País que poupa pouco e mal, o Brasil deixa evidente essas carências ao mostrar as consequências disso tanto nas demandas de uma infraestrutura que pede para ser urgentemente renovada como na falta de renda de seus aposentados. Porém, se o problema por um lado existe e pode ser facilmente identificável, por outro, como deixou bastante evidente a primeira sessão plenária do 42º Congresso Brasileiro da Previdência Privada, nesta terça-feira (19), voltada para o tema “Poupança da Esperança: Como criar um novo sistema de renda futura para todos”, os brasileiros podem felizmente contar com a força crescente de uma previdência privada que sabe como ninguém acumular reservas e transformá-las em investimentos que revitalizam a economia e numa maior proteção financeira na aposentadoria.
A temática foi ampla e profundamente discutida, tendo como moderadora a jornalista Mara Luquet, por quatro especialistas do primeiro time. Affonso Celso Pastore, economista e Presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas realçou que a vida se alonga, mas o declínio dos retornos dos investimentos e dos juros, em particular, obriga a poupar mais, num momento de redução no crescimento econômico global. Eduardo Giannetti, economista e cientista social, focalizou mais os dilemas da previdência estatal, que o Brasil vai precisar combinar produtividade com poupança. Carla Furtado, Diretora Executiva do Instituto Feliciência e expert em Felicidade Interna Bruta (FIB), deixou sugerido que renúncia ao consumo para juntar reservas é claramente uma boa ideia, entretanto as pessoas precisam simultaneamente refletir para recobrar o sentido da vida, ou seja, voltar a ter esperança. E Devanir Silva, Superintendente Geral da Abrapp, mostrou razões para acreditar porque a vertente fechada da previdência privada está pronta para repetir no Brasil o êxito que alcançou no mundo.
Devanir Silva se encarregou de mostrar o presente e o tamanho potencial do sistema de previdência privada. Começou lamentando que o Brasil, na reforma da Previdência de 2019, ao optar por algo paramétrico e não estrutural tenha feito “um dever de casa pela metade ou nem isso”. O País gasta 13% de seu PIB com a Previdência e esse percentual é claramente alto demais, acima até de Japão, Espanha e Reino Unidos, que já possuem populações muito mais envelhecidas.
A Abrapp, lembrou Devanir, patrocinou na ocasião um estudo feito pela FIPE/USP, a frente dele o professor Hélio Zylberstajn, levado às mais altas autoridades e que partia do mais óbvio começo: cada geração deve poupar para construir a sua própria reserva previdenciária. Pela sugestão apresentada, a previdência estatal continuaria atendendo à grande maioria dos brasileiros e para aqueles de maior renda seria criada um regime de capitalização compulsória, como as que têm hoje Holanda e Reino Unido. Mas pouco ou nada se avançou na direção de repetirmos as experiências exitosas dos EUA, Reino Unido e Holanda, cuja poupança previdenciária soma, respectivamente, 88%, 130% e 190% dos PIBs de cada um.
Perdida a oportunidade, ela ressurge agora quando o Mundo reflete sobre o que fazer diante de tanta volatilidade, incerteza, complexidade, ambiguidade, não linearidade e uma realidade quase impossível de compreender, em busca de uma narrativa que sirva de caminho a seguir. Tudo isso acrescido de novas relações trabalhistas.
O nosso sistema reage ao desafio adotando uma postura cooperativa, mostrando-se ágil e lançando novos produtos em busca de crescer em escala. Tem a seu favor um DNA que combina com a época em que que vivemos: empreende ao romper com os antigos formatos de negócios, continua fiel ao mutualismo compartilhando e, por não buscar o lucro, exibe uma faceta tão cara ao “capitalismo consciente” que seduz a tantos.
É coisa de jovem – Ao oferecer vários e contundentes exemplos numéricos de que a pessoa que começa a poupar cedo acumula muito mais reservas sem esforço adicional, Giannetti reforçou a campanha da Abrapp no sentido de que “Previdência é coisa de Jovem”. Afinal, disse, “está mais que provado que a tartaruga pode vencer a lebre”. Após exibir vários dados que dramatizam a extensão da vida e a redução da natalidade no Brasil, acrescentou não se poder desconsiderar a dura equação previdenciária que o Estado brasileiro vive.
Pastore chamou a atenção para uma contradição. Se de um lado a expectativa de vida cresce, espelhando a melhora nos serviços de saúde pública, nas vacinas, na indústria médica e hospital e assim conduzindo a uma maior expectativa de tempo e de vida com qualidade, por outro lado a economia cresce mais lentamente e os juros declinam, com impacto na renda, no emprego e na remuneração dos investimento.
Essa é uma combinação, notou Pastore, que deve levar inexoravelmente à necessidade de se poupar mais. Afinal, lembrou, alguns dos títulos públicos que remuneram atualmente à base de 4% ao ano superavam os 12% há não muito tempo.
A conclusão só pode ser uma, segundo Pastore: “Poupar virou prioridade”.
Mas, poupar para quê ? – Carla trouxe para a plenária uma outra dimensão, ao trazer para o debate reflexões que a pandemia a seu ver tornou obrigatórias, com tantas e tão variadas incertezas.
“É verdade que o trabalho propicia a poupança, mas precisamos aprender a pensar além dele, entendendo a vida de uma forma integral”, disse Carla, persuadida de que nesse novo ambiente o indivíduo necessita analisar a vida além de si mesmo, enfim, não individualmente.
O ato de poupar, é claro, requer alguma dose de esperança no futuro e homens e mulheres estão nesse momento buscando uma narrativa mental que lhes traga sentido à vida. Sem uma resposta, observou Carla, fica difícil.