Impactos do Censo na Previdência Complementar: 40 anos é a idade média do trabalhador brasileiro segundo IBGE – por Laís Guerra*

No último dia 28 de junho, o IBGE apresentou alguns dados do Censo de 2022 que são relevantes para o segmento de Previdência Complementar. O primeiro aspecto importante sobre as informações do Censo é a indicação de que o crescimento da população brasileira está desacelerando mais rápido que o esperado. Além disso, os indicadores demonstraram que a idade média do trabalhador brasileiro aumentou, e que em 2060, mais da metade dos trabalhadores brasileiros terão mais de 40 anos.

Segundo o professor Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE, “Nos últimos anos, os cadastros disponíveis já vinham sinalizando uma queda na taxa de natalidade, especialmente em regiões do país que tinham esse indicador muito elevado. Essa tendência deve continuar e sinalizar para o início do processo de redução da população entre 2030 e 2040”.

A parcela das pessoas com 60 anos ou mais está aumentando, e o percentual passou de 11,3% para 15% do total, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2022.

O modelo gráfico que explicita a variação da quantidade de pessoas e idade durante um certo período é denominado pirâmide etária. Analisando a pirâmide etária abaixo, elaborada após o último Censo, é possível identificar as conclusões acima: com o passar do tempo, a população acima de 34 anos aumenta e a população abaixo de 34 anos diminui.

Dentre os impactos da pirâmide etária no mercado de trabalho, é possível citar:

– Menor número de pessoas para trabalhar: o número de trabalhadores vai cair 6,3% até 2026.

– Os trabalhadores do futuro serão mais velhos: em 2060, a idade média dos trabalhadores será de 42,1 anos. 

– Idade da maioria dos trabalhadores: em 2060, 54,4% da força de trabalho terá mais de 40 anos.

Os impactos da pirâmide etária também alcançam as políticas públicas e as ações do setor privado, pois requerem uma reflexão e ações voltadas para aumentar a produtividade das pessoas mais velhas. Este aumento da produtividade tem relação com as políticas de educação, com a demanda pelo uso de novas tecnologias também pelas pessoas mais velhas – que estarão ativas, trabalhando – e precisarão estar atualizadas e aptas a trabalhar nesse contexto de constante evolução tecnológica.

Inevitavelmente, as alterações da pirâmide etária também trazem consequências para a área da saúde, uma vez que a população ativa, no sentido laboral, será mais velha e precisará de estar atenta a sua saúde física, mental e emocional para encarar uma vida mais longeva no mercado de trabalho.

Impactos da pirâmide etária na Previdência Complementar: Diante do cenário acima, é possível identificar uma oportunidade para o segmento de Previdência Complementar. Aproveitar essa oportunidade demandará atuação sistêmica e coordenada com os diversos atores e players. 

A primeira oportunidade se evidencia após a constatação de que as pessoas passarão mais tempo no mercado de trabalho. Mesmo com o aumento da expectativa de vida e a consequente necessidade de pagar benefício por mais tempo, se há um aumento no tempo das pessoas construindo sua reserva de poupança, também há um potencial aumento das reservas a serem administradas pelo sistema. 

Segundo, com a identificação do perfil das pessoas (idade e gênero) no mercado de trabalho fica mais fácil direcionar a oferta dos produtos de Previdência Complementar.

Além disso, o mapeamento do perfil das pessoas também auxilia no direcionamento adequado dos programas de educação financeira e previdenciária. Ao conhecer a idade e sexo do público-alvo, é possível desenvolver políticas/ações/eventos com uma linguagem adequada.

A educação financeira e previdenciária é um instrumento importante e deve ser utilizado pelos players mencionados acima, que em conjunto têm a oportunidade de soerguer a Previdência Complementar e ao mesmo tempo fomentar a economia, além de proporcionar uma velhice mais digna.

De acordo com o Estudo elaborado pela Previc, as partes envolvidas na promoção da Educação Financeira e Previdenciária são:

Órgão regulador, ente supervisor e demais órgãos do governo: devem promover políticas públicas direcionadas de acordo com os resultados das alterações demográficas. Dar transparência para as políticas públicas, reformas previdenciárias. Promover programas específicos para públicos vulneráveis.

Entidades Fechadas de Previdência Complementar: devem promover ações educativas, medindo o impacto dos seus programas, e fazer os ajustes necessários de acordo com o seu público.

Patrocinadores: podem informar os seus empregados sobre o benefício de previdência complementar por eles oferecidos, informando sobre os efeitos de baixas contribuições nos planos de aposentadoria e reforçando a importância da educação financeira e previdenciária.

Entidades de classe e setoriais: podem utilizar do seu importante conhecimento sobre os associados e suas necessidades para informar sobre os planos de benefícios disponíveis e da importância da educação financeira e previdenciária. 

Há algum tempo tem se falado que os dados são o novo petróleo, e para a Previdência Complementar esta ideia não é diferente. Os dados do Censo são puro petróleo, e estão disponíveis para serem utilizados de modo a fomentar o sistema.

 

Fonte: Estadão

*Laís Guerra é Advogada da Previdência Usiminas e Especialista em Previdência Complementar

Shares
Share This
Rolar para cima