Seminário de Investimentos: Gestores e economistas analisam o difícil cenário atual e apontam oportunidades para as carteiras

O momento é difícil, basta ver a quantidade de vezes em que foi preciso desde o final do ano passado rever globalmente os números da inflação e do crescimento econômico para 2022 e 2023. Por outro lado, também há oportunidades, como não poderia deixar de ser em um país que é um grande fornecedor de alimentos em um mundo carente deles e que entrega um superávit fiscal não previsto e uma surpreendente dívida pública versus PIB em queda.

Essas foram algumas das principais conclusões, no final da tarde de quinta-feira, 9 de junho, do 10º Painel – “Talk de Líderes e AETQs: Discussões Atuais na Gestão de Investimentos” (foto no topo)-, que encerrou o “11º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC”, realizado presencialmente pela Abrapp em São Paulo. Mas isso acompanhado do reconhecimento por todos de que o Brasil só irá aproveitar as oportunidades que se abrem se conseguir administrar adequadamente os desafios fiscal e cambial, além da inflação, entre outros.

Primeira expositora no painel, Cassiana Fernandez, Economista Chefe da JP Morgan começou chamando a atenção exatamente para a frequência com que os analistas foram obrigados a rever as suas projeções para este ano e o próximo. Comentou também sobre o caráter global da atual crise, notando que as dificuldades atualmente atingem em particular os países desenvolvidos, acostumados por um longo tempo a uma política monetária expansionista e obrigados agora a trocar em curto espaço de tempo os juros zero e até negativos por dinheiro rapidamente mais caro.

O mundo trocou abruptamente uma projeção de crescimento do PIB global por volta de 4% para uma previsão beirando 1%. “E mesmo assim ainda temos dúvidas sobre se não cairemos ainda mais e chegaremos a uma recessão”, observou Cassiana, notando ainda que “nos EUA o mercado já precificou a chegada de uma recessão, embora muita gente ainda acredite em um pouso suave”. Nesse quadro, as commodities e seu potencial de valorização representam “uma grande oportunidade para o Brasil”, disse a economista.

O segundo expositor, Helder Soares, Diretor de Investimentos e membro do Comitê Executivo da Claritas Investimentos, assinalou que o Brasil está à frente da Europa e EUA no combate à inflação, no qual se mostra próximo do final do ciclo de aperto monetário e não faz tão feio quanto previsto nos quesitos crescimento e contas públicas. Pensando na Bolsa, da mesma maneira os dividendos pagos pelas companhias de capital estão na média alinhados com os juros reais pagos pela renda fixa.

“E sempre lembrando que os fundos de pensão não podem focar no curto prazo”, iniciou dizendo o terceiro expositor, José Carlos Chedeak, Diretor de Orientação Técnica e Normas da Previc. Mesmo porque, ele completou, “não se pode sair a qualquer momento de uma carteira pensada estrategicamente para valer em horizontes mais longos”.

As normas foram atualizadas pelo CNPC e pela Previc, o CNPJ por Plano está chegando e o PGA,  com discussões em andamento, é um assunto que com certeza irá avançar. Da mesma forma, se chegará a bom termo no que diz respeito às alterações que ainda podem ser feitas na Resolução CMN n. 4.994/2022, que define as regras dos investimentos das EFPC..

No painel atuaram como moderadores Marcelo Otávio Wagner, Secretário Executivo do Colégio de Coordenadores de Investimentos da Abrapp e dois  coordenadores de CTs, Gustavo Campos Ottoni (Centro-Norte) e Nayara Ferreira de Queiroz (Leste).

Wagner sublinhou que não há portfólios ideais e que tanto gestores de recursos como participantes de planos podem ter em mente diferentes carteiras dos sonhos. Sugeriu cuidados ainda maiores na comunicação com os participantes em momentos de crise e apontou que são fundamentais clareza e transparência.

Nesse caso, Nayara sugeriu o uso na comunicação com o participante de uma linguagem clara e acessível, evitando termos complexos e de difícil entendimento em geral. “Os participantes estão se mostrando cada vez mais atentos a como as suas entidades, na hora de investir, tratam aspectos sociais e defesa do meio ambiente”, observou Nayara. Nesse momento, Chedeak ressaltou a importância da Resolução CNPC n. 32 para se obter uma melhor comunicação.

