Artigo – Auto-investimento: importante ou não para a seleção de um gestor de investimentos? – por Sara Marques*

Escolher uma gestora para os investimentos de uma entidade não é tarefa trivial. Há inúmeros fatores que podem e devem ser levados em conta na hora da seleção. Um dos pontos que pode fazer parte desta lista – e sobre o qual quero apresentar alguns dados interessantes – é a questão de avaliar gestores que praticam o auto-investimento.

Saber se os sócios ou os próprios gestores investem, como pessoas físicas, na casa onde atuam é, no mínimo, uma curiosidade. No entanto, além de apenas sanar as curiosidades, algumas vezes, avaliar fundos em que os sócios estão entre os cotistas pode trazer informações relevantes para entender se esta participação afeta, de alguma forma, a performance dos fundos.

Reforçamos que, antes de realizar este tipo de análise, o primeiro ponto que se deve avaliar são as razões pelas quais a entidade acredita que estes gestores podem ser relevantes para a estratégia dos recursos dos participantes, independentemente de seus recursos próprios fazerem parte ou não dos fundos sob gestão, já que, dentre as práticas, não há certo ou errado neste quesito. O que devemos buscar, na realidade, são fatores que tornam a escolha de gestor mais adequada à política de investimento da entidade, e esta deve ser a prioridade.

Partindo deste pressuposto, realizamos uma análise com 552 fundos de investimentos, de 50 gestores especialistas em Fundos de Investimentos para o segmento de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). Para avaliação da consistência dos resultados, os dados foram coletados em dois períodos específicos: 12 e 24 meses. No caso dos dados de 24 meses, a amostra ficou em 488 fundos, uma vez que nem todos os fundos possuíam dados para o período proposto.

Nos dois casos, pudemos observar uma baixa adesão dos sócios aos fundos administrados por suas gestoras. De modo geral, entre os fundos avaliados nos dois períodos, menos da metade recebem recursos dos sócios. No período de 12 meses, somente 39% dos fundos que responderam a pesquisa possuem sócios entre os cotistas. No período mais longo, este percentual ficou em 42%. Ou seja, por este critério, o leque de opções das entidades já diminui consideravelmente.

Se avaliarmos a adesão por categoria de fundo, veremos que a preferência são as carteiras de renda fixa ou a de fundos estruturados. Poucos, ou seja, aproximadamente 30% dos fundos de renda variável ou de investimento no exterior recebem investimentos dos sócios ou gestores.

Assim, com base nesta amostra, podemos identificar que a adesão dos sócios às próprias carteiras é baixa; que a preferência é pelos fundos de renda fixa e estruturados; e, quando há sócios cotistas, o desempenho dos fundos é melhor. Mas é necessário fazer a ressalva de que, no período analisado, o segmento de Renda Fixa como um todo, o qual apresentou melhor performance quando realizado o auto-investimento, registrou bons retornos, o que pode ser um adendo à informação de performance destes gestores.

Apesar de a informação de auto-investimento poder ser um critério a ser incluído na seleção de gestores, entendemos, a partir da análise realizada, que ele não seja conclusivo para uma tomada de decisão, mas pode, sim, apoiar a Entidade trazendo mais uma informação para direcionamento na escolha de gestor.

É importante ressaltar também que a informação sobre auto-investimento não é algo publicado voluntariamente. Assim, se este for um critério classificado como relevante para a entidade, é possível incluir uma pergunta específica sobre o tema na avaliação prévia de seleção de gestores. Entretanto, vale lembrar que outros aspectos, como governança, estratégia, estrutura ou atendimento ao cliente, por exemplo, não devem ficar de fora desta análise, sendo estes pontos ainda mais relevantes às análises e comparativos.

Quanto mais informação sobre a gestora e as suas respectivas carteiras, certamente, melhor será a base para a tomada de decisão.

 

*Sara Marques, Diretora da área de Consultoria da LUZ Soluções Financeiras

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