Opinião Abrapp – Envelhecimento e natalidade: o desafio de fechar a equação demográfica brasileira

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novas projeções populacionais com base no Censo 2022, que revelam um cenário preocupante: a população brasileira está envelhecendo mais rapidamente do que se esperava e, em breve, começará a diminuir. De acordo com os dados, a população do país alcançará seu ápice em 2041, com aproximadamente 220 milhões de habitantes. Após isso, iniciará um declínio, chegando a 199 milhões de pessoas em 2070, menos que os 203 milhões atuais.

Esse fenômeno levanta uma questão intrigante: essa mudança é positiva ou negativa? Sim, viver mais é uma conquista; no entanto, a falta de preparo para a longevidade da população brasileira representa um desafio significativo. Envelhecer não é um problema por si só, mas exige adaptações socioeconômicas que o Brasil ainda não implementou de forma robusta.

O panorama do envelhecimento no Brasil – A expectativa de vida no Brasil aumentou de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023, e deve chegar aos 83,9 anos em 2070. Simultaneamente, a taxa de fecundidade caiu de 2,32 filhos por mulher em 2000 para 1,57 em 2023. Estima-se que essa taxa continue a diminuir, evidenciando que as famílias brasileiras estão optando por ter menos filhos. Esse comportamento pode ser atribuído a diversos fatores, como o custo elevado de criar filhos e o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, que elevam o custo de oportunidade da maternidade.

Essas tendências não são exclusivas do Brasil. Um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington, mencionado na Veja, revela que 23 países devem perder metade de sua população até 2100. Nos países avançados, a taxa de fecundidade é de 1,6 filhos por mulher, e no Japão, é de apenas 1,2. A diminuição da população em idade ativa, combinada com o aumento do número de idosos, pode levar a uma pressão econômica significativa, uma vez que menos pessoas estarão contribuindo para a previdência social enquanto mais estarão se aposentando.

O desafio de equilibrar a equação demográfica – As projeções do IBGE indicam que em 2070 cerca de 37,8% da população brasileira será composta por idosos (60 anos ou mais), praticamente duplicando a proporção de 15,6% registrada em 2023. Isso implica uma mudança drástica na estrutura etária da população e, por conseguinte, nas necessidades e demandas sociais e econômicas do país.

Atualmente, os estímulos governamentais para aumentar a taxa de natalidade têm sido ineficazes. Experiências em outros países indicam que oferecer pagamentos diretos para mulheres terem mais filhos não têm surtido o efeito desejado. Uma estratégia mais eficiente pode ser a implementação de políticas de apoio à maternidade, como creches acessíveis, escolas infantis de qualidade e centros de apoio para mães trabalhadoras. Em países escandinavos, onde essas políticas são comuns, observou-se uma ligeira elevação nas taxas de fecundidade.

O papel das políticas públicas e da iniciativa privada – O Brasil precisa reavaliar e reformar suas políticas de previdência social e de saúde pública para se adaptar ao envelhecimento populacional. O aumento da idade média da população, que deve passar de 35,5 anos em 2023 para 48,4 anos em 2070, indica a necessidade de um sistema previdenciário sustentável, capaz de atender a uma população idosa crescente.

Além disso, a iniciativa privada também tem um papel crucial a desempenhar. Empresas que adotam políticas de apoio à família, como horários flexíveis e licenças parentais, podem ajudar a aliviar parte da pressão sobre os pais e fomentar um ambiente mais propício à criação de filhos.

Como vemos, o envelhecimento da população brasileira é uma realidade que não pode ser ignorada. Embora a expectativa de vida crescente seja uma conquista, ela traz consigo desafios significativos que exigem planejamento e ação por parte do governo, das empresas e da sociedade em geral. Para fechar essa equação demográfica, é fundamental investir em políticas de longo prazo que equilibrem a necessidade de sustentar uma população envelhecida com a promoção de um ambiente favorável à formação de novas famílias. Somente assim o Brasil poderá garantir um futuro próspero e equilibrado para todas as gerações.

*Opinião da Diretoria Abrapp – 8ª edição

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