O webinar “Avanços do ESG na visão dos Investidores Institucionais”, promovido pela gestora Integral Brei, realizado na última quarta-feira, 11 de novembro, contou com a participação de Luiz Paulo Brasizza, Vice-Presidente da Abrapp e Presidente da UniAbrapp, José Carlos Chedeak, Diretor de Normas da Previc, e Vitor Bidetti, CEO da Integral Brei, que abordaram a importância que esse tema vem ganhando diante do segmento de Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). O webinar foi moderado por Renato Gama, sócio da Integral Brei, e transmitido pelo canal da gestora no YouTube.
Brasizza destacou que a sigla ESG, ou ASG, foca em questões ambientais, sociais e de governança, acrescentando ainda a questão da integridade, tomando uma vertente muito grande no desenvolvimento no mercado financeiro. “Internacionalmente, já temos percebido a relevância desse tema, com o mercado europeu mais avançado, o americano também, e na América do Sul começando com investimentos em florestas. A gente vê que é uma discussão que está tomando porte grande no país e vai chegar um momento em que não haverá investimentos financeiros que não tenha algum tipo de selo sustentável para o planeta”.
Ele ressaltou a baixa taxa de juros do país, que deve permanecer ao longo dos próximos anos, o que acaba gerando uma pressão sobre os investidores institucionais. “Temos em torno de R$ 1 trilhão na mão dos fundos de pensão no Brasil, e 65%, em média, desse montante são planos de Benefício Definido (BD), que têm metas atuariais. E a gente percebe que as metas atuariais ainda são altas. Não adianta mais ficar em título público, pois isso não paga a necessidade atuarial de um fundo de pensão”.
Diante desse cenário, Brasizza apontou que as entidades, naturalmente, terão que migrar para investimentos mais rentáveis e que tenham um pouco mais de risco, mas diferenciados em sua maioria. Ele ressaltou ainda a importância de se ter um parceiro adequado para dar suporte nesse tipo de investimento. “É uma verdadeira mudança cultural que deve tomar um caminho mais forte em 2021”.
Atuação da Abrapp – Brasizza ressaltou que a Abrapp possui um comitê de sustentabilidade e destaca alguns pontos relevantes de seu trabalho, como o lançamento de um guia de melhores práticas em sustentabilidade para todas as entidades; um guia de elaboração do relatório anual de sustentabilidade; uma política de sustentabilidade; um guia prático de integração ASG de gestores, entre outros. “Quando a gente fala em sustentabilidade, o empreendimento pode ser sustentável, mas ele só fica aderente à entidade de previdência se o patrocinador, a entidade de previdência e seus participantes também tiverem uma ideia de sustentabilidade e um apreço por esse tipo de investimento”.
Ele destacou que o grande projeto da Abrapp para 2021 é a elaboração de o relatório de sustentabilidade das Entidades Fechadas de Previdência Complementar utilizando a metodologia do PRI – Principle of Responsible Investment. “Junto a isso, temos diversos grupos atuando no mercado financeiro, multissetoriais, trabalhando para criar produtos ‘verdes'”.
Brasizza destacou a necessidade de ter na legislação um segmento voltado para a questão de sustentabilidade. “A relevância vai ser muito grande”, disse. “Isso não depende exclusivamente do governo, é cultural”, complementou. “Precisamos de grandes parceiros para também mostrar rentabilidade. Sustentabilidade é crescimento, é pé no chão, e tem muito trabalho ainda pela frente”, enfatizou.
Regulação – José Carlos Chedeak destacou que a Previc já atua com um engajamento ASG há algum tempo, mas em 2018, em conjunto com o Ministério da Economia, trouxe a primeira afirmação da necessidade dos fundos de pensão observarem realmente no processo de investimentos essa análise ASG. “Colocamos sempre que possível, pois o ASG começou a ganhar força de 3 anos pra cá, então no momento era a semente que a gente poderia plantar para que os fundos de pensão já olhassem para esses processos”. Ele disse ainda que a regulação da Previc já incentiva os investimento ASG, dividindo por setor econômico, com transparência.
