Artigo: Entidades Fechadas de Previdência Complementar e ASG – por Karoline da Costa Rusticci Rosenfeld*

“Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que permite satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” – Gro Harlem Brundtland, Relatório Nosso Futuro Comum (1987).

As fundações já possuem em sua essência a sustentabilidade. Somos um modelo de negócio voltado para o impacto social e econômico, e nosso produto atua diretamente na geração de valor para o indivíduo, proporcionando, por consequência, a geração de valor para toda a sociedade.

Nós temos o poder de transformar vidas, melhorar as condições de saúde física, mental, emocional e financeira. Ao mesmo tempo, impulsionamos a economia e promovemos a sustentabilidade no mundo.

Pense comigo: uma pessoa sênior, no pós-trabalho, que precisa consultar um médico. Ela não precisará depender exclusivamente do SUS se tiver condições financeiras para contar com um convênio médico. Da mesma forma, poderá comprar seus medicamentos na farmácia local do Sr Zé, ao invés de buscar medicamentos gratuitos em locais distantes, onde o acesso pode ser demorado e incerto. Esse é um exemplo de como uma pessoa pode impactar todo um ecossistema apenas por meio do planejamento financeiro, possuindo sua própria independência, com a previdência privada. Veja, ao não depender do SUS, essa pessoa abre espaço para aqueles que realmente precisam desse suporte. Além disso, ao comprar na loja local, ela fortalece o comércio e contribui para o desenvolvimento da comunidade. Vale ainda dizer que, ao evitar deslocamentos desnecessários, ela também contribui para a preservação do meio ambiente emitindo menos gás carbônico na utilização de transportes.

Agora, olhando para dentro da fundação, como podemos trabalhar os princípios do ASG internamente?

A primeira oportunidade que vem à mente são os investimentos. Integrar fatores de sustentabilidade nos investimentos pode gerar vantagens competitivas, maiores retornos para os investidores e, pelo menos, mitigar riscos e melhorar a reputação, resultando em maior valor no longo prazo.

Além disso, como compradores de fundos, as fundações têm um poder significativo para impulsionar os investimentos dedicados ao ASG no mercado financeiro. É importante não apenas escolher gestores que atuam nessa agenda, mas também colaborar com aqueles que ainda não estão nesse caminho, ensinando e mostrando, por meio do poder de voto, a importância dos investimentos ASG.

Caso você não conheça nenhum investimento desse tipo, sugiro visitar o Índice de Sustentabilidade Empresarial apresentado pela B³ – clique aqui.

Falando um pouco sobre Governança, esse não é um item necessariamente novo nas EFPC. Diversos aspectos já são tratados desde o início, como contabilidade financeira, práticas de relatórios, o papel da liderança e a composição do conselho, práticas antissuborno e anticorrupção e ética nos negócios.

A Abrapp – Associação Brasileira de Previdência Privada – disponibiliza um Guia de Sustentabilidade (clique aqui) muito prático e com diversas informações dedicadas para o mercado previdenciário. Apesar da riqueza do conteúdo, gostaria de trazer luz à referência ao GRI – Global Reporting Initiative.

O GRI não é apenas um relatório, ele é um processo de relato. Os padrões GRI permitem que organizações de qualquer tipo entendam e relatem seus impactos na economia, no meio ambiente e nas pessoas de forma comparável e confiável, aumentando a transparência em sua contribuição para o desenvolvimento sustentável.

Veja abaixo alguns exemplos específicos às EFPC:

  • Segurança no trabalho – GRI 403 e 410: Podem incluir políticas e práticas de não discriminação, programas de combate à violação de direitos humanos e canais para denúncias de forma sigilosa.
  • Relações de trabalho – GRI 402: Envolve questões éticas, políticas para escolha de fornecedores e sua cadeia de valor. O compliance deve ser inegociável, garantindo que os fornecedores não compactuem com trabalho infantil ou análogo à escravidão.
  • Comunicação e Marketing, Diversidade e Inclusão – GRI 417 e GRI 405: Trata da qualidade e integridade das informações disponíveis, reforçando também a inclusão e equidade. Informações amigáveis, mensagens traduzidas e conhecimento do público é essencial nesse item. É importante também que o site, ou qualquer outro dispositivo oficial de comunicação, seja acessível a diferentes necessidades do público, que os vídeos possuam libras e legendas por exemplo. Vale lembrar que a prevenção e proteção à privacidade de dados (GRI 418) também é um aspecto relevante.

Agora, pensando um pouco no aspecto ambiental na prática diária da EFPC, como está a impressão dos relatórios e atas da sua fundação? Vocês já adotaram a assinatura digital? E os holerites mensais, já são divulgados eletronicamente? Vocês incentivam o uso de e-mails em vez de correspondência física, visando à segurança da informação e à preservação do meio ambiente? E quanto ao home office, já foi implementado ou estão planejando aumentar sua escala? E quanto às ações de reciclagem, o escritório possui coletores exclusivos? Os copinhos de plástico ainda são utilizados em reuniões ou vocês já adotaram a prática de “traga sua própria caneca”?

Por fim, é importante lembrar que sustentabilidade e inovação estão intrinsecamente ligadas. O mundo está em constante mudança, com novas necessidades emergindo, e é fundamental que todos se unam.

ASG, acima de tudo, é uma agenda colaborativa, seja ela motivada pelos processos legais obrigatórios que se disseminam cada vez mais ou pela autoconsciência de que é necessário fazer de forma diferente.

Trabalhar em uma EFPC é já fazer parte dessa história, é intrinsicamente reconhecer que a real transformação acontece de dentro para fora.

 

*Karoline da Costa Rusticci Rosenfeld é Membro da Comissão Técnica Sudoeste de Estratégias e Criação de Valor da Abrapp e Coordenadora de Comunicação e Relacionamento da Funepp.

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