Artigo: Oportunidade na Renda Variável Local – por Rodrigo Santoro Geraldes*

O mercado de renda variável é sempre repleto de desafios e oportunidades. Isso ocorre pela discrepância na avaliação dos ativos pelos diferentes agentes e pela importância do efeito psicológico na tomada de decisão.

O mercado tende a funcionar como um pêndulo e, em algumas vezes, com exageros em seus movimentos, gerando oportunidades únicas de investimento. Porém, estas oportunidades surgem em momentos em que o investidor precisa ter frieza para realizar aportes. Talvez, hoje, estejamos próximos de um momento destes, uma oportunidade de comprar empresas bem geridas e com grande potencial de crescimento por preços razoáveis.

Nos últimos dois anos, vivemos momentos de valorização expressiva em que os preços dos ativos foram influenciados por uma quantidade nunca vista de estímulos fiscais e monetários. Esta abundância de liquidez gerada por esses estímulos fez com que o custo do dinheiro se reduzisse. Como consequência, vimos o florescimento de diversas empresas com foco em crescimento e com pouco compromisso de gerar retornos no curto prazo.

Grande parte destas companhias foram avaliadas com projeções otimistas de crescimento e, consequentemente, valuations elevados. Estas empresas, muitas vezes focam apenas na alta de receita, ou de usuários, deixando a monetização do negócio para o futuro distante.

Novas métricas de avaliação foram criadas, abandonando as métricas tradicionais. Os prejuízos deixaram de ser notícia negativa e passaram a ser financiados por novas rodadas de captação, cada vez com avaliações mais otimistas.

Neste ambiente de alta liquidez e juros baixos, as ações classificadas como crescimento ou (growth stocks) tiveram uma valorização superior em relação às ações de companhias maduras com alta geração de caixa (value stocks).

Apesar dos estímulos governamentais terem tido um papel fundamental em sustentar a atividade econômica em patamares elevados, o principal impacto foi uma inflação que há muito tempo não era vista a nível global, situação agravada pela quebra de cadeias de suprimento e a guerra na Ucrânia. Como consequência, o ano de 2022 tem sido marcado pela retirada de estímulos e elevação de taxas de juros por parte de todos os bancos centrais a fim de controlar o ambiente inflacionário.

Este movimento tem sido o principal catalizador para a correção recente dos ativos de risco, principalmente as ações de crescimento. Algumas destas ações tiveram uma correção importante nos últimos 12 meses, tendo caído mais de 80% do maior pico de valorização. Com a elevação do custo de capital, os analistas passaram novamente a valorizar o lucro vis a vis ou o crescimento sem horizonte de rentabilização. As empresas conhecidas como de valor (value stocks), que apresentam alta geração de caixa e que atuam em mercados consolidados, passaram a ser preferidas novamente pelos investidores.

No entanto, mais uma vez o mercado tende a exagerar no movimento, punindo excessivamente empresas que possuem crescimento com retorno sólido em comparação com as empresas de crescimento que não apresentam resultado. Portanto, neste ambiente de correção de empresas de crescimento muitas vezes surgem oportunidades únicas de investimento.

Nosso grande esforço como gestor é buscar as chamadas ações GARP (Growth at a reasonable price), que são as companhias que apresentam crescimento sustentável de lucro e que estão em patamares de valuation atraentes. O atual momento de mercado é um dos poucos em que conseguimos encontrar empresas bem geridas, referência em seus setores, que possuem um grande potencial de consolidação de mercado e crescimento por preços razoáveis.

Importante mencionar que o investimento em renda variável exige paciência e disciplina. O ano de 2022 deve seguir volátil, porém com a rara oportunidade de investir em boas empresas a preços atrativos. Estamos nos aproximando do fim do ciclo de alta de juros no Brasil, o que somado à estabilização da inflação global pode configurar um ambiente favorável para a retomada dos preços das ações de crescimento. Vale reforçar a importância da diversificação do portfólio entre diferentes classes de ativos e a alocação de riscos de acordo com o perfil de cada investidor, considerando também o seu horizonte de investimento.

* Rodrigo Santoro Geraldes, Head de Renda Variável da Bradesco Asset.

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