Artigo: Programa de Investimentos em Alternativos Privados – por Humberto Gallucci*

O mercado de ativos privados no Brasil evoluiu na última década com um maior número de gestoras, estratégias e capital disponível para investimento. A combinação de ativos alternativos com as classes de investimento tradicionais pode potencializar o retorno da carteira ajustado a risco. Além disso, essa diversificação permite aos investidores acesso a oportunidades em setores emergentes e nichos de mercado que não estão disponíveis nos mercados públicos.

O setor de ativos privados, excluindo infraestrutura e imobiliário, agora abriga cerca de 164 gestoras com R$ 40 bilhões em capital destinado a investimentos. Uma década atrás, esse universo era composto por apenas 80 gestoras com uma reserva de R$ 19 bilhões para investir. Essa expansão não se deve somente ao aumento no número de gestoras, mas também ao desenvolvimento de novas teses de investimento.

A mais importante mudança no mercado brasileiro é o aumento na diversidade de teses de investimentos. O mercado era dominado por fundos de Private Equity e gestoras generalistas. No entanto, na última década surgiram novas estratégias para competir com as teses tradicionais, além de gestoras especializadas que se propõem a aproveitar a ineficiência de setores específicos. Essa diversificação de teses e gestoras têm proporcionado mais oportunidades de investimento, bem como uma abordagem mais direcionada e sofisticada na alocação de capital. Essa evolução reflete o amadurecimento do mercado de investimentos alternativos no Brasil, criando um ambiente mais robusto e atraente para investidores em busca de retornos diferenciados e alinhados com seus objetivos.

A estratégia mais tradicional do mercado de alternativos brasileiro é o Private Equity com mais de trinta anos de atividade no país. No ano de 2012, a estratégia tinha 54 gestores e concentrava 87% do capital disponível para investimento da indústria de ativos privados. No entanto, dez anos depois restaram apenas 29 gestoras representando 36% do capital. Houve a concentração de capital em poucas gestoras e uma diminuição no apetite dos investidores pela classe de ativos.

A estratégia que mais cresceu na última década foi o Venture Capital, que representava 5% do capital disponível para investimento em 2012 e chegou a 26% em 2022, o impacto é maior se considerarmos Growth Tech e outras teses de nicho como fundos de Impacto e Biotech. O número de gestoras acompanhou o crescimento de capital e passou de 27 para 82 na última década.

Special Situations é a outra classe de investimento que experimentou um crescimento significativo na última década, tornando-se uma parte importante da indústria de ativos privados. A classe representou cerca de 25% do capital disponível para investimentos em 2022. As gestoras investem em ativos como aquisição de dívidas não performadas, precatórios judiciais, crédito estruturado entre outras situações especiais. O capital flexível ajuda as gestoras a capturarem valor em situações desafiadoras.

O desenvolvimento de gestoras especializadas é outro sinal importante do amadurecimento do mercado, pois que trazem uma profunda expertise em setores específicos. As gestoras aproveitam do conhecimento setorial para identificar oportunidades despercebidas por gestores generalistas e exploram ineficiências na alocação de capital. A abordagem direcionada é uma forma de diversificação e pode proporcionar retornos superiores às teses mais tradicionais. O número de gestoras especializadas cresceu mais de quatro vezes na última década e chegou a 65 gestoras e 15% do capital disponível para investimentos da indústria.

O crescimento do mercado de ativos privados é acompanhado com aumento da complexidade nas escolhas dos investidores. Novas estratégias são acompanhadas de novos gestores que não possuem um histórico estabelecido, tornando a avaliação do seu desempenho potencial um desafio. Em um cenário em constante evolução, os investidores precisam não apenas entender as nuances de cada estratégia, mas também avaliar a capacidade, integridade e competência do gestor. Isso demanda uma abordagem meticulosa e uma profunda diligência para garantir que os riscos sejam compreendidos e minimizados. Nesse contexto, a capacidade de se adaptar e aprender rapidamente torna-se uma habilidade essencial para navegar com sucesso neste ambiente de novas possibilidades.

O retorno das estratégias depende também da relação entre oferta e demanda de capital. O desenvolvimento de novas estratégias permite alocar capital em estratégias com baixa oferta de capital e boas oportunidades. Entretanto, estratégias que atraem capital rapidamente podem ter uma compressão nos retornos esperados, pois os preços dos ativos tendem a aumentar. Por outro lado, ao identificar e alocar em nichos menos saturados, os investidores podem potencialmente colher retornos mais elevados, refletindo um prêmio de retorno. Dessa forma, uma abordagem diversificada e bem-informada, combinada com uma compreensão profunda das dinâmicas do mercado, é fundamental para maximizar os retornos e mitigar os riscos associados.

Por fim, o volume de desinvestimentos no mercado de alternativos por ano é outro sinal importante da evolução da indústria. O volume cresceu mais de sete vezes entre 2016 e 2022 alcançando R$ 38 bilhões. O ano de 2022 é importante, pois é um ano com mercado de capitais brasileiro fechado, ciclo de alta de juros e instabilidade política global e apesar disso, com volume recorde.

O mercado de investimentos em ativos alternativos no Brasil evoluiu e é complementar ao mercado público tradicional. A crescente diversidade de teses de investimento e a presença de gestoras especializadas demonstram a sofisticação e maturidade da indústria. Além disso, a existência de setores e estratégias diferenciadas, combinadas com desinvestimentos consistentes e retornos com menor volatilidade, são evidências claras dessa evolução. Essas características proporcionam aos investidores uma gama mais ampla de opções de investimento, permitindo uma maior diversificação e potencialmente reduzindo os riscos associados aos investimentos tradicionais.

 

*Humberto Gallucci é Cientista de Dados da Spectra

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