Entrevista: Os desafios dos planos CD com perfis de investimentos e a importância da comunicação com participantes

Guilherme Benites

Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, o Sócio Fundador da Aditus Consultoria, Guilherme Benites, aborda o cenário atual de investimentos, com foco nos desafios dos planos de contribuição definida com opção de perfis de investimentos. Com longa trajetória em consultoria de investimentos para as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), o especialista analisa a importância e os impactos da Resolução CNPC nº 32/2019 no relacionamento e comunicação com os participantes.

Benites destaca ainda a atitude positiva de diversas entidades que enfrentaram o momento crítico imposto pela pandemia em 2020 para reforçar a comunicação com os participantes. “Acho que o ano de 2020 nos trouxe excelentes exemplos de iniciativas de entidades que, mesmo durante o caos do primeiro semestre, chamaram os participantes para uma conversa, mostraram a importância da análise em prazos mais longos e tiveram sucesso considerável em evitar movimentações em momentos ruins”, disse. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Blog Abrapp – Poderia comentar os desafios das EFPCs com um cenário de juros reduzidos na economia doméstica?

Guilherme Benites – Se as expectativas de juros baixos se mantiverem, teremos desafios relevantes nos próximos anos. O cenário base não parece indicar juro real elevado, o que é suficiente para tornar a formação de poupança de longo prazo uma tarefa complexa. Nesse sentido, entendemos que as EFPCs precisarão adaptar a sua gestão de recursos para carteiras mais balanceadas e com ativos de maior risco, que também ofereçam perspectiva de maior rentabilidade, sem nunca deixar de observar a governança dos investimentos e um processo transparente de análise e escolha desses ativos.

Blog Abrapp – Quais as principais opções para a diversificação das carteiras e principais estratégias para buscar maior retorno?

Benites – Com base nas Políticas de Investimentos que acompanhamos, entendemos que o foco principal dessa diversificação deve ser em Renda Variável local e em Investimentos no Exterior. Em segundo lugar, vemos um aumento na classe de Estruturados. Chama a atenção, também, ajustes na parcela de Renda Fixa, com revisões de benchmarks e maior amplitude para que os gestores tomem riscos nessa classe.

Blog Abrapp – Poderia comentar os desafios das entidades que oferecem planos com perfis de investimentos conforme a Instrução Previc nº 06/2018?

Benites – Acreditamos que o futuro dos planos de previdência é justamente esse: planos do tipo CD com perfis de investimentos. À medida que o plano possui uma massa muito heterogênea de pessoas, com muitos jovens e algumas pessoas mais próximas à aposentadoria, é interessante que a gestão possa considerar os diferentes horizontes de investimentos de cada uma dessas massas para a montagem das estratégias. Ainda que a existência de perfis venha a trazer algumas facilidades para a gestão, é importante também considerar que a liquidez do plano deve ser uma preocupação, já que as mudanças de perfis podem implicar em mudanças de estratégias.

Blog Abrapp – Poderia comentar os impactos da Resolução CNPC nº 32 sobre os planos com perfis de investimentos?

Benites – A Resolução CNPC 32 trouxe algumas obrigações que, na prática, são muito desejáveis para esse tipo de plano – em resumo, a disponibilização de um simulador ao participante e a necessidade de questionário para identificação de perfis de investidor. Entendemos que essas ferramentas permitem ao investidor “traduzir” o perfil escolhido em variáveis mais conhecidas, como salário (ou faixa de salário) quando da entrada em benefício. É mais uma ferramenta de educação financeira e previdenciária, além de ser um suporte essencial para a escolha do perfil pelo participante. A Aditus desenvolveu ferramentas que atendem a diversos pontos da Resolução 32, e que podem facilitar em demasia o dia a dia das EFPCs. Vale a pena avaliar essas ferramentas, pois o custo x benefício é muito vantajoso.

Blog Abrapp – Por favor, analise a importância do simulador para os planos de contribuição definida? Quais as principais recomendações para o desenho dos simuladores?

Benites – A principal importância do simulador é estimular a percepção dos participantes de que seu benefício futuro depende diretamente do valor das contribuições e do perfil de risco que ele escolher. É evidente que o participante já sabe disso, mas a quantificação é complexa para quem não está no dia a dia do mercado. Em nossa visão, o melhor simulador é aquele que consegue replicar as características do plano, e que usa números fidedignos, e não otimistas, para simulações futuras.

Blog Abrapp – Como orientar os participantes na gestão de seus planos de benefícios que contem com escolha de perfis em cenário de alta volatilidade?

Benites – Esse é um enorme desafio! Mas acho que o ano de 2020 nos trouxe excelentes exemplos de iniciativas de entidades que, mesmo durante o caos do primeiro semestre, chamaram os participantes para uma conversa, mostraram a importância da análise em prazos mais longos e tiveram sucesso considerável em evitar movimentações em momentos ruins. A educação financeira e a transparência são, a meu ver, a chave para o sucesso do plano junto aos participantes.

Blog Abrapp – Poderia comentar o modelo de ciclo de vida? É mais adequado que o modelo de escolha de perfis?

Benites – É um modelo que vem ganhando muitos adeptos no mercado local, que era dominado por perfis baseados em auto-percepção de risco. Como em tudo, vemos vantagens e desvantagens nesse modelo, mas seguramente é um modelo que facilita o enquadramento do participante no perfil que se julga mais adequado a ele, uma vez que o participante deixa de usar um critério subjetivo para a escolha do perfil, que é a aversão a risco, e passa a usar um critério muito simples, que é a idade. Não acho que exista um modelo melhor em termos absolutos, mas certamente há uma vantagem importante nesse caso.

Shares
Share This
Rolar para cima