Encontro Regional Sudoeste Abrapp 2024 aborda tendências que impactam a gestão de investimentos

O cenário global para diversas classes de ativos foi o tema abordado no painel “Visão Prospectiva: Tendências Globais que Impactam a Gestão de Investimentos em 2024”, durante o Encontro Regional Sudoeste Abrapp, realizado nesta quinta (04) na Amcham Business Center, em São Paulo.

O painel foi moderado pelo Diretor Vice-Presidente da Regional Sudoeste da Abrapp, João Carlos Ferreira, e teve como palestrantes Ana Luisa Rodela, Head de Análise e Gestão de Crédito da Bradesco Asset Management; Carlos Garcia, Sócio Fundador da Itajubá Investimentos; Daphne Breyer, Head de ESG da BB Asset Management; e Henry Shigueyuki Oyama, Head de Produtos e Distribuição no Brasil da Hashdex.

“As tendências globais impactam significativamente a gestão de investimentos, principalmente em momentos de fluxos fortes, que influenciam a bolsa e o mercado local”, destacou Ferreira, na abertura.

Em seguida, Ana Luisa Rodela, Head de Análise e Gestão de Crédito da Bradesco Asset Management, deu início à apresentação sobre o cenário macroeconômico atual. “Se eu tivesse que resumir em uma frase, seria redução de passo. Observou-se um ciclo de cortes de juros desde agosto do ano passado, com a economia apresentando sinais de aquecimento em alguns pontos, que não se alinham necessariamente com o nível de juros reais. Essa discrepância tem gerado cautela entre os players do mercado”, afirma.

Segundo ela, apesar de um mercado de trabalho ainda em crescimento e alguns setores de consumo aquecidos, a inflação está sob controle. O mercado de crédito mostra-se aquecido, com expectativas de crescimento da carteira para o ano. Essa dinâmica, pouco comum neste ponto do ciclo econômico, é acompanhada por preocupações com questões fiscais e a velocidade de queda dos juros.

“Diante desse cenário, nossa projeção é de que a taxa Selic chegue a 9%”, explicou. Segundo ela, a Bradesco Asset Management mantém uma postura positiva, mas cautelosa.

No âmbito global, o cenário é desafiador, com previsões de cortes na taxa do FED nos Estados Unidos ao longo dos próximos anos, mas com um mercado de trabalho bastante aquecido.

Crédito Privado

Em seguida, Ana Luisa fez uma apresentação sobre crédito privado, e apresentou os modelos de rating qualitativo, financeiro e setorial. A gestora aplica uma regra de rating nos emissores de acordo com o grau de classificação crédito. “Não trabalhamos com nenhum emissor corporativo com rating menor que AA. Nosso olhar é voltado para o qualitativo, setorial e financeiro. No financeiro todo mundo concorda, acho que a diferença está no detalhe da empresa que se observa durante a análise”, afirmou. Ela lembrou os eventos que levaram problemas a essa classe de ativo no ano passado, como o de Americanas e Light. Nesse cenário, houve mudança na percepção de risco e retorno do investidor, o que influenciou a análise de outras empresas que não estavam igualmente frágeis à época.

Ana também abordou os produtos estruturados, cujo método de análise é minuciosa porque tem detalhes e diferenças em relação a outros ativos, quando se considera a carteira. “O risco da carteira está mais atrelado ao cedente, risco de avaliação e evento de liquidação”, afirmou. Nessa classe também é importante monitorar o papel dos prestadores de serviços, com realização de due diligence de administrador. “Todo mês, observamos toda a carteira dos FIDCs, que exige acompanhamento para uma ação rápida em caso de sinal de fumaça. Conseguimos sair de vários no ano passado”, contou.

Na análise dela, se há dez meses havia um pé no acelerador para comprar crédito privado, agora não é momento de estar over nessa classe. “Estamos cautelosos e com disciplina. Ao mesmo tempo em que queremos incluir mais na carteira, não queremos exposição a um risco negativo”, disse. O momento é de seletividade. O agronegócio, segundo ela, segue com produtividade boa, margens interessantes, ainda que não esteja no nível que esteve anteriormente, já que os preços não estão em patamares elevados. “Estamos atentos ao Fiagro, que está muito concentrado em investimentos em terra e máquina. As safras estão boas, mas os preços não estão tão elevados. Nossa visão é de pulverização para controlar o risco”, concluiu.

Debêntures

Carlos Garcia, Sócio Fundador da Itajubá Investimentos, enfatizou a importância de uma gestão ativa na parte de crédito durante apresentação sobre debêntures. “Não se trata apenas de fazer a seleção e esperar até o vencimento. Uma gestão ativa permite aproveitar bons momentos e oportunidades”, destacou.

Ao analisar o ciclo de vida das empresas, Garcia ressaltou que elas podem tomar recursos em diferentes estágios de seu desenvolvimento. Desde o lançamento, quando são consideradas high yield por não possuírem histórico, até sua maturação, quando podem ser classificadas como high grade ou até mesmo declinar.

“Nesse processo, existem várias oportunidades para uma gestão mais ativa da relação risco-retorno”, explicou Garcia. Ele comparou o mercado de debêntures ao mercado de ações, destacando como eventos significativos podem impactar o preço desses títulos, proporcionando oportunidades de valorização.

