As teses de investimento na emergente classe de criptoativos foram abordadas durante a palestra técnica “Investimentos em Criptoativos na Previdência Complementar”, apresentada por Samir Kerbage, CIO Global da gestora Hashdex, no 44º CBPP, realizado no Expo Transamérica nos dias 18, 19 e 20 de outubro. De acordo com Kerbage, os criptoativos estão ganhando destaque como parte de uma estratégia de diversificação nas carteiras de investidores institucionais, especialmente com o aumento da regulamentação por meio da CMN 4.994, que permite investimentos por meio de ETFs listados no exterior para EFPC; e da CVM 175, que estabelece limites para alocação em criptoativos.
Kerbage começou a apresentação contextualizando o estágio de maturação dessa classe de ativos. Embora, por um tempo, os criptoativos tenham sido associados a notícias negativas, como seu uso indevido em esquemas de pirâmides financeiras ou por aqueles que buscavam evitar a supervisão estatal, a credibilidade está sendo restaurada à medida que grandes empresas e investidores institucionais adotam essa classe de ativos.
Segundo o CIO, as ondas tecnológicas evoluem em fases, e o momento atual representa uma transformação digital que teve início com a invenção da internet. “Desde a década de 80, temos testemunhado novas formas de fazer negócios que geram valor para a sociedade. A tecnologia blockchain representa uma onda disruptiva que descentraliza a confiança, permitindo o registro de propriedades sem a necessidade de cartórios. O Bitcoin foi a primeira proposta para permitir um meio de pagamento 100% digital, sem depender de intermediários ou bancos. O próprio Banco Central criou o DREX que, por meio da tecnologia blockchain, permite a tokenização de ativos financeiros e contratos, reduzindo a necessidade de cartórios. Essa tecnologia veio para ficar”, destacou.
Ele lembrou que a maioria das instituições financeiras está explorando a tokenização, como por exemplo a BlackRock. Kerbage destacou que o momento é de transição e o ambiente para criptoativos hoje é semelhante ao de 1998 para a internet, quando poucas pessoas tinham acesso. “Daqui a 10 ou 20 anos o criptoativo fará parte da vida cotidiana, como a internet faz hoje. Olharemos para trás e veremos como dependíamos de papel e carimbos de cartório. Tudo será substituído por contratos inteligentes e tokenização”, afirmou.
Segundo ele, no ano passado, o investimento de fundos de venture capital em blockchain foi de US$ 26 bilhões, ante a alocação do setor neste tipo de tecnologia de US$ 5 bilhões em 2018. “O investimento está crescendo, e estamos caminhando de uma fase de tecnologia experimental para a prática, com o Brasil se destacando como líder com o Real Digital”, pontuou.
O CIO também lembrou que a regulamentação está se consolidando no mundo, pelo Parlamento Europeu no ano passado e no Brasil neste ano. “No Brasil, a CVM 175 trouxe mais clareza, classificando os criptoativos como ativos financeiros, com um limite de alocação para fundos”.
Nova geração impulsiona a classe
O CIO da Hashdex disse que, devido ao tamanho do mercado, há espaço para o crescimento exponencial dos criptoativos, impulsionado pelas novas gerações. A estimativa é que nos próximos 25 anos, US$ 68 trilhões de dólares nos Estados Unidos mudarão de mãos, passando dos “baby boomers” para as gerações X e millennials, que consideram natural investir em criptoativos, ativos digitais tokenizados e blockchain.
Ele citou um estudo da corretora Charles Schwab, que mostra que os millennials alocam mais em bitcoin do que os “baby boomers”. O fenômeno do shift geracional está em andamento, com preferências de investimento em mudança, o que traz sentido para a alocação em criptoativos.
“No Brasil, um estudo da ANBIMA revelou que a alocação do público na faixa etária de 25 anos é de 7%. Essa geração já entende a importância da alocação estratégica, e é ela que impulsionará a indústria de previdência privada complementar. Os gestores das EFPC devem considerar isso ao oferecer planos de previdência para os jovens”, alerta.
Perspectivas para o bitcoin
Em relação ao timing do mercado, reforçou que tanto a melhoria no ambiente regulatório quanto a mudança geracional trazem boas perspectivas para o bitcoin.
