Artigo – Cultivando a Mudança: o Impacto Decisivo dos Gerentes na Transformação Cultural – por Caio Brisolla*

O setor de previdência complementar enfrenta vários desafios significativos, como garantir retornos sustentáveis diante da volatilidade dos mercados financeiros e a crescente longevidade da população, que demanda novas soluções para atender às necessidades específicas dos clientes mais idosos. Nesse cenário em constante evolução, a transformação cultural emerge como uma peça-chave para garantir a sustentabilidade e a inovação das fundações.

Isso porque a cultura de uma organização molda a mentalidade e as práticas, influenciando diretamente a maneira como os funcionários pensam, agem e se relacionam no ambiente de trabalho, e consequentemente impactando o alcance dos objetivos de negócio. E a alta liderança desempenha um papel crucial na formação e manutenção dessa cultura, sendo responsável por alinhar as estratégias com a cultura desejada e tomar decisões que a promovam e a reforcem.

No centro dessa equação está a média gerência – ou gestores de pessoas. Eles são encarregados de comunicar e implementar as estratégias e diretrizes estabelecidas pela alta administração, ao mesmo tempo em que atuam como defensores e apoiadores dos funcionários da linha de frente. Por isso, é essencial que esses gestores compreendam a importância da cultura organizacional e estejam preparados para orientar os colaboradores através do processo de mudança.

Para obter maior engajamento das equipes e contribuir para o sucesso da transformação cultural, existem algumas medidas que podem ser adotadas imediatamente pelos gestores de pessoas:

  1. Ter clareza

Atualmente, estamos constantemente bombardeados por uma enxurrada de informações, o que tem levado a uma diminuição significativa nos períodos de atenção das pessoas.

Por esse motivo, é muito importante que o gestor seja muito específico sobre o que precisa que os funcionários façam de diferente para alcançar os novos objetivos. Outro aspecto importante é dividir a mudança cultural em etapas simples e acionáveis que se integrem às atividades diárias da equipe para eliminar o ruído e ganhar força.

  1. Ser ágil

Muitas vezes subestimamos a importância das micro ações na mudança cultural, porém, toda transformação começa com pequenos ajustes e consistência. Os gestores precisam trabalhar com suas equipes para chegar a um acordo sobre pequenas medidas que todos possam adotar. É essencial ver o que funciona e o que não funciona e fazer ajustes, se necessário. A maneira de fazer com que os colaboradores se envolvam na mudança cultural é garantir com que se sintam envolvidos e incluídos, e uma abordagem ágil incentiva esse empoderamento e experimentação.

  1. Compartilhamento de histórias

Uma forma eficaz de aproximar as pessoas é compartilhar os sucessos, especialmente em ambientes de trabalho híbrido, que podem gerar sentimentos de solidão e desconexão nas pessoas. Para que a mudança cultural seja bem-sucedida, ela precisa de coesão.  Contar histórias, em especial, pode reforçar as mudanças que você deseja ver, além de ajudar a equipe a entender o impacto de suas ações na organização como um todo. O compartilhamento de sucessos cria uma visibilidade mais ampla, aumenta a crença e promove o reconhecimento, que é um grande impulsionador do envolvimento.

Como lidar com a resistência à mudança?

É muito comum que as pessoas resistam à mudança, pois tendem a focar no que estão perdendo ao invés dos benefícios que ela pode trazer. Por isso, não é surpreendente que alguns gestores enfrentem dificuldades ao lidar com a mudança cultural.

Os principais motivos que levam os gerentes a resistirem às mudanças são:

  1. Falta de envolvimento desde o início

Muitas vezes, a mudança cultural é simplesmente anunciada pela alta liderança e os gestores de pessoas recebem as regras do que precisam fazer, sem o devido entendimento do seu papel na condução da mudança. Como resultado, o cinismo se instala e os gestores de pessoas se sentem excluídos de decisões importantes que precisarão implementar. Por isso, inclua os gerentes desde o início do processo, ouça suas vozes e sua mudança cultural terá uma chance muito maior de sucesso.

  1. Falta de entendimento

Muitas pessoas ainda acreditam que a cultura é algo superficial, intangível ou tão complexo que não é possível ter controle sobre ela. Por isso, é fundamental haver clareza absoluta sobre a cultura desejada em termos de comportamentos concretos e uma linguagem comum, pois, assim como acontece com os valores, a cultura e os comportamentos associados a ela podem ser amplamente interpretados. Quanto mais específicos os comportamentos, mais as pessoas saberão o que se espera delas na prática.

  1. A alta liderança não age de acordo com o discurso

Se a alta liderança não for vista como modelo dos comportamentos esperados ou, pelo menos, não estiver trabalhando neles, os gestores de pessoas não confiarão na mudança e simplesmente voltarão aos seus antigos comportamentos. A média gerência deve impulsionar a mudança cultural na organização, mas ela só fará isso se reconhecer o exemplo da alta liderança primeiro. É por isso que as transformações culturais geralmente têm início na alta liderança para depois passar para os gestores de pessoas, quando já houve algumas mudanças simbólicas.

  1. Falta de tempo

Os gestores de pessoas já vivem sob enorme pressão, e a mudança cultural pode parecer mais uma coisa a fazer ou uma distração desnecessária. A realidade é que a mudança exige tempo e energia e, de fato, traz trabalho extra, mas é uma parte vital das atribuições dos gestores, além de ser fundamental para a execução da estratégia. Dessa forma, os gerentes devem reservar um tempo para serem intencionais em todas as suas interações. Fazer pequenos ajustes em seu comportamento diário é a coisa mais eficiente que eles podem fazer para mudar a cultura: é mais uma questão de consciência do que tempo.

E como lidar com a resistência das equipes?

Os colaboradores também podem reagir à mudança de maneira negativa, por medo do desconhecido ou receio de perderem algo já está estabelecido. É crucial que os gestores estejam cientes dessas barreiras e busquem maneiras de superá-las. Uma abordagem eficaz inclui comunicar de forma clara os benefícios da mudança, respondendo às seguintes perguntas:

  • O que é a nossa cultura?
  • Por que ela é tão importante para a execução de nossa estratégia?
  • O que isso significa para a nossa equipe?
  • O que isso significa para cada membro da equipe individualmente?

Ao esclarecer essas questões, os gestores conseguem traduzir a mudança cultural em ações tangíveis (comportamentos) que sua equipe precisa adotar e deixar claro para todos como a mudança os afetará.

Outro recurso valioso para os gerentes nesse processo são os funcionários mais abertos à mudança. Geralmente eles possuem características como alinhamento com os valores da empresa, engajamento e habilidades de comunicação eficazes, além de iniciativa e proatividade. Ao serem identificados e envolvidos no processo, podem influenciar positivamente seus colegas e servirem como catalisadores da transformação.

 

*Caio Brisolla é Diretor da Walking the Talk LATAM

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