Transição para a economia verde deve lançar luz aos investimentos em infraestrutura

Com característica de longo prazo, os investimentos em infraestrutura associados à transição para a economia verde tendem a entrar no radar de diversificação de carteiras de entidades fechadas de previdência. Embora o apetite das EFPC esteja mais voltado a alternativas de investimento de risco mais controlado em infraestrutura, por meio de títulos crédito privado e de renda variável, há espaço para ampliar o escopo de alocação.

Cristiano Herckert, Diretor Presidente do Funpresp-Exe, conta que a entidade está estudando os investimentos verdes que estejam relacionados com infraestrutura. “Estamos avançando no tema, mas o primeiro passo foi dado no início deste ano, quando aprovamos a política de responsabilidade social, ambiental e de governança da entidade. Também aprovamos o programa ESG no comitê de governança”, disse. Segundo ele, inicialmente estão em implantação ações de cunho interno nesta direção, mas em paralelo há um grupo específico estudando investimentos sustentáveis e verdes.

“Devemos avançar no ano que vem. Por enquanto, estudamos a inclusão de alocação específica de recursos nesse segmento em nossa política de investimentos”, adianta.

Atualmente, a Funpresp-Exe investe em infraestrutura por meio da alocação em crédito privado e em renda variável, uma estratégia mais conservadora dada a governança interna, que estabelece licitação para contratar gestores. A entidade administra patrimônio de R$ 7,4 bilhões e tem 104 mil participantes ativos, além de 340 assistidos.

Herckert explica que a diversificação tem sido um processo gradual e hoje a carteira possui 157 títulos de crédito privado de 93 emissores diferentes, que incluem infraestrutura, considerando empresas de saneamento, petróleo e gás, energia, transporte e logística e construção civil.

“Estamos presentes no segmento. Nossa política de investimentos para o horizonte de 2023 a 2027 prevê alocação alvo de 7,9% em crédito privado. Estamos posicionados dentro desse percentual”, afirma. Na Renda Variável, a entidade investe em infraestrutura por meio de fundos e estratégias passivas, que acompanham o Ibovespa, no qual a carteira está alocada em 7,7%. “Criamos no ano passado um comitê específico de riscos de investimentos e todos os ativos passam por essa área. Também temos gestores terceirizados, que privilegiam empresas com grau de investimento no crédito privado, e que são avaliados internamente”, comenta.

Para o Diretor-Presidente do Funpresp-Exe, as perspectivas para a diversificação da carteira são positivas, considerando a projeção do mercado para o início da trajetória de queda da taxa de juros. “Isso deve favorecer os investimentos em infraestrutura, que se tornarão mais atrativos, tanto do ponto de vista de debênture ou de operação estruturada. Observamos com atenção para a classe, principalmente porque temos horizonte de 20 a 30 anos de investimento, já que nossos participantes são jovens, com idade média de 41 anos”, completa.

Transição verde: a virada de chave para a infraestrutura

Não apenas o cenário macroeconômico, mas também a relevância da transição para a economia verde serão fundamentais para o crescimento do investimento em infraestrutura. Hugo Figueirêdo, Presidente do Complexo do Pecém, localizado no Ceará, avalia que os investimentos em transição energética vislumbram retornos de médio e longo prazo acima das metas atuariais, considerando a formação de fundos de infraestrutura que as EFPC possam acessar.

“Estamos em um momento crucial de transição energética, e aqueles que enxergarem as oportunidades oferecidas por essa mudança sairão na frente. O Ceará tem tudo o que é necessário para se tornar um polo de referência na produção de hidrogênio verde. A colaboração do investidor institucional é imprescindível para promover esses avanços que podem modernizar nossa economia”, afirma.

Recentemente, representantes da Abrapp visitaram o Complexo do Pecém, que está se preparando para ser modernizado e receber um Hub de Hidrogênio Verde. O projeto demandará um investimento de R$ 2,2 bilhões até 2027, dos quais R$ 1 bilhão serão de investidores e o restante de empresas do setor instaladas no complexo.

“A projeção é de que seja criado um corredor de utilidades, por onde circularão os dutos de amônia, gás natural, hidrogênio e a rede de energia elétrica. As empresas devem construir os dutos, a tancagem desses combustíveis e o terminal para receber a produção e embarcar no Porto do Pecém. Dentre as obras que cabem ao Complexo, o píer 2 do terminal portuário deve ser adaptado à operação de amônia e hidrogênio verde. A água utilizada no processo de eletrólise será de reuso”, descreve.

Segundo Figueirêdo, o Ceará já conta com 31 memorandos de entendimento firmados e três pré-contratos assinados com as empresas AES, Casa dos Ventos e Fortescue. A perspectiva é que a participação delas duplique a quantidade de empregos diretos e indiretos na região, que hoje é de 80 mil. “Essas três empresas têm até 2024 para assinar os contratos definitivos e iniciar a produção a partir de 2026”, afirmou.

De acordo com ele, as condições favoráveis do Complexo do Pecém de abrigar um hub de hidrogênio verde devem fazer com que o Estado lidere o movimento de transição energética no País. “Temos abundância em energias renováveis (solar e eólica). A expectativa é que até 2050 tenhamos o preço mais competitivo do mundo, de acordo com estudos da Bloomberg e Mckinsey. O Estado também tem criado um ambiente de governança que irá organizar e facilitar a instalação dessas empresas. Tudo isso unido às facilidades do Complexo do Pecém, com sua área de ZPE, o terminal portuário e a sociedade com o Porto de Roterdã”, explica.

A expectativa é que a os Portos do Pecém e de Roterdã componham a rota de exportação e importação mais próxima entre América do Sul e Europa. Em 2030, a produção estimada de hidrogênio verde do Complexo do Pecém deve chegar a 1,3 milhão de toneladas/ano, um potencial para atender a 25% da demanda de importação de Roterdã. “Além de importar, esperamos usar parte desse hidrogênio para consumo interno no longo prazo. Dessa forma, nos adequaremos às metas mundiais de transformação energética”, conclui.

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