A matéria do Valor Econômico sobre diversidade em que fui entrevistada foi escolhida como destaque pelo LinkedIn, e fiquei pensando na minha trajetória até aqui. Sansei, da terceira geração de japoneses no Brasil, aos 17 anos percorri o caminho inverso de meus avós e fiz uma viagem para o Japão no movimento que ficou conhecido como dekassegui. Trabalhei lá como operária em uma indústria do setor automobilístico por dois anos. Voltei para o Brasil em 1997 e, desde então, uma vida inteira aconteceu. Fiz o concurso para o Banco do Brasil, entrei na faculdade e no mestrado, construí uma carreira e, desde 2018, sou a Diretora de Planejamento da Previ. Em 2023 fui a primeira mulher a assumir a presidência do Conselho Administrativo da Tupy.
A Tupy é uma companhia multinacional que desenvolve e produz componentes estruturais em ferro fundido de alta complexidade, inclusive para a indústria automobilística. Ao visitar uma das plantas, foi impossível não lembrar do tempo como operária e me perguntar: quantas pessoas conseguem seguir esse caminho, de operária à presidência? Quantas delas são mulheres?
Os números da reportagem, em que conversei com a Juliana Schincariol, comprovam o quanto poucas mulheres conseguem chegar na alta liderança: menos de 1%. Eu sou uma delas. Na matéria estou orgulhosamente ao lado de mulheres que também percorreram um longo caminho e lutam por mais diversidade, assim como eu: Tarciana Paula Gomes Medeiros, do Banco do Brasil; Luiza Helena Trajano, da Magazine Luiza; e Patriciana Rodrigues Queirós Rodrigues, da Farmácias Pague Menos.
Quando se chega em uma posição de liderança, existem duas formas básicas de agir. Empurrar a escada que você construiu e te levou até lá, para que ninguém te alcance. Ou manter a escada e ajudar quem quiser trilhar o mesmo caminho. Eu escolhi a segunda opção. E, por isso, é tão gratificante poder ser uma das mentoras do Programa Executivas do Amanhã da EXEC, em parceria com o 30% Club Brasil.
Um dos conceitos fundamentais do feminismo é a sororidade: empatia, confiança, cooperação e acolhimento entre mulheres. Sejamos mulheres que levantam outras mulheres. Não será fácil. Citando Angela Davis, “Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo”. Mas juntas, somos mais fortes. E vamos continuar!
*Paula Goto é Diretora de Planejamento da Previ