Garcia também abordou a liquidez do mercado de debêntures, destacando um crescimento significativo de 73% no número de operações de 2022 para 2023. Apesar disso, observou uma participação ainda baixa dos investidores institucionais na aquisição desses títulos, com apenas 6,65% de aquisição direta em 2022.

“No ano passado, os investimentos diretos dos fundos de pensão em debêntures representaram 10%, o que ainda é uma participação pequena”, explicou Garcia, citando dados da Previc. Ele ressaltou que, embora o mercado de debêntures ofereça oportunidades, sua complexidade exige profissionais qualificados lidando com essa área de crédito e gestão ativa.

Investimentos Responsáveis

Daphne Breyer, Head de ESG (Ambiental, Social e Governança) da BB Asset Management, trouxe à tona reflexões sobre investimentos sustentáveis em sua apresentação. Segundo ela, a integração dos princípios ESG nos investimentos não apenas traz benefícios para a sociedade, mas também oferece retornos financeiros a curto, médio e longo prazo.

“Estamos falando diretamente sobre externalidades positivas para a sociedade, com retorno financeiro no curto prazo também”, destacou. Ela abordou a importância de desmitificar a ideia de que investimentos sustentáveis são apenas para a montagem de portfólios, enfatizando a captura de retornos no curto prazo.

Daphne também compartilhou insights sobre o histórico da BB Asset em investimentos sustentáveis. “Nosso primeiro Fundo Sustentável foi lançado em 2005”, revelou. Ela destacou o compromisso contínuo da BB Asset Management, que foi uma das primeiras assets signatárias aos Princípios de Investimento Responsável (PRI), em 2010.

A abordagem da gestora vai além das ações individuais, cobrindo todo o portfólio com análises ESG. “O nosso portfólio hoje soma cerca de R$ 1,5 trilhão de ativos sob gestão, e em torno de 98,7% estão cobertos por análise ambiental, social e de governança”, afirmou.

Além disso, Daphne ressaltou o compromisso da BB Asset Management em promover a governança corporativa. Ela compartilhou um caso recente de interação com uma empresa investida, onde questões sobre governança foram levantadas, demonstrando o envolvimento ativo da gestora com as empresas em que investe.

A asset também está buscando ampliar suas estratégias de investimento sustentável. “Recentemente, o Banco do Brasil formou uma nova parceria com a JGP, com o objetivo de ser a referência sobre práticas de investimentos sustentáveis”, anunciou Daphne. A gestora visa expandir seu portfólio de fundos sustentáveis e alcançar uma média de R$ 222 bilhões em ativos até 2030.

Criptoativos

Henry Shigueyuki Oyama, Head de Produtos e Distribuição no Brasil da Hashdex abordou os criptoativos e a importância de frameworks regulatórios, educação e abordagens de investimento na exploração de seu potencial dentro dos portfólios. A gestora brasileira, com presença global, conta com mais de  230 mil investidores na base e aproximadamente R$ 5 bilhões sob gestão.

“Quando falamos sobre criptoativos, estamos discutindo uma classe de ativos que segue uma tendência global. Ela vem se destacando desde seu surgimento com o Bitcoin, e especialmente na última década “, afirma Oyama.

Segundo ele, os criptoativos se destacaram em diversas perspectivas, não apenas em termos de risco, que muitos conhecem, mas também em relação ao potencial de retorno. Ele ressaltou a importância de compreender a volatilidade e as características fundamentais dessa classe de ativos. “Os esforços educacionais precisam ser disseminados entre os investidores para compreender os benefícios que essa nova classe de ativos traz para os portfólios”, acrescenta.

Além disso, Oyama abordou o aspecto da correlação. “Trata-se de diversificação com ativos que não estão necessariamente ligados a questões políticas ou econômicas de um país.”

À medida que a discussão avança, a atenção se volta para os avanços regulatórios globalmente. O Head da Hashdex destacou a importância da regulamentação na proteção dos investidores e em atraí-los ao mercados de capitais. “A regulamentação fornece o arcabouço necessário para a proteção dos investidores. Os reguladores ao redor do mundo têm avançado nos últimos anos para atender a demanda dos investidores por soluções reguladas e supervisionadas.”

Segundo ele, países como o Reino Unido e o Japão deram passos para permitir investimentos em criptoativos. Essa movimentação ganhou destaque com a aprovação nos Estados Unidos do primeiro ETFs de Bitcoin listado em bolsa.

“Gostamos de dizer que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose e para os ativos isso é muito importante e fundamental. Estamos falando de uma pequena alocação para rebalancear com frequência, pensando no horizonte de longo prazo”, concluiu.

A série de Encontros Regionais é uma realização da Abrapp com apoio institucional da UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta. Patrocínio Ouro: Bradesco Asset Management. Patrocínio Prata: HMC Capital e Itajubá Investimentos | AI. Patrocínio Bronze: BNP Paribas, Mapfre Investimentos e Trígono Capital. Apoio: Apoena Seguros, Bahia Asset Management, IAP, PFM Consultoria e Sistemas, e RJI Investimentos.

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