Nova edição da Revista: Vice-Presidentes da Abrapp falam sobre as suas prioridades e expectativas para o biênio*

*Edição n. 445 da Revista da Previdência Complementar – uma publicação da Abrapp, ICSS, Sindapp e UniAbrapp.

 

Por Debora Diniz

A Previdência Complementar sob a Perspectiva Regional – O novo Diretor-Presidente da Abrapp, Jarbas Antônio de Biagi, terá ao seu lado um time formado por dez Vice-Presidentes regionais, sendo cinco titulares e cinco suplentes. Nesta entrevista especial com os cinco titulares, foram abordados desafios, perspectivas e prioridades, com destaque para as peculiaridades de cada região que representam. Luiz Carlos Cotta (Capital Prev, Vice-Presidente da Regional Leste-Sudeste); Roberto de Sá Dâmaso (ECOS, Vice-Presidente da Regional Nordeste); Cláudia Trindade (Fusan, Vice-Presidente da Regional Sul); João Carlos Ferreira (Value Prev, Vice-Presidente da Regional Sudoeste) e José Roberto Rodrigues Peres (Ceres, Vice-Presidente da Regional Centro-Norte) chegam dispostos a trabalhar em medidas que, ao fim, permitirão o fomento de todo o sistema. Confira a entrevista:

 

Como você avalia a Previdência Complementar no País?

Luiz Carlos Cotta (Regional Leste-Sudeste): Durante muitos anos, o sistema ficou estagnado. Lá pelo ano de 2012/2013, surgiu a obrigatoriedade de se criar planos de previdência para funcionários públicos federais, estaduais e municipais e, com isso, a Previdência Complementar deu um salto. Esse crescimento continuará porque nem todos os entes públicos federativos constituíram seus planos, sobretudo no que diz respeito aos municípios. Mas ainda assim chegaria um novo momento de estagnação.

Nos últimos dois mandatos do presidente Luiz Ricardo (Marcondes Martins) e, claro, de toda a diretoria da Abrapp, trabalhou-se muito na mudança da legislação e criação de novos desenhos de planos, como os planos família e instituídos corporativos. Naturalmente, haverá um crescimento porque entrarão filhos, netos, sobrinhos, irmãos. Paralelo a isso, a criação de planos instituídos oferecidos a conselhos de classe ficou mais forte depois da mudança da legislação. São planos em que somente o participante contribui, mas ele também pode indicar familiares. O sistema, apesar dos avanços nos últimos anos, continua em construção.

Roberto de Sá Dâmaso (Regional Nordeste): Primeiramente, acho que é cada vez maior a preocupação de fazer previdência para os brasileiros. A Previdência Complementar vai ter um papel muito importante porque o INSS, como todo mundo vê, diminui cada vez mais o benefício. Antigamente, o benefício máximo era de 20 salários mínimos; hoje não chega perto de seis ou sete. A própria criação do Funpresp é um sinal da importância da Previdência Complementar, assim como as Prevcom. Acho, portanto, o cenário muito positivo, com perspectiva de grande crescimento.

Cláudia Trindade (Regional Sul): A Previdência Complementar não está num ambiente diferente do País e do mundo, ou seja, de muita mudança, transformação e necessidade de entendimento sobre o que ela é e sua importância para as pessoas, empresas e o País como um todo. Temos um novo Diretor-Superintendente na Previc, uma pessoa de alto nível técnico. Ele trouxe, em recente entrevista, oito pontos que considera importantes nesse momento – e que de fato o são – mas a gente percebe ali uma diferença no posicionamento do órgão. São coisas boas, entre elas a questão da educação financeira e previdenciária, do fomento. Estamos nesse momento de transição, de alterações e, principalmente, de necessidade de fazer a Previdência Complementar crescer.

Estamos, também, num ponto não de estagnação, porque as nossas reservas vêm crescendo, mas o número de entidades não cresce. Pelo contrário, existe uma tendência de diminuição. No termômetro que compara o patrimônio ao PIB do país, houve uma decrescida de 14% para 13,6%, 13,7%. Esse instrumento de poupança de longo prazo, que em muitos países supera o PIB ou tem grandes percentuais, aqui no Brasil não consegue ultrapassar essa barreira de 14%, 15%. É o momento de darmos uma guinada e fazermos com que isso aconteça.

João Carlos Ferreira (Regional Sudoeste): A Previdência Complementar tem um potencial muito grande desde que alguns fatores relevantes sejam definidos. É um cenário muito positivo. Temos um produto de excelente qualidade, barato, que entrega resultado, rende bem e cumpre seu papel. No entanto, há uma concorrência de mercado muito grande com as instituições financeiras devido à capilaridade dessas instituições, coisa que nós não temos. Acho que esse é o grande desafio para que o horizonte seja brilhante.