“O bitcoin passou por um período de queda, mas em 2021 houve uma recuperação de 60%. Para os próximos anos, há um potencial de crescimento significativo. No caso do bitcoin, a cada quatro anos ocorre um halving, o que impulsiona ciclos de valorização seguidos por altas taxas de inflação. Em 2016, ocorreu um ciclo de valorização, seguido por outro em 2021. No próximo ano, teremos um novo halving do bitcoin. Se a oferta diminuir e a demanda permanecer constante, isso sustentará a tese de que o bitcoin é uma reserva de valor. Há motivos para acreditar que a demanda continuará a crescer nos próximos anos, à medida que a oferta diminuir”, destacou.
Ele prevê potencial de valorização significativa da ordem de 300% nos próximos 24 meses. Kerbage afirmou que este é o momento para os investidores institucionais entrarem no mercado de criptoativos, com um horizonte de longo prazo, de 5 a 10 anos. “Os criptoativos estão abaixo do seu valor justo de longo prazo e tem um potencial de crescimento de 130%, de acordo com a média histórica”, afirmou.
Volatilidade: dose define se cripto é remédio ou veneno
Ele também reforçou que os criptoativos são ativos de alto risco, com volatilidade entre 80% e 100% ao ano. Eles são frequentemente os melhores ou piores ativos de cada ano, sem um meio-termo. Para os próximos 24 meses, a perspectiva é positiva, com um comportamento de ciclo diferente do observado em outros ativos.
O CIO explicou que um fator importante é a descorrelação em relação a outros ativos brasileiros. A maioria dos ativos tem uma alta correlação, mas o bitcoin possui uma correlação baixa em relação a todos os outros ativos.
“Alocar 1% em criptoativos na carteira já traz uma relação risco-retorno favorável, com um índice de Sharpe que aumenta de 0,42 em uma carteira sem criptoativos para 0,53, mantendo uma volatilidade constante. À medida que a alocação aumenta, o Sharpe melhora e a volatilidade sobe. Por isso, é essencial considerar o impacto na carteira de investimentos, pois a diferença entre o remédio e o veneno está na dose”, reforçou.
O palestrante apresentou uma carteira consolidada da Abrapp, que demonstrou um aumento no índice de Sharpe com a alocação de 1% em criptoativos. A simulação mostrou um incremento marginal na volatilidade, melhorando a carteira sem aumentar o risco. “Mesmo para carteiras conservadoras, com baixa exposição a ações e investimentos no exterior, a inclusão de criptoativos é relevante.”
Ele disse que para investir em criptoativos, há opções de gestão passiva, como os ETFs e fundos de gestão ativa. Os ETFs são listados em bolsa, e oferecem diversificação em termos de custos e transparência, além de serem regulamentados pela CVM. A gestora Hashdex possui mais de 205 mil investidores e foi a responsável por lançar o primeiro ETF do segmento, o Hash11. Além disso, existem fundos de venture capital especializados em criptoativos, mas é importante considerar a custódia.
“Os ETFs são a opção mais conhecida e têm várias camadas de liquidez, incluindo formadores de mercado. De qualquer maneira, é importante contar com gestão profissional e evitar o investimento diretamente em criptoativo, em razão dos cuidados necessários com a custódia de ativos digitais, que envolvem riscos operacionais significativos”, concluiu.
O 44º CBPP é uma realização da Abrapp, UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta. Patrocínio Diamante: Asa Investments; BB Asset; BNP Paribas Asset Management; Itajubá Investimentos; Sinqia. Patrocínio Ouro: Aon; Bradesco; BV Asset; Galapagos Capital; Genial Investimentos; Itaú; MAG; Safra; Santander Asset Management; Spectra Investments; SulAmérica Investimentos; XP. Patrocínio Prata: Aditus; Alaska; Anbima; Principal Claritas; Constância Investimentos; Maps + Data A; GTIS Partners; Hashdex; JP.Morgan Asset Management; NAVI; Neo; PFM Consultoria e Sistemas; Trígono Capital; Velt Partners; Vinci Partners. Patrocínio Bronze: Apoena; BlackRock; Capitânia Investimentos; Carbyne Investimentos; Fator; Fram Capital; Franklin Templeton; Hectare Capital; HMC Capital; Inter; Investira; Mapfre Investimentos; Market Axess; Marsche; Mercer; Mestra Informática; Mirae Asset; Polo Capital Management; PRP Soluções Contábeis; RJI Investimentos; Schroders; Teva Indices; Trust Solutions; uFund.