Nova edição da Revista: Demanda de investidores gera aumento de 30% no número de empresas que divulgam dados climáticos no Brasil*

*Edição n. 445 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.

 

Por Martha Elizabeth Corazza

CDP: cresce reporte de riscos ambientais – Criado em 2000 e com o início das atividades no Brasil em 2006, o Carbon Disclosure Project (CDP) registra nos últimos dois anos um salto de crescimento no País, com o avanço do número de signatários e de companhias que fazem reports sobre suas práticas ambientais para mapear os riscos associados a questões climáticas, florestais e de segurança hídrica. “Esse crescimento teve como principal motivador a ação dos investidores, que passaram a exigir das empresas as informações sobre os temas abrangidos pelo CDP”, informa Laís Cesar, Gerente de Desenvolvimento de Negócios do CDP na América Latina. Ela diz que o número de empresas que reportam seus dados no Brasil passou de 986 em 2021 para 1.300 no ano passado, um aumento de 30%.

Essas 1.300 companhias representam um total de R$ 113 bilhões em riscos ligados às mudanças climáticas, que podem se traduzir em riscos físicos, como nos casos de secas que impactam o agronegócio, levam à menor produtividade, menos lucro e redução do valor de mercado das companhias. O maior interesse pela cobrança de informações veio das instituições financeiras, puxado desde 2020 pela agenda internacional de investimentos responsáveis (que seguem práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governança ou ESG na sigla em inglês).

Mas o crescimento não ocorreu apenas no Brasil. O número de empresas que reportam informações ao CDP no mundo passou de 13 mil para mais de 18 mil entre 2021 e 2022, totalizando cerca de 50% da capitalização do mercado global.

O Carbon Disclosure Project detém o maior banco de dados ambiental do mundo e está totalmente alinhado à TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), uma força-tarefa que reúne diversas organizações dedicadas a desenvolver um padrão comum para as empresas mapearem e divulgarem os riscos financeiros relacionados ao clima. É, ainda, membro fundador das iniciativas Science Based Targets, We Mean Business Coalition, The Investor Agenda e da Net Zero Asset Managers.

No Brasil, o Projeto tem atualmente 32 signatários, incluindo bancos, assets, seguradoras, fundos de pensão e outros players do mercado, com o número de casas gestoras de investimentos passando de 15 para 18 no ano passado. Mas apesar dos avanços recentes, o País ainda está no início do caminho dos investimentos ambientalmente responsáveis, lembra Laís Cesar, o que está refletido no número de fundos de investimento exclusivamente dedicados ao tema ESG por aqui: são US$ 3 bilhões em patrimônio contra um volume mundial de U$$ 16 trilhões.

“É ainda um número muito baixo, mas esse é um trabalho que está sendo desenvolvido agora entre os reguladores e autorreguladores. Em 2023, devemos ter novidades nessa área”, acredita a Gerente. As medidas que visam aumentar a transparência da comunicação de informações sobre riscos ambientais integram o planejamento do Banco Central brasileiro e estão alinhadas com o trabalho feito pelo Banco Central britânico.

O relatório divulgado no final do ano passado pelo Banco Central mostra a relação entre os diversos tipos de riscos envolvidos. “O olhar do BC procura identificar como os riscos climáticos podem afetar os riscos financeiros e o sistema financeiro nacional, em linha com o que foi feito na Inglaterra para avaliar os impactos em vários cenários de aquecimento global”, conta Cesar.

No relatório da autoridade monetária brasileira (Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas) estão detalhadas as frentes de trabalho criadas para tornar mais efetiva a atuação do BC na identificação e gestão dos riscos ESG. O plano de ação surgiu à medida que aumentou a preocupação com as crescentes exigências da regulação global por conta do que está sendo solicitado na Europa, observa Cesar.

Padrão ISSB para o clima – Entre as principais medidas a serem adotadas pelo CDP em 2023 está a incorporação do padrão de divulgação do Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (International Sustainability Standards Board – ISSB) relacionado às mudanças climáticas, que passará a integrar a sua plataforma global de divulgação ambiental. O anúncio da incorporação foi feito em novembro passado durante a COP 27, no Egito. “Essa decisão deverá apoiar a divulgação dos dados porque os participantes do mercado já estão bem acostumados ao padrão do ISSB. Hoje há diversos frameworks para isso, mas a decisão de adotar um padrão já bem conhecido facilitará o processo”, diz.

Caberá ao CDP transmitir esses dados aos investidores e outros stakeholders ao dar acesso às informações ambientais das empresas em formato consistente e comparável em todas as regiões. Além disso, o CDP fornecerá à Fundação IFRS (International Financial Reporting Standards Foundation), que supervisiona a definição de padrões de relatórios financeiros, os dados sobre todas as divulgações feitas em relação ao padrão climático, o que permitirá monitorar a adoção e implementação efetiva dos mesmos.

Como o CDP está muito alinhado à TCFD, cujo framework já é bem conhecido, e como o IFRS S2 (Divulgação Relacionada ao Clima, da Fundação IFRS) está identificado em alguns pontos com essa força-tarefa, a transição das empresas deve ser suave, sem desgastes. O objetivo é que as companhias já estejam alinhadas ao padrão global no ciclo de divulgação de informações de 2024, o que significa que esses dados estarão refletidos nos relatórios do CDP em 2025.

O anúncio feito pelo CDP enviou um sinal importante para o mercado ao mostrar que o CDP e o ISSB estão unidos para responder à demanda crescente por informações eficazes e consistentes a respeito das questões climáticas. O padrão será incorporado aos questionários do CDP emitidos anualmente para as companhias em nome de 680 instituições financeiras signatárias, que respondem por mais de US$ 130 trilhões em ativos.

(Continua…)

 

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