José Roberto Peres (Regional Centro-Norte): Evoluímos muito nos últimos anos e a Abrapp tem tido um papel fundamental, mas temos muito que percorrer. Somos um País que praticamente não tem educação financeira nem previdenciária, e por isso temos uma população economicamente ativa (PEA) muito pequena participando da Previdência Complementar: menos de 10% enquanto os países desenvolvidos chegam a 90%. Eis aí uma grande oportunidade. Sempre falo que a educação financeira e previdenciária no País é muito difícil, mas temos talvez a primeira grande oportunidade para começar a alterar o rumo de um problema estrutural: sensibilizar o governo para mudar o currículo escolar desde o início da formação. Enquanto isso não acontece, a gente usa todas as oportunidades para fazer programas focados, mas precisamos de uma integração maior entre as instituições para fazer programas robustos de impacto na educação. A educação previdenciária depende muito do setor público. Temos de trabalhar muito fortemente na conscientização e na mudança das decisões governamentais.

 

Mais especificamente, qual a avaliação sobre a Previdência Complementar na sua região?

Luiz Carlos Cotta: Como Vice-Presidente da Regional Sudeste Leste, que engloba Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, tenho a dizer que muitas fundações já criaram planos família. Em regra, a gente age muito em função daquilo que a Abrapp nos orienta e incentiva a fazer, mas é claro que depende de cada dirigente. Percebemos que os fundos de pensão que têm pessoas mais empenhadas no crescimento geralmente estão ali no dia a dia com a Abrapp. Precisamos continuar incentivando as EFPCs a se transformarem em multipatrocinados para buscar, em cada regional, a criação de planos instituídos. Aí sim, daqui a três, quatro, cinco anos, veremos mais um salto de crescimento. A partir daí, penso que vai se tornar uma normalidade o crescimento porque assim que entrar, por exemplo, um filho meu e ele se casar, entra nora, filhos e outros dependentes. Como os fundos de pensão, em regra, conseguem uma rentabilidade melhor nos investimentos, a tendência é que sejam uma opção mais viável que os bancos.

Roberto de Sá Dâmaso: Não será possível fazer previdência sem as entidades. E principalmente no Nordeste, que é muito carente de oferta de produtos e tudo mais, a responsabilidade das EFPCs vai ser maior ainda. Eu, como Vice-Presidente da Abrapp, tenho a responsabilidade cada vez maior de divulgar a Previdência Complementar para as entidades nordestinas.

Cláudia Trindade: Com a reforma da Previdência, tivemos a possibilidade de as EFPCs ofertarem planos para os entes federativos. Acho que a região Sul se destaca nesse sentido porque várias entidades nossas, associadas da Abrapp, inclusive onde eu atuo, foram por esse caminho de buscar auxiliar o que o legislador queria que as entidades fossem. A região Sul é muito engajada nesse propósito, sendo a única do País que tem associações estaduais dos fundos de pensão, como a Previpar, do Paraná, a SCPrev em Santa Catarina, e a Tchê Previdência no Rio Grande do Sul. São fóruns de discussão, engajamento e união entre as EFPCs. Temos realizado eventos em conjunto: esse ano vai ser aqui no Paraná, ano que vem em Santa Catarina, depois no Rio Grande do Sul, e assim sucessivamente. Temos essa integração.

João Carlos Ferreira: A região Sudoeste, da qual eu sou Vice-Presidente, tem um potencial enorme porque tem muita gente trabalhando sem Previdência Complementar. Existe um mar gigantesco de oportunidades no qual a gente precisa começar a nadar. Só que nadar no mar é diferente de nadar numa piscina. Por intermédio do instituído corporativo, há a possibilidade de trazer, para dentro das EFPCs, empresas de pequeno porte, que não têm condição de ter entidades próprias, ficando na mão das instituições financeiras. Por intermédio da coletividade de várias empresas, com vários grupos de pessoas fazendo contribuições para o mesmo plano de previdência, podemos potencializar esses planos como um produto realmente de renda qualificada futura.

Poucas empresas privadas têm plano de previdência. Não sei precisar o número, mas na região de São Paulo, eu arrisco dizer que é a minoria. O grande potencial do instituído corporativo é você poder trazer um número gigantesco de empresas de menor porte para dentro de um plano coletivo e, consequentemente, gerar um crescimento patrimonial robusto e suas benesses, como investimentos no mercado financeiro, custos mais baixos, etc.

José Roberto Rodrigues Peres: A região Centro-Norte é privilegiada. Temos muitas empresas estatais no setor público que já têm Previdência Complementar, mas precisamos fazer um esforço de manter e aumentar a nossa presença nesse setor porque a tendência, pelas dificuldades do governo nos últimos anos, além da pressão política e econômica do País, é de não haver muitos concursos públicos e, consequentemente, a ausência de novas contratações e adesões. Na nossa região, a adesão dos empregados das empresas estatais foi bastante razoável. Na Ceres, por exemplo, temos 85% de adesões, em média, um número muito significativo. Entretanto, temos consciência de que precisamos fazer um esforço muito grande para manter, porque a tendência são os planos e as pessoas envelhecerem e, assim, as contribuições patronais deixarem de entrar.