Em 2019, a própria Previc, entendendo a importância do tema, elaborou uma sessão específica para tratar dessa questão dada a relevância e a importância de orientar as entidades e a população como um todo. “Hoje, para ter uma regulação mais assertiva, podemos criar algumas travas que não precisam existir. Esse processo tem que amadurecer com autorregulação e com iniciativa privada dando mais atenção”. Chedeak destacou que há desafios pela frente, entre eles o de saber como incentivar as emissões de modo geral, títulos, debêntures e fundos com uma questão mais focada para a sustentabilidade ASG. “Precisamos também trabalhar em uma taxonomia. Afinal, o que é uma taxonomia verde, o que é ser sustentável, e como integrar isso aos seus investimentos?”, questionou, ressaltando que esse é um ponto debatido em grupos de trabalho multidisciplinares.
Além disso, Chedeak disse que o que a Previc tenta fazer em ASG não é uma regulação específica, e sim uma indução a essa boa prática. “Se você pensar em termos de boas práticas, temos que induzir esse processo sem limitar a possibilidade dos investidores terem essa iniciativa, sem que isso vire uma obrigatoriedade quase que intransponível. Em alguns casos, nem sempre se consegue achar os produtos necessários sustentáveis para serem adquiridos”, enfatizou, destacando que ainda há poucos produtos ASG no mercado para atender a atual demanda. Ele destacou que a Previc começa a abordar esse assunto para oferecer informações aos investidores. “De modo geral, a regulação está aqui neste momento muito mais como um processo de indução”.
Selo sustentável – Vitor Bidetti, CEO da Integral Brei, deu um contexto sobre o cenário de investimentos ASG no Brasil e no mundo e destacou que para acompanhar a aderência de determinados ativos a um programa inicial há auxílio da certificação que algumas empresas fazem de maneira pontual. “Em relação à análise de determinada emissão, há companhias independentes que fazem um acompanhamento ao longo do tempo sobre a aderência do programa, do fundo, da debênture, do CRI ou CRA, em relação ao relatório inicial”, explicou, citando a Sitawi como uma das empresas que faz esse tipo de acompanhamento. Tanto Chedeak quanto Brasizza destacaram a importância desse tipo de análise mais ampliada para identificar se os pilares de sustentabilidade, de fato, são encontrados dentro do ativo.
Bidetti explicou ainda que 2 anos atrás, a Integral Brei começou a buscar ativos que pudessem ser desenvolvidos através dessa agenda ASG. “Temos dois fundos em fase de estruturação, sendo que um deles é para o desenvolvimento para uma smart city em Brasília”. Segundo ele, a estratégia deve ser voltada para investidores institucionais. “Eles estão em busca de bons projetos, bons ativos. A taxa de juros básica cria essa busca por diversificação e o mercado imobiliário está saindo primeiro”, disse. “A atitude ASG é uma atitude responsável dos investimentos”, complementou.
Oportunidades – Brasizza destacou que as oportunidades são muito amplas ainda, pois há um grande caminho para trabalhar. “O que falta agora é a decisão de seguir nessa linha e dar sequência nesses investimentos”. Chedeak disse que a regulação não pode ser uma barreira, e hoje o que falta é ter produtos de qualidade nessa área e a cobrança dos próprios investidores. “O investidor deve cobrar que o produto seja melhor”.
Vitor ressaltou a questão das baixas taxas de juros e o fato do Brasil ter uma oportunidade histórica de resolver a questão fiscal. “Se isso acontecer, a gente deve ter um ciclo longo de condições macroeconômicas favorecendo investimentos de longo prazo, imobiliários, em infraestrutura. O que não falta é oportunidade. Com a agenda ASG sendo impulsionada, devemos ir para um ciclo positivo”.