Nova edição da Revista: Fundos setoriais italianos montam consórcio mirando ativos ilíquidos*

*Edição nº 450 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.

 

Por Flávia Silva

Três projetos em operação proporcionam economias de escala, acesso a um leque mais amplo de investimentos e redução de riscos operacionais – Há cerca de cinco anos, alguns fundos setoriais italianos, conhecidos como fondi negoziali, formaram um consórcio para investir em private equity por meio do Projeto Íris ou Progetto Iride. De início, aportou-se pouco mais de €200 milhões via Fundos de Investimento Alternativo (FIAs), mas a iniciativa foi tão exitosa que, ano passado, o consórcio anunciou uma nova rodada de €115 milhões dedicada ao segmento. Animados com a primeira empreitada, as entidades estruturaram, em 2020, o Projeto Zéfiro, dessa vez para investir €195 milhões em dívida privada. Mais recentemente, em 2023, o foco dos fondi negoziali passou para a infraestrutura, que recebeu, por meio do Projeto Vesta, €168 milhões em AIFs que privilegiam a sustentabilidade (prioridade, aliás, de todas as alocações). Os projetos, de maneira geral, confirmam a tendência – e a necessidade – de estimular o mercado doméstico de capitais e a participação dos investidores institucionais italianos na economia real.

O consórcio que originou o Projeto Íris em 2019 reuniu cinco fundos setoriais: Foncer (trabalhadores da indústria de azulejos), Fondenergia (setor energético), Fondo Gomma Plastica (indústria de borracha e plástico), Pegaso (setor de serviços de utilidade pública) e Previmoda (segmento de moda e têxtil). Na primeira iniciativa conjunta no private equity, foram investidos €216 milhões em nove Fundos de Investimento Alternativo (ou Alternative Investment Funds – AIF, como são conhecidos na comunidade internacional).

O projeto surgiu de um estudo aprofundado sobre ativos alternativos que destacou o seu impacto positivo sobre o desempenho das carteiras e relevância para o alcance dos resultados de longo prazo dos planos de benefícios. Concebido num período marcado pela baixa rentabilidade, o esforço conjunto buscava maior diversificação e fontes de retorno, além de permitir o alcance de economias de escala, seja durante o processo de escolha dos gestores, seja após a inauguração dos mandatos.

Coube à empresa Neuberger Berman, selecionada através de licitação, gerenciar o fundo de fundos, aquisições diretas e estratégias de crescimento. Foram excluídos o venture capital, a compra de dívida de empresas em dificuldades financeiras e as estratégias de turnaround. Fundada em 1939, a empresa atua em diversos segmentos e atende investidores institucionais, individuais e consultorias em 26 países, tendo obtido a designação de “PRI Leader”, concedida a menos de 1% das gestoras em nível global.

Em palestra na conferência de final de ano do Centro de Estudos e Pesquisas Itinerari Previdenziale, realizada em Roma no dia 05 de dezembro, Andrea Mariani, Diretor Geral do Fundo Pegaso, lembrou que um dos motivos que levaram a organização a integrar o Projeto Íris foi a possibilidade de investir de forma indireta. “Isso nos permite acessar ferramentas que, sozinhos, não cconseguiríamos”, resumiu o dirigente.

Nova rodada – Anunciada em outubro de 2023, a segunda rodada de funding do Progetto Iride registrou a participação de quatro dos cinco “fondi negoziali” originais – Foncer, Fondo Gomma Plastica, Pegaso e Previmoda – que anunciaram adicionais €115 milhões a serem aplicados na Europa e em empresas italianas com exposição global. Segundo a Neuberger Berman, pelo menos 70% do capital também terão que ser alocados em Fundos de Investimento Alternativo (FIAs), que, no momento da adesão, estejam inseridos no que determina a Regulação de Divulgação de Finanças Sustentáveis (Sustainable Finance Disclosure Regulation – SFDR). A empresa poderá investir em fundos próprios ou de terceiros nos mercados primário ou secundário com o objetivo de maximizar retornos.

Alberto Salato, Head de Southern Europe da Neuberger Berman, afirma que a extensão do mandato da gestora no projeto é a recompensa pelo bom desempenho alcançado até o momento, algo que os participantes do consórcio confirmam em diferentes comunicados à imprensa. Os investidores detalham que os objetivos traçados foram alcançados com louvor e que a gestão foi bastante satisfatória, “seja na fase de seleção dos fundos alternativos, seja nas chamadas de capital, relação com os FIAs e processo de reporting”. As entidades afirmam ainda que, entre as escolhas possíveis, manter a gestora foi a opção “mais eficiente em termos de rapidez de execução do investimento, controle de custos e simplicidade operacional”.

Projeto Zéfiro – Em 2020, um ano após o lançamento do Projeto Íris, o consórcio – cuja composição fora ligeiramente modificada – voltou sua atenção para a dívida privada por meio do Progetto Zefiro, que contou com aporte de €215 milhões dos fundos Gomma Plastica, Pegaso, Previmoda e Fopen, dedicado aos empregados da ENEL, empresa do setor de energia.

O foco são os empréstimos corporativos diretos (corporate direct lending), sobretudo em instrumentos de dívida com garantias seniores e/ou contratos do tipo “unitranche”. Os ativos encontram- -se domiciliados majoritariamente na União Europeia, com aplicações nos EUA admitidas até certo ponto, por razões de diversificação. Um comunicado do consórcio afirmou que o projeto visa justamente “diversificar a alocação de ativos e fontes de retorno, bem como maximizar as perspectivas de rentabilidade num contexto de baixas taxas de juros”.

Em nota, o Previmoda declarou que a sua meta é incluir mais investimentos ilíquidos no portfólio. “Dada a experiência positiva do Projeto Íris, o fundo ajudou a conceber um novo projeto de investimento em dívida privada, corroborando as vantagens observadas nesse tipo de gestão e sua coerência com o modelo de governança dos fundos de pensão setoriais.”

Entre 15 candidatos, a gestora selecionada foi a Stepstone. A estratégia previa alocações em sete Fundos de Investimento Alternativo ao longo de três anos, sendo 50% do capital aplicados no primeiro ano, 30% no segundo e 20% no terceiro. A abordagem, informam interlocutores do projeto, garantia ampla diversificação por safra, riscos subjacentes e gestores, com envolvimento planejado em aproximadamente 200/250 empresas.

(Continua…)

 

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