A Inteligência Artificial (IA) tem evoluído de maneira fascinante nos últimos anos. Em particular, a IA generativa destacou-se como a tecnologia de mais rápida adoção pelo público, alcançando 100 milhões de usuários em tempo recorde após o lançamento do Chat GPT no final de 2022. Inicialmente, a IA era essencialmente prescritiva. Modelos baseados em redes neurais e random forests, por exemplo, eram usados para analisar padrões e fazer previsões com base em uma ampla gama de dados e comportamentos históricos. Um exemplo prático seria seu uso em serviços de streaming para sugerir o próximo seriado a ser assistido, considerando o comportamento histórico do usuário.
Esses modelos trouxeram avanços importantes, mas ainda estavam limitados ao que já havia acontecido. Hoje, vivemos uma nova era, marcada pela ascensão da IA generativa. Sistemas que entendem, interpretam e até criam linguagem, como os modelos de processamento de linguagem natural (NLP), ou que se adaptam continuamente a novos contextos e dados, começaram a transformar não apenas o que a IA entrega, mas também a forma como interagimos com ela. A inteligência artificial deixou de ser uma ferramenta de projeção e passou a ser uma parceira no processo de geração de conteúdo (texto, áudio, vídeo, código, etc). Por exemplo, hoje podemos encontrar episódios completos de podcasts gerados por IA. É algo realmente incrível!
No mercado financeiro, essa evolução foi acompanhada de duas forças que mudaram o jogo: a explosão na quantidade de dados disponíveis e o salto exponencial na capacidade computacional. Em pouco tempo, não apenas tínhamos acesso a um conjunto muito maior de dados, mas também a capacidade computacional de processá-los na nuvem a um custo acessível. Naturalmente, a aplicação da IA no setor cresceu em paralelo. Em um ambiente onde a informação é poder e cada segundo conta, a inteligência artificial encontrou um terreno fértil de aplicações.
Com isso, a IA passou a desempenhar o papel de um “super assistente”, capaz de aumentar a produtividade de equipes inteiras e possibilitar a hiper personalização. O que antes demandava horas de análise, hoje pode ser resolvido em minutos ou até mesmo segundos. Houve um aumento muito significativo na capacidade de se entender as nuances individuais de cada cliente/investidor, do seu perfil de risco, suas preferências de comunicação, entre outros, o que abre caminho para serviços personalizados em larga escala, algo praticamente inviável há pouco tempo.
Boa parte desse avanço se deve à habilidade que a IA desenvolveu de integrar dados de múltiplas fontes. Transcrições de reuniões, ligações, registros de sistemas, e-mails, anotações e documentações antes eram tratados de maneira fragmentada e agora já podem ser reunidos e analisados de maneira integrada. Esse mesmo raciocínio se estende à análise de informações de mercado. Na Bradesco Asset, por exemplo, já utilizamos a inteligência artificial para decifrar atas e comunicados de bancos centrais como o Banco Central do Brasil e o Federal Reserve. A IA lê, interpreta o tom, detecta variações sutis nas palavras usadas e transforma tudo isso em indicadores objetivos que apoiam os analistas e gestores de investimento. Também usamos a tecnologia para otimizar reuniões, agregar informações e potencializar análises, entre outras aplicações em desenvolvimento.
Claro que com todas essas possibilidades cresce também a responsabilidade. Governança de IA é um tema relevante. Para seu adequado uso corporativo, precisamos assegurar que os dados sejam tratados com ética, que os algoritmos sejam justos, transparentes e explicáveis, e que o fluxo de informações geradas e consumidas pela IA respeite as normas de proteção de dados.
Pensando no futuro, o que nos espera é ainda mais desafiador e empolgante. A computação quântica, que já está evoluindo nos laboratórios, promete multiplicar milhares de vezes a capacidade de processamento atual, potencializando de maneira incomensurável a força da inteligência artificial. No entanto, teremos que enfrentar o desafio energético, considerando as projeções de uso dessas tecnologias e a necessidade de energia para viabilizá-las.
A inteligência artificial já é parte central da transformação de nossa sociedade. Cada processo que se torna mais rápido, cada análise mais precisa e cada atendimento mais personalizado são lembretes de que estamos apenas no começo dessa jornada. Muitas novidades surgirão, e todos devem estar atentos.
*Fernando Caio Galdi é Superintendente de Estratégia, Inovação e IA da Bradesco Asset