9º ENCONT mostra o uso da IA na prática para melhoria de processos na previdência complementar

A importância da transformação digital, com a IA desempenhando um papel crucial na modernização de processos das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) e órgãos ligados ao setor foi o foco do painel “IA na Qualidade da Informação Contábil” do 9º Encontro Nacional dos Contabilistas das EFPC (9º ENCONT).

O evento, realizado pela Abrapp e Ancep, com o apoio institucional da UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta, ocorre nos dias 21 e 22 de novembro, em formato presencial, em São Paulo, com o tema central “Inteligência Artificial (IA) e o seu papel transformador nas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC)”.

Alexandra Leonello, Diretora das Comissões Técnicas de Contabilidade da Abrapp, foi a moderadora do painel e, para demonstrar o papel transformador da inovação e da IA no setor de contabilidade, Maria Elizabete Silva, Coordenadora da Comissão Técnica Regional-Nordeste de Contabilidade da Abrapp e Gerente Econômico-financeira da Fachesf, enfatizou o impacto da ferramenta tecnológica como uma parceira estratégica que fornece precisão, insights em tempo real e previsões financeiras e patrimoniais.

“A IA já é uma grande parceira para fazer com que nossos processos atinjam plenamente o objetivo da contabilidade, que é gerar informações úteis para a tomada de decisão”, disse. Ela reforçou que a área contábil deve ir além da simples coleta de números e prazos, focando na análise estratégica e clareza na comunicação de negócios.

Observando que o uso da IA deve reduzir tarefas repetitivas e acelerar a entrega de informações, Maria Elizabete disse que a partir do uso da ferramenta os contadores podem se concentrar em análises mais aprofundadas. “É preciso que a IA se una ao humano para que o contador não seja chamado para explicações de variações orçamentárias não previstas, e sim para discutir ideias.”

Maria Elizabete destacou que o planejamento estratégico das EFPC deve incluir ferramentas digitais que garantam economicidade, eficiência operacional e lucratividade, defendendo a adoção da transformação digital com urgência para melhorar processos e atender às demandas do mercado. Segundo ela, a IA não representa apenas um avanço tecnológico, mas uma revolução na forma como os fenômenos contábeis são tratados para gerar informações úteis.

A governança das entidades também deve ter a mentalidade de implementar essa análise de dados em favor da tomada de decisão, observou Maria Elizabete, mas as equipes de controladoria precisam adotar uma postura proativa para implementar ações estratégicas, engajamento e comunicação clara. “A equipe de controladoria também tem que ir atrás.”

IA na contabilidade – Os profissionais de contabilidade e finanças ainda necessitam avançar muito no uso de inteligência artificial dentro de suas competências e processos. Jessica Regina, fundadora do Financ.ia, grupo focado em estudar IA para Finanças e Contabilidade, disse que muitos deles nunca usaram e sequer têm ideia de como funciona.

A longa experiência de Jessica na área financeira fez com que ela explorasse o potencial da IA no setor, impulsionada por um post no LinkedIn que atraiu milhares de interessados em um curso voltado para finanças, culminando na criação de uma comunidade e cursos que já formaram centenas de profissionais.

Jessica compartilhou um exemplo prático de uma aluna que usou o ChatGPT para automatizar conciliações financeiras. O processo, antes realizado em seis horas, agora é concluído com o clique de um botão, graças a códigos VBA gerados pela IA. “A gente já tem condições de melhorar bastante os nossos trabalhos”, disse.

Ainda assim, ela destacou a necessidade de maior adesão do setor ao uso da tecnologia, apontando que outras áreas, como marketing, estão mais avançadas nesse quesito. Jessica explicou que a inteligência artificial generativa representa uma evolução crucial no uso da tecnologia, especialmente em áreas como finanças e contabilidade, diferente da IA tradicional, que realiza tarefas previamente programadas. 

Ela explicou que a IA generativa tem a capacidade de aprender com dados e criar soluções de forma autônoma, tornando-a uma ferramenta altamente versátil e disruptiva, que foi o uso feito por sua aluna no exemplo da automatização de conciliações financeiras.

O foco principal do uso da IA generativa é o aumento da produtividade e redução do estresse no setor financeiro, que frequentemente lida com altos índices de burnout devido à carga operacional. Jessica pontuou que a IA pode mitigar o alto índice de burnout entre profissionais financeiros, resultado de tarefas operacionais exaustivas e explicações do passado, ao invés de análises estratégicas. “Não estamos acostumados a fazer análise inteligente; estamos acostumados a gerar números”, reforçou.

Ela alertou, contudo, sobre os riscos de usar plataformas públicas de IA para informações corporativas, recomendando o uso de IAs fechadas e seguras, com dados organizados e armazenados na nuvem, garantindo a privacidade e a eficiência no uso da tecnologia. “A IA só funciona na nuvem, e todos os dados precisam estar organizados”.

