Nova edição da Revista: Risco de extinção em massa corroborado pela comunidade científica leva entidades fechadas a investir buscando a preservação de ecossistemas*

*Edição nº 452 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.

 

Por Flávia Silva

Biodiversidade, a nova fronteira ASG – O termo “biodiversidade” – abreviação para diversidade biológica – pode ser definido, de maneira ampla, como a riqueza e a grande variedade de vida natural do planeta, incluindo genes e bactérias, animais de todos os portes, até ecossistemas inteiros, como florestas e recifes de coral. O problema é que a ação do homem, cujo ritmo de exploração de recursos naturais só aumenta, vem gerando desequilíbrios que colocam praticamente todas as espécies – incluindo a sua própria – em risco. A situação é tão séria que cientistas acreditam estar em curso a sexta extinção em massa da história (a última foi a que varreu os dinossauros da face da Terra, há 65 milhões de anos). Felizmente, porém, há esperança. Em dezembro de 2022, mais de 190 países se uniram em um acordo histórico para proteger 30% das terras, rios e oceanos do planeta, coroando um gradual processo de conscientização que vai tomando também os fundos de pensão.

“A biodiversidade abrange não apenas a diversidade genética dentro das espécies, mas a diversidade de habitats e de grandes unidades biológicas conhecidas como biomas”, afirmou, à United Nations Foundation em 2018, Thomas Lovejoy, ecologista americano que cunhou o termo em 1980. Morto em 2021, o americano que dedicou grande parte da vida à preservação da Amazônia insere no conceito todas as interações que ocorrem entre as espécies dentro dos ecossistemas, relações essas primordiais para moldar o ambiente humano de inúmeras maneiras, muitas delas invisíveis. “Sem diversidade biológica, não há vida na Terra – incluindo a nossa”, salientou.

De acordo com o Relatório de Risco Global do Fórum Econômico Mundial de 2023, a ameaça de colapso da biodiversidade e dos ecossistemas é o quarto maior risco da década, atrás apenas do risco de falha em mitigar mudanças climáticas, risco de não adaptação a tais mudanças e o risco de desastres naturais e eventos climáticos extremos. “Mesmo que muitas vezes não tenhamos consciência disso, é a biodiversidade que nos fornece água limpa, oxigênio, alimento, vestuário e moradia. Ela também nos traz benefícios psicológicos que nem sempre são valorizados”, detalhou Lovejoy em um de seus inúmeros artigos.

O ecologista considerava cada espécie como um conjunto único de soluções para um conjunto específico de problemas biológicos. “Quem poderia imaginar que uma bactéria encontrada numa fonte termal do parque Yellowstone revolucionaria a medicina forense e diagnóstica, tornando possível o projeto do genoma humano e gerando trilhões de dólares em benefícios?”, declarou certa vez o Pesquisador Sênior na UN Foundation ao citar um micróbio até então desconhecido e aparentemente irrelevante descoberto em 1966, que revolucionou os testes genéticos e o desenvolvimento de vacinas, incluindo a da COVID-19.

Aliás, há décadas a comunidade científica alerta que a perda de biodiversidade aumenta a propagação de doenças infecciosas, dado que age como barreira entre as pessoas e doenças transmitidas pelos animais. Isso porque espécies como ratos e mosquitos, que tendem a sobreviver ao desmatamento, agricultura, mineração e comércio, entre outras ações humanas que causam danos naturais generalizados, muitas vezes são vetores de doenças. No nordeste dos Estados Unidos, por exemplo, em anos recentes, o aumento dos casos de doença do carrapato é atribuído justamente à diminuição dos mamíferos que alimentam tais espécies, que passam, então, a procurar pessoas. Atualmente, cerca de 75% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas.

Ritmo acelerado – Em 2019, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) indicou que o homem já havia alterado 75% do ambiente terrestre do planeta, 40% do seu ambiente marinho e 50% dos córregos e rios. Hoje, cerca de 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, mais do que em qualquer outro momento da história. Dados apontam que essas espécies estão desaparecendo a uma taxa mil vezes maior do que a normal, prejudicando pessoas, empresas e… investimentos.

O maior catalizador da perda de biodiversidade é a mudança no uso da terra, ou seja, quando paisagens naturais são convertidas em espaços para agricultura, mineração ou expansão urbana. Ao mesmo tempo, a pesca excessiva, aquecimento, acidificação e poluição têm desestabilizado os oceanos, levando ao colapso dos estoques de peixes e à destruição dos ecossistemas marinhos.

Uma das atividades potencialmente mais danosas ao meio-ambiente é a agropecuária, que consome três quartos dos recursos hídricos e pode levar à poluição de rios, mares e solo pelo uso de pesticidas, fertilizantes, combustíveis e antibióticos. Nas últimas duas décadas, metade dos recifes de coral do planeta foram perdidos e o desmatamento na Amazônia se aproxima da irreversibilidade.

Serviços ecossistêmicos – De acordo com estimativas conjuntas do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e do Governo de Papua-Nova Guiné, cada dólar investido em proteção ambiental gera mais de US$ 2.500 nos chamados “serviços ecossistêmicos”: regulagem dos fluxos hidrológicos, proteção da costa, armazenamento de carbono e outras funções invisíveis desempenhadas pela natureza. O retorno do “investimento” é uma das razões pelas quais o país insular localizado na Oceania lançou o primeiro Fundo Nacional de Biodiversidade e Clima independente para proteger seu status de “megadiverso”, garantindo lugar num conjunto limitadíssimo de 17 nações em nível mundial.

Cientistas argumentam que é chegado um ponto crucial em que se faz extremamente necessário equiparar a perda de biodiversidade às mudanças climáticas no topo da agenda global. A questão é financeira: 44% do PIB bruto mundial dependem dos serviços ecossistêmicos, afetando diretamente a oferta de produtos e serviços que permitem às empresas gerar valor.

Como detentores de ativos e investidores, o setor financeiro tem um papel significativo a desempenhar na mitigação dessa crise, e os fundos de pensão não são exceção. Afinal, os riscos decorrentes da degradação da biodiversidade e dos ecossistemas que se apresentam às empresas, os quais têm origem justamente na dependência exagerada do homem nos serviços ecossistêmicos, podem impactar os ativos das entidades de previdência e, por conseguinte, seus participantes.

(Continua…)

 

Clique aqui para ler a matéria completa na íntegra

Shares
Share This
Rolar para cima