Entrevista: Roque Muniz de Andrade, Presidente da Ancep

Roque Muniz de Andrade, Presidente da Ancep

A longevidade de Roque Muniz Andrade na Associação Nacional dos Contabilistas das Entidades de Previdência – Ancep poderia fazer inveja a líderes como Angela Merkel, que ficou por 16 anos à frente do governo alemão. Eleito no final de setembro para seu 14º mandato na presidência da Associação – biênio 2021-2023 –, Roque segue há 28 anos na função, conduzindo a entidade em meios às transformações do mercado e sendo reconduzido a cada dois anos por seus pares.

“Outros presidentes me perguntam: ‘Roque, como é que você consegue?’. Eu não sei. Quem consegue são os meus parceiros de trabalho”, afirma o dirigente da Ancep com bom-humor e humildade.

Nesta entrevista, Roque conta como foram construídos os fortes laços entre a comunidade de contabilistas, que resultaram na criação da Ancep, e a exitosa parceria desta com a Abrapp – que teve como produto recente o Manual de Contabilidade Aplicado às EFPCs, considerado um marco para o setor.

Abrapp em Foco: Ao iniciar mais um mandato na presidência da Ancep, como o sr. se sente?

Roque Muniz de Andrade: Estou muito feliz por estar há quase 30 anos na presidência da Ancep, a serem completados em 2023. Quando comecei a trabalhar na Telos – Fundação Embratel de Seguridade Social, eu ainda não era contador; eu era técnico de contabilidade e já havia cursado a faculdade de administração de empresas. O então diretor financeiro da entidade, Almir Nine, me incentivou a fazer o curso superior de contabilidade para que eu me tornasse contador da Telos. Posteriormente, quando eu já era contador, fui impulsionado por outro diretor financeiro da Telos, José Maria Souza Adeodato, que motivou e fez questão da minha inscrição no primeiro Congresso da Abrapp, realizado no Copacabana Palace, no qual pude me relacionar com diversos contadores do segmento. Assim, posso dizer que o sr. José Maria Adeodato contribuiu de forma bastante acentuada para a criação da Ancep!

Naquela época, segunda metade da década de 1970, não existia a abundância, a facilidade de acesso às informações que temos hoje. Foi então que constituímos um grupo, que ficou muito unido, e um ajudava a esclarecer as dúvidas do outro. Essa união que resultou em nossa Ancep, e o fato de eu estar há tanto tempo na presidência, teve um aspecto muito importante: a comunicação.

Ao longo dessas quase três décadas, é raro o dia em que eu não ligo para um contador ou para a Secretaria de Previdência ou a Previc. O grupo Ancep tem sido de valia muito grande para os profissionais da nossa categoria, viramos uma consultoria para eles. Difundimos as informações debatidas nas Comissões Técnicas da Ancep e da Abrapp e com outros interlocutores. Um profissional, mesmo que não participe desses fóruns, poderá ter suas dúvidas esclarecidas, pois estamos lá e vamos levar suas perguntas e ele vai receber as respostas de imediato.

Como foi o início da Associação?

Naquela época, década de 1970, a Secretaria de Previdência Complementar não tinha muita estrutura; nosso grupo de contabilistas é que levava, de forma conjunta, as informações das fundações para eles. A Secretaria apoiou muito o nosso grupo, o que reforçou ainda mais essa coesão e união das pessoas. Fazíamos reuniões mensais em uma churrascaria – alguns até indagavam com bom humor se íamos trabalhar – mas o fato é: cada um chegava com uma maçaroca de dúvidas e só se começava a comemorar alguma coisa depois que todos resolviam os problemas. Representantes da Secretaria participavam dessas reuniões – inclusive o Secretário foi uma vez, para assinatura de um ofício perante mais de 100 profissionais de contabilidade. Foi ali que se iniciou essa coesão. E um dia nos indagamos: e se isso se tornasse uma Associação Nacional de Contabilistas? Então, fundamos a Ancep, em 27 de setembro de 1985.