A Abrapp tem trabalhado com as associadas muito fortemente no sentido de buscar alternativas não só de sobrevivência, mas de sustentabilidade diante da diminuição projetada de cenários dos patrocinados. Estamos trabalhando muito nisso junto à Previc.

 

Quais são as suas prioridades na VicePresidência?

Luiz Carlos Cotta: Eu diria que é estar mais próximo das entidades através da realização de eventos, comunicação mais frequente de tudo que vem sendo feito, mas de uma maneira mais direcionada, como uma forma de incentivo a mais para o dirigente regional. É preciso questionar se o fundo de pensão já é multipatrocinado, se vai criar o plano família ou corporativo instituído, do suporte que precisa para avançar. A gente vai buscar na estrutura da Abrapp e entre outros consultores o apoio para que os fundos de pensão, de maneira geral, possam atender um público maior.

Roberto de Sá Dâmaso: Tenho a responsabilidade de divulgar o que é e o que a Abrapp faz. Sou novo aqui e realmente estou muito animado com a possibilidade de ver o que é feito e acho que as associadas aproveitam muito pouco daquilo que a Abrapp pode dar. A prioridade é permitir que as associadas aproveitem toda a infraestrutura da Associação, que é fantástica, através de ICSS, UniAbrapp, Conecta. Por exemplo, no caso da Fundação Ecos, nós utilizamos o Life Checking, que é um produto da Conecta para checagem de óbitos de assistidos que evita prejuízo ao plano. E tem mais, a Abrapp pode prestar assessoria com dúvidas, interlocução com a Previc. Vamos orientar as entidades da região.

Cláudia Trindade: Começaremos a fazer em maio o Abrapp Itinerante, aqui em Curitiba, para que a Associação converse com os seus dirigentes. A parte de comunicação e informação da Abrapp é muito bem gerida, mas a parte de escutar quem está lá na ponta também é muito importante, até para direcionar novos caminhos. Outro propósito é ir atrás e descobrir como fazer com que outras entidades que não são associadas percebam a vantagem de tudo o que a gente fornece. Algumas EFPCs, associadas ou não, talvez não percebam a grandeza que Abrapp tem.

João Carlos Ferreira: Pretendo ampliar a comunicação com as entidades da regional objetivando estimular a participação ativa no sistema, bem como encorajar e apoiar as EFPCs na implantação de novos produtos visando dar continuidade ao crescimento da Previdência Complementar.

José Roberto Rodrigues Peres: A prioridade é fazer com que aquilo que é colocado no planejamento estratégico da Abrapp seja trazido e internalizado nas entidades. O Planejamento Estratégico coloca de maneira muito enfática que nós, Vice- -Presidentes, sejamos esse elo. Digo isso porque fui, nos três últimos anos, também Diretor Regional. As dificuldades de se reunir, mesmo através das Comissões Técnicas, que são um mecanismo importantíssimo para fazer chegar o que a gente está fazendo “no chão da fábrica”, é muito grande. Foi criada a Abrapp Itinerante e a gente tem uma agenda muito forte entre as diretorias das entidades para levar as nossas propostas e os nossos propósitos. As entidades, apesar da grande competência da Abrapp na comunicação, conhecem pouco o que temos na prateleira, como a biblioteca virtual, com mais de 900 publicações.

A busca de novos negócios e alternativas tem que ser uma grande prioridade em paralelo ao nosso dia a dia. Buscar ser o mais eficiente possível no atendimento ao cliente, implementar de fato a transformação digital, enxergar a inovação não como alternativa, mas obrigação. Sabemos que alguns “assets” já estão oferecendo Previdência Complementar Aberta e Fechada, então, se a gente não se modernizar, vamos ficar cada vez menos competitivos, com tendência a desaparecer. Eu não tenho medo da competição desde que a gente realmente use da nossa competência, do nosso diferencial, para ganhar espaço. No futuro isso vai ser fundamental.

Quando eu falo de novos negócios, falo sobre previdência para novas gerações diante da mudança da relação de trabalho e da falta de patrocinador. As entidades podem se transformar em grandes consultoras dessa nova geração que, sozinha, não vai conseguir fazer uma boa gestão do seu dinheiro. Para que isso aconteça, o arcabouço legal tem que ser flexibilizado e a nova diretoria da Previc está muito sensível a isso. Temos que sair do paradigma de que fiscalização é penalização para o paradigma de prevenção. Precisamos internalizar nas entidades as boas práticas do nível estratégico ao operacional.

(Continua…)

 

Clique aqui para ler a entrevista completa na íntegra

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