Nos anos 1960, surgiam os primeiros mainframes de empresas e negócios ao redor do mundo, com os sistemas de informação começando a ganhar tração, ainda que de forma offline. Duas décadas depois, a ideia de computador pessoal passava a aparecer nos anúncios de televisão, e algumas pessoas já tinham acesso a um dispositivo doméstico. Nesse momento, a internet começava a engatinhar, permitindo que seus usuários pudessem se conectar a ela e “lessem” informações escritas por outros.
Nos anos 2000, a rede mundial de computadores finalmente já possuía a infraestrutura necessária para que usuários pudessem “ler” e “escrever”, interagindo uns com os outros através de redes sociais e blogs, e consumindo conteúdo em plataformas de áudio, vídeo e streaming. Na época, ficou claro que sem a internet muitos dos novos serviços que estavam surgindo não seriam possíveis.
Mas mesmo com a internet se tornando praticamente onipresente, os serviços neste ambiente mais aberto e cheio de funcionalidades ainda continham uma característica remanescente do mundo offline: a necessidade de confiança em terceiros centrais. Seja para realizar um pagamento, interagir com seu círculo de amigos em uma rede social, ou até mesmo retirar um ingresso eletrônico para um show de um artista que você aprecia, todas essas interações demandavam confiança em intermediários centrais e, além disso, a permissão destes (e outros) para acessar esses serviços. Apesar da sensação de “propriedade” no mundo digital, na verdade somos apenas usuários de algo de valor controlado por empresas como Paypal, Facebook e Ticketmaster.
Esta era a realidade até 2008, quando o pseudônimo Satoshi Nakamoto propôs um novo sistema, que permite aos usuários movimentar valor entre dois pontos em qualquer lugar do mundo, 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem precisar pedir permissão a ninguém ou confiar em terceiros centralizados. Essa ideia deu origem à primeira blockchain, o Bitcoin, e à primeira criptomoeda, o bitcoin[1], materializando pela primeira vez na história o conceito de propriedade digital inconfiscável e imutável, e permitindo que os indivíduos sejam verdadeiramente soberanos. Além de poder “ler” e “escrever”, os usuários da internet começaram a ter uma noção real do que significa “possuir” no mundo digital.
Não demorou muito para que essa ideia se expandisse, e o conceito de sistemas distribuídos e descentralizados fosse aplicado além de transações simples de valor. Hoje, por meio de outras blockchains como o Ethereum, é possível criar um mundo de aplicativos e criptoativos (ou ativos digitais) que oferecem diferentes serviços e funcionalidades sem a necessidade de permissão ou dependência de entidades de confiança.
“Cripto”, o nome dado a esse novo conjunto de tecnologias e formas de organização socioeconômica, é o que engloba essa nova era da transformação digital. E precisamente porque representa “valor” de forma segura e descentralizada, tornou-se uma nova classe de ativos em ascensão com aproximadamente US$ 1 trilhão em capitalização de mercado[2]. Embora isso possa parecer impressionante considerando que o Bitcoin tem apenas 15 anos, o mercado endereçável para esta nova infraestrutura tecnológica tem o potencial de atingir centenas de trilhões de dólares.
À medida que mais pessoas continuam a apreciar o impacto dessa inovação, pode ser apenas uma questão de tempo até que cripto se torne tão onipresente quanto a internet.
*Lucas Santana é Analista de Pesquisa da Hashdex
Notas:
[1] Bitcoin com “B” maiúsculo se refere à rede/blockchain, enquanto bitcoin com “b” minúsculo se refere ao ativo.
[2] Dados de 22 de setembro de 2023.