Portfólio internacional diversificado é apenas a maneira inteligente de construir esta exposição ao dólar
Era uma vez, há cerca de quatro anos, um CDI de 14% ao ano. Do ponto de vista de investimentos, que é o foco do artigo, o CDI na faixa de 14% era uma facilidade, um verdadeiro investimento. Você montava seu portfólio talvez com um pouco de ações e um pouco de multimercado, e um monte de CDI – porque o CDI fazia o trabalho sujo do seu portfólio. Era um investimento bom com ótimo retorno e baixo risco, se você acreditasse na solvência do governo federal.
Eis que o CDI hoje está em cerca de 2% ao ano. CDI não é mais investimento. CDI neste ambiente passará a ser apenas instrumento de gestão de liquidez. Claro que ainda estamos no meio de uma pandemia e ainda temos muitas incertezas no ar, mas quando a poeira baixar, quando assoprarmos e vermos o que sobrou na mesa, temos um CDI de 2% ao ano. Ainda que acreditemos que o CDI deva começar a subir este ano em um ciclo que terminará em cerca de 4%, estaremos em um nível de taxa básica que é um problema para o modelo atual de alocação de portfólio da maioria dos indivíduos e instituições.
Para buscar retornos perto do saudoso CDI a 14% ao ano, você vai ter que se acostumar com mais ativos de risco como ações, fundos multimercados, crédito high yield, entre outros no seu portfólio.
O risco em si não é um problema, inclusive passará a ser a nova realidade. A concentração de risco, por sua vez, deverá ser o foco de atenção. Para evitar a concentração de risco, uma decisão inteligente é a diversificação. Você pode compor seu portfólio com diferentes ativos que tenham correlação baixa, eventualmente alguns até com correlação negativa entre si, de forma que você consiga ter um portfólio mais balanceado e protegido.
Nesse contexto, nada será mais natural do que buscar riscos com fontes de retornos diferentes em mais mercados e ambientes diferentes. Assim cresce o interesse por investidores profissionais e amadores por investimentos internacionais.
E isso faz todo sentido quando vemos que o dólar tem tipicamente uma correlação negativa com ativos domésticos. Historicamente, quando a bolsa sobe, o dólar cai contra o real. E o contrário é verdadeiro; quando a aversão a risco aumenta e a bolsa aqui no Brasil cai, tipicamente o dólar sobe. Então, se você quiser tomar mais risco no geral, mas de maneira mais balanceada, ter dólar compondo com um portfólio local de ações, ou multimercados ou outros ativos locais em geral, faz todo sentido.
Mas podemos ir além, e dar um passo maior na diversificação buscando também mais retorno. Ao invés de simplesmente comprar dólar, que é apenas uma exposição a uma moeda, você pode diversificar mais compondo a carteira com vários ativos internacionais.
Colocando na prática, na Itaú Asset, por exemplo, construímos um fundo no final de 2019 chamado Carteira Itaú, com uma carteira de investimentos completa: diversificamos o portfólio local, inclusive com gestores terceiros selecionados pela nossa área de fundos de fundos, e adicionalmente alocamos parte do portfólio em investimentos internacionais, que geram retornos vinculados à variação do dólar e a ativos internacionais que o compõem, como bolsas e renda fixa ao redor do mundo, de países desenvolvidos e emergentes, e commodities.
O ponto aqui é que em um ambiente de juros mais baixos, no qual 14% ao ano parece um passado distante que não deveremos ver tão cedo – se é que veremos novamente -, tomar mais risco é inevitável e o portfólio internacional (em dólar) é importantíssimo para contrabalancear o risco adicional. O peso ideal desse portfólio internacional na sua carteira total depende do nível de risco que você está disposto a correr. Quanto mais risco tolerar nos ativos locais, mais dólar deveria ter no portfólio total para contrabalancear.
Um portfólio internacional diversificado é apenas a maneira inteligente de construir esta exposição ao dólar, trazendo mais possibilidades de fontes de retorno. Você não quer e não precisa ter apenas exposição ao retorno do dólar. É possível fazer algo melhor, com uma diversificação inteira da carteira.
No mercado financeiro não existe almoço de graça. Mas o mais próximo disso é a diversificação: você consegue aumentar seu retorno para um determinado risco do seu portfólio ou você diminui o risco do seu portfólio para um determinado objetivo de retorno. Nesse contexto, o componente internacional, preferencialmente também diversificado, não é apenas desejável, mas fundamental.
*CIO da Itaú Asset Management