*Edição nº 448 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.
Por Martha Corazza
Aumenta oferta de perfis de investimento em planos CD – Quase três anos de juros em alta, incertezas e forte volatilidade nos mercados financeiros produziram migrações expressivas dos participantes dos planos de benefícios que oferecem perfis de investimento. Os movimentos refletem uma fuga dos perfis mais agressivos ou mesmo moderados para os conservadores, que têm baixíssima ou nenhuma alocação em Bolsa. Evitar esse tipo de decisão baseada num olhar de curtíssimo prazo é o grande desafio enfrentado pelas fundações na hora de construir e implementar seus programas. Educação financeira/previdenciária é fundamental, mas nem sempre suficiente, o que torna ainda mais relevante desenhar corretamente a modelagem e respeitar as necessidades de cada grupo de pessoas.
“A ampla maioria das entidades acabará por adotar os perfis porque é muito difícil colocar todos os participantes no mesmo bolso em planos que não são mutualistas”, acredita Guilherme Benites, Sócio e Diretor da Consultoria Aditus. Entre as EFPCs acompanhadas pela consultoria, diz ele, quase metade já adota o modelo.
Os perfis mais agressivos são pensados para o participante que vai ficar mais tempo no plano, mas desde o final de 2020, pela conjuntura do mercado, eles foram quase dizimados pela fuga do risco. Muitos desses perfis também procuraram ajustar suas carteiras, saindo de 40% para 30% de alocação em Bolsa, na medida em que as entidades adaptam sua alocação como um todo. “Ainda assim, há oferta e demanda por perfis com 50% e até 60% de Bolsa, mas eles estão cada vez mais raros”, avalia o consultor.
A tendência, pondera Benites, é de crescimento dos perfis e planos ciclo de vida ou outros tipos que atrelem a escolha do participante a algo bem objetivo, como a sua idade. Mas ele alerta que tudo precisa ser feito com muita parcimônia. “A portabilidade, os perfis e outras ferramentas ainda vão passar por muitas mudanças nos próximos anos. O participante quer cada vez mais agilidade e as entidades têm se preparado para isso”, enfatiza.
Benites observa que os perfis criados há três ou quatro anos pegaram uma janela de mercado horrível e que é preciso combinar o jogo com o participante porque mudanças frequentes de perfil trazem prejuízos. “Todas as fundações têm programas de educação financeira, mas não necessariamente vemos os participantes responderem a isso.” Em sua opinião, falta a percepção de que o dinheiro da previdência deve ser visto de maneira diferente dos investimentos feitos em plataformas digitais, por exemplo.
A cereja do bolo – A adoção dos perfis de investimento pela Previnorte começou a ser discutida no ano passado como parte do seu planejamento estratégico para o período 2023- 2027. “Em busca de maior aproximação com os participantes, várias iniciativas foram identificadas e percebemos, pelos comentários recebidos, que havia necessidade dos perfis, ainda que as pessoas não tenham reivindicado isso expressamente”, diz Marcus André Silveira de Cerqueira, Diretor Financeiro da entidade.
O modelo vem junto com o projeto de modernização de um dos planos CD atuais (o O1-B), em fase de implantação, devendo estar disponível até janeiro de 2024. O novo plano ganhará o nome de Previnova. “É o nosso antigo plano patrocinado pela Eletronorte que ainda tem uma parcela BD, mas está sendo transformado em CD puro. Ele já nascerá com perfis, que são a cereja do bolo desse projeto”, explica Cerqueira. Com R$ 4,5 bilhões de patrimônio e um total de seis mil participantes, a fundação definiu três perfis clássicos – conservador, moderado e um mais arrojado. Eles serão adotados nos três planos CD de três diferentes patrocinadores, mas, de início, apenas o Previnova irá oferecê-los.
O processo é trabalhoso e exige a adequação dos perfis a normativos, controles e riscos. A implantação começou pela elaboração dos manuais e política de investimento. Em seguida, vem a adequação dos sistemas. Depois é hora da implementação dos processos e finalmente da educação, com palestras sobre as implicações das escolhas feitas pelos participantes. “Ouvimos outras fundações e constatamos que a maioria das pessoas fica entre o perfil conservador e o moderado. Como a nossa carteira tem perfis desse tipo, acreditamos que poucos deverão ir para o mais arrojado”, diz Cerqueira.
O grande receio é a possibilidade de que as pessoas queiram entrar e sair dos perfis com muita rapidez. “O ideal seria que ficassem aderentes aos seus ciclos de vida, então o nosso desafio é promover uma educação financeira adequada”, afirma o Diretor Financeiro. A abertura dos perfis para eventual troca acontecerá apenas uma vez por ano, até por uma questão operacional.
Embora tenha optado por não oferecer ciclo de vida, a entidade tem um estudo, já em andamento, para os participantes que preferirem não optar por um perfil determinado. “É um estudo quantitativo que nos permitirá fazer a opção pelo participante, de acordo com o seu ciclo de vida”, explica o dirigente.
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