Três dias de programação intensa, com painéis e importantes debates sobre as experiências previdenciárias chilena e mexicana, marcaram o seminário A Estrutura da Previdência nas Américas, realizado em Santiago, no Chile. O evento, realizado no período de 06 a 09 de junho, foi organizado pela Abrapp e UniAbrapp e acompanhado por dezenas de participantes de EFPC, que puderam aprender com as experiências internacionais e compartilhar conhecimentos.
A atmosfera de sinergia propiciou um intenso intercâmbio de experiências, segundo o Diretor-Presidente da Abrapp, Jarbas Antonio de Biagi. Os painéis mostraram o quanto alguns países da América Latina estão mais avançados no Brasil, especialmente no mercado de anuidades no caso do Chile.
“O mercado de anuidades efetivamente acontece de forma tranquila, com o próprio órgão regulador estabelecendo premissas e hipóteses atuariais para que sejam calculados, e há efetivamente a contratação. Nesse sentido, o Brasil ainda tem muito a avançar”, afirmou. O tema foi abordado em painel de Patrício Espinoza, diretor da Divisão de Regulação de Seguros da Comissão para o Mercado Financeiro (CMF) do Chile.
O diferencial, segundo a Diretora-Presidente da UniAbrapp, Claudia Trindade, é que no mercado de anuidades chileno é possível fazer a acumulação em uma entidade e converter em renda em uma seguradora, o que não existe no Brasil, onde tanto a acumulação quanto o benefício são efetuados dentro da mesma entidade fechada de previdência complementar.
No Chile, existem sete AFPs, que podem receber contribuições dos cidadãos, mesmo daqueles que não têm vínculo formal de trabalho. No Brasil, essa possibilidade de acesso à acumulação previdenciária passou a ser possível com o plano Instituído Corporativo, o que mostra a direção certa. “O seminário foi uma imersão de corpo e alma dentro do sistema de previdência do Chile e do México, que são diferentes do Brasil. Os painéis trouxeram muitas reflexões sobre esses modelos e ampliaram a visão dos participantes”, comentou Claudia.
O Diretor-Presidente da Abrapp avaliou que dentro dos órgãos reguladores é possível pensar em desenvolver um mercado de anuidades local. Outro ponto que considerou relevante entre as experiências apresentadas foi o limite de investimento no exterior nas entidades de previdência latino-americanas, que chega a ser de 50%, o que possibilita maior liberdade para o gestor adotar limites mais flexíveis, de acordo com sua governança e características de planos. Destaque semelhante foi conferido ao painel sobre investimentos em infraestrutura.
Outro ponto alto do seminário foram as apresentações sobre educação financeira e previdenciária, área que ainda precisa evoluir em ambos os países da América Latina, e foram realizadas por Paula Bustos, chefe de Educação Econômica e Financeira do Banco Central do Chile, e Andrea Bentancor, professora assistente da Universidade de Talca. “Esse painel chamou atenção, pois a dor deles é igual a nossa, e até meio que global, pois a parcela que poupa para o futuro é pequena. Precisamos de ações de educação financeira e previdenciária em escolas, desde os primeiros anos até a universidade”, observou Claudia.
Mais um ponto em comum foi a preocupação com a longevidade, tema do painel de Manuel-García Huítron, consultor internacional e cofundador da Nuovalo. “Tanto lá como aqui existe a preocupação de avançar na proteção ao participante quando ele está no momento do recebimento de benefícios até a idade avançada. Nesse sentido temos muito o que desenvolver”, afirmou Jarbas de Biagi.
O painel que mais provocou interações do público, no entanto, foi o de tema mais contemporâneo: segurança e resiliência cibernética, apresentado por Carolina Baes, gerente de Soluções Financeiras, Crédito e Garantia para o Cone Sul da WTW. Repleto de exemplos sobre aspectos da segurança na inteligência artificial, o painel trouxe diversos aprendizados para os presentes.
Participantes destacam a excelência do evento
Luís Ricardo Martins, Presidente do Conselho Deliberativo da Abrapp, destacou a excelência, organização, conteúdo ímpar e os palestrantes renomados do evento. “É o primeiro evento após pandemia, e foi um momento marcante. Vimos o engajamento, várias entidades participando, muito conteúdo e muitas informações, o que mostra a grande representatividade e respeito pela Abrapp”, afirmou.
Segundo ele, foi possível notar que as dores desses países são as mesmas na previdência complementar, diante de tendências mundiais nas relações de trabalho, na digitalização e tratamento de dados, na longevidade e baixa natalidade. “O Brasil tem muito a ensinar também. Com nossa heterogeneidade, legislação e uma previdência complementar complexa, temos muito a ensinar. Essa troca de informações e conhecimento faz com que possamos buscar esse aperfeiçoamento e refletir que estamos no caminho, liderados pela Abrapp, com planos como Instituído Corporativo, PrevSonho e medidas de educação previdenciária e aproximação com jovens”, avaliou.
Cristiano Herckert, Diretor Presidente do Funpresp-Exe, destacou que o seminário internacional foi de altíssimo nível, por proporcionar o conhecimento em detalhes das experiências chilena, muitas vezes referida como case internacional, e também do México, tema do painel de Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos da América Latina e Península Ibérica da BlackRock.
“Houve uma rica troca de experiências entre as entidades brasileiras presentes no evento e os painelistas internacionais. Conhecer a previdência de outros países é importante para que a gente amadureça, à luz da realidade brasileira, onde temos tanto o sistema público de repartição quanto o regime de capitalização na previdência complementar, especialmente nos planos CDs, como é o caso do Funpresp-Exe. As experiências e tendências internacionais podem ser muito úteis para aprimorar nossos planos de previdência fechada no Brasil. Parabéns à Abrapp e a todos os envolvidos na organização do seminário”, afirmou Herckert.
Edécio Brasil, Diretor-Presidente da Valia, avaliou o evento como uma grande oportunidade porque o Chile tem uma experiência muito rica no regime de capitalização, com erros e acertos, que trazem uma indicação do que é importante em termos de gestão previdenciária, passando por educação financeira e previdenciária, dos pilares que se complementam, de uma parcela solidária e de parcelas contributivas individualizadas, mandatórias ou voluntárias.
“Além da experiência chilena, tivemos oportunidade de conhecer boas experiências da América Latina como um todo, com especial destaque ao caso mexicano. A qualidade e o nível dos expositores, importantes autoridades e grandes pensadores e pesquisadores do assunto na região, enriqueceram enormemente o evento, permitindo debates de altíssimo nível, com contribuições marcantes também dos dirigentes brasileiros que participavam do evento. Um subproduto também relevante do evento foi a oportunidade de integração e de troca entre os participantes brasileiros, dos quais tive alguns dos melhores aprendizados no nosso setor”, pontuou Brasil.
O seminário internacional foi patrocinado pelas gestoras Bahia Asset Management, BlackRock, HMC Capital, Patria e SPX Capital. O próximo evento deverá ser realizado na Europa.
(Colaborou: Bruna Chieco)