no desenho dos TDFs.

No Brasil, observa Carolina Felix, apenas o critério de idade é utilizado. Em sua opinião, será interessante acompanhar, daqui para a frente, como evoluirá o modelo de ciclo de vida com a incorporação de novos aspectos. “Os estudos pioneiros da consultoria apontam principalmente critérios de risco associados ao capital humano, o que está em linha com o aumento da sofisticação e da personalização dos perfis, cada vez mais próximos das necessidades reais dos participantes. Quanto mais próxima essa relação, melhor”, destaca a especialista da UniAbrapp.

Outro requisito fundamental é o uso da tecnologia para viabilizar essa proximidade. “É o que temos observado nos países desenvolvidos em suas políticas de previdência”, conclui.

(Continua…)

 

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