Incertezas e custo de oportunidade reduzem apetite das EFPC por investimentos no exterior

A participação do investimento no exterior nas carteiras das EFPC diminuiu ao longo do ano passado, conforme as incertezas em relação às economias globais permaneciam. O consolidado estatístico da Abrapp mostra que, até outubro de 2022, a participação do investimento no exterior nas carteiras era de 0,8% ante 1,6% em 2021.

Após a redução da exposição nessa classe de ativo, que proporcionou retornos expressivos até 2021, gestores das EFPC dizem que estão acompanhando os desdobramentos de temas como a pausa da elevação da taxa de juros pelo FED (Federal Reserve), os resultados do lucro das companhias que compõem o S&P500, e a retomada das economias europeia e chinesa.

“Reduzimos a posição em investimentos no exterior e, pelo menos até julho, não estamos com apetite para voltar a alocar. Será necessário dissipar algumas dúvidas importantes”, disse o diretor de investimentos da Vivest, Jorge Simino. A entidade iniciou o investimento no exterior em 2014 e até 2021 a rentabilidade acumulada dessa classe de ativo foi de 337%, bem acima da meta atuarial de 214% no período.

Em um cenário de aumento de riscos e incerteza, a alocação em investimentos no exterior da Vivest, feita por meio de fundos locais que investem fora e também BDRs, passou de 14% do patrimônio em 2021 para 2% em 2022. Atualmente, a entidade faz a gestão de R$ 35 bilhões de patrimônio.

Da parcela que permaneceu alocada em exterior, exclusivamente em fundos locais que investem fora, dois terços estão em Renda Variável e o restante em Renda Fixa. Desde então, Simino diz que a posição foi mantida, e não houve mais movimentações de compra e venda.

Ele diz que aguarda a revisão dos lucros das empresas do S&P500 e mais informações sobre a retomada da China após o período de lockdown. “Além disso, no mercado doméstico, temos um custo de oportunidade de 13,75% ao ano. Se a inflação fechar ao redor de 7%, de acordo com projeções de mercado, há espaço para a Renda Fixa oferecer uma rentabilidade real no ano, acima da nossa meta atuarial de inflação mais 4,75%. Naturalmente, o apetite para o risco fica baixo”, completa o diretor da Vivest.

Riscos e oportunidades

As oportunidades para compra de ativos no exterior ainda estão associadas a riscos muito elevados, mas a expectativa do gerente técnico de investimentos da Centrus, Gustavo Ottoni, é que a incerteza diminua ao longo desse ano. “Com a estabilização da taxa de juros pelos Bancos Centrais e com definição de cenário de crescimento econômico, podemos voltar a alocar taticamente, por meio de BDRs”, afirma.

No começo de 2022, a entidade reduziu a exposição de 12% em investimentos no exterior da carteira de planos CD pela metade, para 6%. A redução ocorreu em razão de uma conjuntura de maior risco, diante da necessidade dos bancos centrais realizarem o aperto monetário. Hoje, a Centrus faz a gestão de patrimônio de R$ 7 bilhões.

No começo do ano passado, a alocação mais tática por meio de ETFs e BDRs foi encerrada, e a carteira permaneceu exposta a exterior por meio da alocação em fundos exclusivos de gestores locais que investem em ativos fora do país, o que permitiu diversificação geográfica e setorial.

“É importante diferenciar o papel do investimento no exterior para planos de Benefício Definido, que é diferente para planos de Contribuição Definida. Para planos BD, quando a carteira de fluxo é bem montada, o investimento no exterior não é crucial, mas é fundamental para o CD, porque traz diversificação. Atua como um seguro em tempos ruins para as principais classes de ativos. Fomos felizes na alocação no exterior nos dois anos anteriores a 2022, que foram complicados para várias classes de ativos e a parcela no exterior teve rentabilidade de 51,83% (2020) e 38% (2021)”, concluiu Ottoni.

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