Ottoni, por sua vez,  destacou a importância das entidades fechadas, enquanto investidores de longo prazo, permanecerem fiéis às políticas de investimento fundadas na alocação estrutural, orientada pelos fundamentos seja da economia ou das empresas nas quais se têm interesse. Notou ser esse um diferencial dos fundos de pensão,  considerando existir uma tendência de longo prazo de redução do tempo de permanência dos investidores como acionistas das empresas.

Ele lamentou a cobrança por resultados no curto prazo, algo que em nada ajuda o gestor. “A entidade fala em garantir uma renda no futuro, mas muitos participantes só aceitam o IPCA mais algum prêmio sempre”.

Investimento em infraestrutura –  Antes, no Painel 9, voltado para o tema “Oportunidades no Mercado de Infraestrutura” (foto acima), os expositores se esforçaram em deixar claro que, sendo uma alocação de ciclo maior, de pouco ou nada adianta o gestor ficar escolhendo muito o melhor momento para entrar. A decisão tomada em um cenário difícil de menor liquidez e juros altos poderá dar frutos na forma de rentabilidades até superiores à renda fixa atual.

Atuando como moderador do Painel, Cristiano Heckert, Diretor-Presidente da Funpresp-Exe, observou que tratar do assunto dos investimentos em infraestrutura é muito oportuno em um País que procura o crescimento econômico, mas que carece de investimentos no setor. Nas décadas de 60 e 70, houve um crescimento com investimento público, que hoje não existe mais e não foi substituído pelo  privado.

“E sabemos que os fundos de pensão no mundo têm uma importância muito grande no funding de projetos de infraestrutura”, disse. E acrescentou: “O Brasil tem avançado na infraestrutura em diversas áreas como aeroportos, com o anúncio recente de uma nova rodada de concessões. Também verificamos boas perspectivas no setor elétrico, com a Eletrobras, no setor de saneamento, com o novo marco legal.

“Não se deve esperar que esteja tudo favorável, mesmo porque nas horas boas a concorrência é maior”. Enfim, a competição pelos ativos cresce e a rentabilidade pode cair, resumiu  Carolina Rocha, Sócia e COO da Perfin.

Ela explicou que são previstos investimentos de R$ 700 bilhões em saneamento nos próximos anos. No segmento de linhas de transmissão de energia está previsto leilão no final do mês com a participação de grandes investidores. “São contratos de longo prazo com rentabilidade segura e protegida da inflação e baixo risco”, disse.

E, falando aos gestores de recursos de EFPC, disse “não ser preciso se esconder na renda fixa, uma vez que a infraestrutura pode oferecer bons retornos”.

Henri Rysman de Lockerente, Gestor de Fundos Renda Fixa da BNP Paribas Asset Management afirmou que desastres ambientais cada vez mais frequentes mostram a urgência do investimento focado na proteção do meio ambiente.

Reconheceu que falta uma maior padronização e regras mais claras no tocante às informações que devem ser passadas aos investidores. “Por isso mesmo é tão importante o investidor  buscar conhecer os critérios e as métricas seguidas pelos gestores”, disse.

Patrocínio – O 11º Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC contou com o apoio de grandes parceiros, cujas soluções e principais canais de contato podem ser conferidos nesta página especial. O evento tem o Patrocínio Black da XP Investimentos. Patrocínio Ouro: Aditus, AZ Quest, BBDTVM, Black Rock, BNP Paribas, Bradesco Asset Management, BTG Asset, BTG Pactual, Captalys, Claritas, DWS, Itajubá, JP Morgan, Kadima, MAG, Perfin, S&P Dow Jones, Schroders, Sparta, Spectra, Tag Investimentos e Vinci Partners. Patrocínio Prata: Aviva Investors e Trígono Capital. Patrocínio Bronze: ARX Investimentos, Carbyne Investimentos, Franklin Templeton, Mapfre Investimentos, Stepstone e Sul América Investimentos. Apoio: Fram Capital, Lis Capital, Pátria, RBR, SPX Capital e Trigger.

O evento contou ainda com uma importante novidade: a realização de duas Rodadas de Negócios, nas quais ocorreram 29 pitches de oportunidades para as EFPCs. Nessas rodadas, dezenas de especialistas apresentaram insights sobre as oportunidades em cada classe de ativos.

O Seminário Gestão de Investimentos nas EFPC é uma realização da Abrapp, com o apoio institucional de UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta.

(Jorge Wahl)

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