Desenvolvimento sustentável e geoeconomia definirão mercados financeiros no mundo, afirma Diretor do WPC

Nicolas Firzl - World Pensions Council

Nicolas Firzli, Diretor Geral do World Pensions Council (WPC), conduziu a Insight Session “Consequências da pandemia para os sistemas de previdência internacionais”, na terça-feira (17), no 41º Congresso Brasileiro da Previdência Privada.

O WPC é um “think tank”, organização sem fins lucrativos com atuação global e foco em pesquisa e políticas dedicadas aos temas aposentadoria, poupança e proteção social.

“O desenvolvimento sustentável e a era da geoeconomia serão, cada vez mais, os fatores mais importantes que definirão os mercados financeiros e também os formuladores de políticas no mundo inteiro”, destacou Firzli em sua apresentação.

Crise acelerou fenômenos – O Diretor Geral do WPC observou que, sob muitos aspectos, a crise mundial gerada pela pandemia de COVID-19, em fevereiro e março deste ano, acelerou fenômenos que estavam reprimidos.

“Se eu puder usar uma metáfora biológica ou médica, esses fenômenos sociais, políticos, já estavam implicitamente incorporados em nossa sociedade e países. Só que eram microscópicos, diminutos. O que a crise de COVID-19 fez foi acelerar essa tendência”, destacou Nicolas Firzli.

Superpotências de fundos de pensão – O Diretor do WPC observou que os ativos combinados de todos os fundos de pensão nos Estados Unidos representam 85% do PIB americano – US$ 19 trilhões. Outra superpotência do setor é a Austrália, cujos ativos somados dos fundos representam 135% da economia – US$ 2 trilhões. Canadá e Holanda também são considerados super potências de fundos de pensão.

Em sua visão, não é coincidência que esses países estão crescendo, em média, muito mais que países da Europa Central e Sul, que não são considerados superpotências de fundos de pensão. “Talvez haja uma correlação entre o tamanho da indústria de fundos de pensão e o crescimento econômico do país”.

O Brasil não está em posição ruim, notou Firzli, pois os ativos das EFPC representam em torno de 13 a 14% do PIB, cerca de US$ 240 bilhões de dólares, acima de países como Itália e França.

Ele também chamou atenção para a chamada “alocação de ativos do futuro”. “É uma tendência que observamos no mundo inteiro. Cada vez mais, fundos de pensão investindo, e irão investir mais, em infraestrutura, setor imobiliário, em equity privado. Isso por quê? Por causa da busca por rendimento”, notou Firzli.

Desenvolvimento sustentável – Outra tendência é a aceleração da mentalidade ESG e a ascensão das metas de desenvolvimento sustentável. Dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU, Firzli compartilhou sua opinião pessoal sobre as 3 metas mais importantes, que seriam a vida sobre a terra, igualdade de gênero e diversidade, e trabalho decente e crescimento econômico.

Ele observou que os investidores mais sofisticados, antes de comprarem qualquer ação ou título, estão incorporando no centro do seu processo de investimento essas metas de desenvolvimento sustentável. Muitos CEOs de Wall Street e do Vale do Silício abraçaram essa agenda verde, ESG, sem aguardar o resultado das eleições americanas na semana passada.

“Por que isso acontece? Porque os membros dos Conselhos dos fundos de pensão, os chamados trustees , são muito influentes em vários países e estão cada vez mais flexionando seus “músculos fiduciários”, pressionando os CEOs e diretores financeiros das empresas de capital aberto, cujas ações esses fundos detêm. Eles também colocam pressão sobre os ministros da economia dos mercados emergentes, cujos títulos de dívida também possuem”, observou Firzli.

Ele elencou países como França, Canadá e Austrália como destaques nessa “briga verde” dos fundos de pensão pelo movimento ESG. “Eles contribuem para que o mundo seja mais sustentável. Isso está acontecendo, apesar das eleições. Pois os mercados financeiros e investidores sofisiticados estão à frente dos políticos, sob muitos aspectos”.

Era da geoeconomia – Firzli notou que a ordem neoliberal vigente desde 1980 está próxima do fim e há uma ascensão do egoísmo no plano político em todo o mundo, traduzida por movimentos recentes como “Make America Great Again” e “Britain First”. E mais: essa tendência egoísta veio para ficar. “Quem quer que venha depois do Jair Bolsonaro, no Brasil, também será egoísta. Porque é uma característica que define a nova ordem mundial: a era da geoeconomia”.

Nesse contexto, a rivalidade entre China e Estados Unidos se intensificará nos próximos anos, independente de quem ocupar a Casa Branca, observou Firzli. Ele destacou que essa batalha não será lutada como na época da Guerra Fria nem será feita com armas balística. Mas lutada no campo da economia, finanças e comércio. A disputa em torno da tecnologia 5G e a Huawei são apenas sintomas dessa rivalidade.

O Brasil, que possui uma indústria de fundos de pensão sólida e próspera, e uma base econômica bastante diversificada, pode se tornar um líder nessa nova era, destacou Firzli.

Nações que possuem uma localização geográfica estratégica, como Brasil, Israel, Grécia, Vietnã, Austrália, Grã-Bretanha, poderão se beneficiar da aceleração da rivalidade sino-americana. “Porque serão cortejados tanto por Pequim quanto por Washington. Então, não é uma posição ruim para se estar”, completou o palestrante.

Para aprofundar o conhecimento – Firzli ressaltou que muitas das ideias apresentadas foram baseadas em sua interpretação da obra de dois grandes pensadores: Georges Doriot, general franco-americano que foi professor de gestão estratégica e finanças em Harvard, e Edward Luttwak, acadêmico anglo-americano, autor do livro “Turbo Capitalismo”, cuja leitura foi recomendada aos congressistas.

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