A especialista incentivou os profissionais financeiros a adotarem uma mentalidade mais tecnológica e colaborativa com a área de TI, abandonando preconceitos tecnológicos e abraçando essa ferramenta como uma aliada estratégica. “Precisamos ser o melhor amigo da TI. Temos carta branca na empresa inteira; imagina o que podemos agregar se tivermos visão tecnológica”, complementou.

IA na supervisão e fiscalização – O uso de inteligência artificial nas fiscalizações do setor previdência complementar fechada já está sendo implementado. É o que foi demonstrado por Rodrigo Costa Possas, Coordenador-Geral de Monitoramento da Previc, que lançou um edital para desenvolver soluções de IA voltadas para o Poder Público.

Ele explicou que a ferramenta deve ser utilizada para beneficiar o setor, apoiando entidades, participantes e a contabilidade. “A Previc prevê a melhoria da qualidade dos dados recebidos, aplicando filtros e indicadores para identificação de aderência à legislação e às atipicidades”, disse.

Para isso, um dos projetos lançados foi o de Monitoramento de Operações Atípicas, que visa identificar indicações e operações atípicas nos investimentos das EFPC a partir da análise da qualidade dos dados, aplicando filtros e indicadores para identificar desvios.

O projeto está passando pela prova de conceito da empresa selecionada para indicar a viabilidade da solução proposta a partir de um trabalho feito com o banco de dados da Previc. “Temos um modelo de IA para comparar a EFPC com ela mesma ou ver investimentos realizados que podem ser atípicos em comparação com demais entidades, indicando se as operações diferem do comportamento do conjunto do sistema”.

O modelo desenvolvido detectou e sinalizou atipicidades nos investimentos. Os próximos passos incluem cruzamentos mais complexos entre entidades e o aprimoramento da engenharia de características.

Já o projeto de Análise de Solvência tem o objetivo de estimar riscos de insolvência, reduzir tempo de respostas e aumentar a estabilidade e confiabilidade do sistema. Para isso, modelos preditivos foram utilizados para projetar probabilidades de equacionamento financeiro.

“A metodologia visa um processo de aprendizado sequencial para que a chegada dos dados atualize revisões de probabilidade de equacionamento a cada mês. Em três meses de projeto, já foram cruzados três modelos de previsão com 79% de acurácia”, disse Possas.

Ele ressaltou que ainda é preciso refinar os modelos considerando variáveis explicativas (macroeconômicas, tábuas de mortalidade, investimentos, etc.), e incorporar dados não estruturados, como notas explicativas, utilizando índices de semelhança para tabulação eficiente.

Uso da IA é inevitável – Sergio Cabral, Gerente de Contabilidade da Funpresp-Jud, falou sobre a evolução tecnológica e como a inteligência artificial está transformando a percepção de valor sobre produtos e serviços no mundo todo. 

Segundo ele, a mudança é inevitável e exige que os profissionais acompanhem a evolução. “Se você ficar fora desse jogo, você simplesmente vai ficar ultrapassado”. Cabral observa que entregas rápidas e bem-feitas, com suporte de IA, estão redefinindo as expectativas sobre o papel das profissões.

Comparando com exemplos cotidianos, como o sucesso de um barbeiro que reformulou sua abordagem, ele argumenta que a forma como os resultados são apresentados pode mudar completamente o impacto percebido de um trabalho, mesmo que a essência do serviço não mude.

Na contabilidade, a aplicação de IA pode elevar a qualidade das entregas, tornando-as mais estratégicas e menos operacionais. Cabral enfatiza a importância da adaptabilidade no mundo em rápida evolução. “Aprender, desaprender e aprender rápido” é a chave para se manter relevante.

Ele convida os profissionais a assumirem a responsabilidade por sua evolução, destacando que a escolha entre protagonismo e estagnação é individual. “Mudança só é mudança quando muda alguma coisa. Qualquer coisa além disso é intenção”. Cabral alerta que a adoção da IA não é uma opção, mas uma necessidade para os profissionais que desejam permanecer relevantes no setor.

O 9º ENCONT é uma realização da Abrapp e da Ancep, contando com o apoio institucional da UniAbrapp, Sindapp, ICSS e Conecta. Patrocínio Ouro: Evertec + Sinqia. Patrocínio Prata: 4UM Investimentos, Brunel Partners, JCM Advogados Associados, Mirador, PFM Consultoria e Sistemas, Rodarte Nogueira, Santos Bevilaqua Advogados. Patrocínio Bronze: Mirador. Apoio: Itajubá Investimentos, Moreira Auditores, NKAN Tech Consult.

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