Nossa Associação já tem mais de 12 Congressos realizados e agora estão me perguntando pelo 13º, que acredito que poderá ser retomado de forma presencial, com o arrefecimento da pandemia. Então, é imensa a minha satisfação por saber que temos e mantivemos esse grupo unido ao longo de tanto tempo.

O sr. poderia comentar sua visão sobre a parceria entre Ancep e Abrapp e seus benefícios para os profissionais do setor?

Participamos das Comissões Técnicas de Contabilidade da Abrapp, realizamos o Encont – Encontro Nacional dos Contabilistas das Entidades Fechadas de Previdência Complementar e, mais recentemente, o 2º Fórum UniAbrapp e Ancep. Nossas comissões regionais reforçam essa união Ancep/Abrapp construída ao longo dos anos, difundindo a cultura previdenciária entre todos os contabilistas, valorizando os profissionais que precisam estar sempre reciclados. Inclusive, essas Comissões estão permanentemente em harmonia com a Previc.

Gostaria de destacar que, após muitos anos e muitas reuniões, concretizamos um sonho: a publicação do Manual de Contabilidade Aplicado às EFPCs (lançado em setembro de 2021). Chamamos atenção para a dedicação dos técnicos que desenvolveram os capítulos do livro. Para nós, essa obra é um marco para o setor e, daqui para a frente, será atualizada e refinada. Esse legado marca bem o esforço dedicado, em nossos 36 anos de Ancep, e a forte parceria com a Abrapp que nos levou a concluir essa obra conjunta. Inclusive, um professor da USP, Eduardo Flores, lançou um podcast dissecando os capítulos do nosso Manual – o que para nós é um tremendo elogio e reconhecimento.

Poderia citar alguns temas que considera relevantes para essa parceria no futuro?

Um exemplo é o CNPJ por Plano, que virá com toda força a partir do próximo ano, com o apoio da Abrapp e da Ancep. É uma medida importante porque evidencia, identifica os patrimônio de cada plano, e sabemos que o sistema crescerá por planos. Também enfatizo o fortalecimento dos planos família, uma grande forma de aumentarmos o número de pessoas protegidas pelo guarda-chuva da previdência complementar –fomento que o sistema tanto precisa.

É muito importante essa união esforços com a Abrapp, pois precisamos zelar pelo patrimônio do sistema, para que o participante tenha a segurança de recebimento do seu benefício. E o meu entusiasmo é esse: ver a previdência complementar crescendo com o apoio de importantes parceiros, juntando as forças dos nossos profissionais técnicos. É fundamental valorizar as entidades fechadas que prestigiam e apoiam nossas iniciativas, pois sem elas não iríamos muito longe.

Como a entidade tem adaptado suas atividades ao cenário de crescente digitalização?

Parte dos nossos eventos tem sido realizada de forma virtual e estamos estudando a retomada da parte presencial. Mas, mesmo quando voltarmos a realizar os principais eventos no modelo presencial, o que é importante, creio que ainda faremos a maioria das iniciativas no formato virtual. É uma situação já consagrada, não tem jeito.

Quais os planos futuros da Ancep?

Continuaremos com ações voltadas à pesquisa e também fomento dos planos de previdência junto aos contabilistas, além de acompanhar bem de perto com a Previc  as mudanças previstas para o próximo ano, como CNPJ por plano, evidenciando a parceria entre a Ancep e o sistema Abrapp, que vem para dar mais confiança aos participantes. Também vamos incentivar a ampliação da previdência por meio dos planos família, e realizar seminários para preparar os profissionais das EFPCs no enfrentamento dessas cargas de mudanças de cenários e critérios.

Também pretendemos rever nosso planejamento estratégico, modernizar instalações e fortalecer as parcerias consolidadas com o sistema Abrapp, Previc, SRPC, CNPC, RFB, CFC, CRCs, Apep, Iba, Apimec, Ibracon, Anapar e outras – aumentando os números de associados pessoa física e pessoa jurídica.

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