Artigo: Desafio revigorado da poupança de longo prazo* – por José Roberto Afonso e Thiago Felipe Abreu

José Roberto Afonso

*Publicado na Revista Conjuntura Econômica (FGV-IBRE) – Edição Setembro de 2022 – Volume 76 – n. 09

A evolução da formação da poupança doméstica familiar apresenta fortes oscilações desde a chegada do coronavírus. Não apenas novas tendências são apuradas, refletindo fatos conjunturais, como a pandemia de saúde e a guerra europeia, mas novos desafios são postos, aí em caráter estrutural – com a crescente opção de trabalhadores de trocarem os empregos tradicionais por outras formas de trabalho.

Primeiro, a poupança do medo disparou. “Como nunca as famílias estão poupando, em todo o mundo, com o advento do novo coronavírus e, como em outras crises, no Brasil, derrete a taxa de investimento fixo. Se crise vira oportunidade, um desafio monumental é aproveitar para transformar poupança em investimento.”

Esse trecho fez parte do artigo publicado na revista Conjuntura em outubro de 2020 pelos presentes autores. Desde então nos debruçamos em estudar melhor esta poupança não só precaucional, mas forçada pelas medidas restritivas na tentativa de minimizar a disseminação do vírus Sars-CoV-2.2.

Um novo impacto veio com a rápida recuperação das economias e, a partir do início do ano de 2022, a disparada mundial da inflação e a eclosão da guerra na Ucrânia, cujos efeitos combinados foram um súbito esgotamento da poupança precaucional antes mencionada.

Blanchard e Pisani-Ferry (2022) apresentam um quadro resumindo os principais efeitos da guerra para a União Europeia, mas que podem, de certo modo, servir como base para analisar os impactos que a guerra trouxe para o resto do mundo, principalmente no que diz respeito aos preços mais altos dos alimentos à medida que os rendimentos das safras ucranianas e russas caem, reduzindo a oferta global. Isso porque ambos os países concentravam a oferta global de um amplo conjunto de commodities e de energia, principalmente para a Europa. A redução dessa oferta, junto com os pacotes anticíclicos no combate à crise pandêmica, pressionou a inflação de forma global e, como brasileiros bem sabem, os mais pobres, como sempre, são os mais afetados quando o assunto é inflação.

Nesse sentido, Celasun et al. (2022) estimam que as famílias europeias terão um aumento de cerca de 7% em seu custo de vida este ano. Porém, os preços mais altos da energia impõem um fardo ainda mais pesado às famílias de baixa renda porque gastam uma parcela maior de seu orçamento em eletricidade e gás.

Com isso, a poupança acumulada ao longo dos últimos 2 anos tem se exaurido nos principais países. Dados para os EUA mostram que o estoque de poupança acumulado para muitos americanos, especialmente aqueles na extremidade inferior da escala de renda, já se esgotou e que a poupança privada caiu para o menor valor desde 2009.

Os mesmos resultados podem ser vistos para o Brasil. O indicador de inflação por faixa de renda produzido pelo Ipea mostra como os mais pobres vêm sofrendo com um nível maior de inflação frente aos mais ricos. (continua…)

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.

 

José Roberto Afonso é Economista, professor do IDP e ISCSP, pesquisador do CAPP/Universidade de Lisboa e GV Europa

Thiago Felipe Abreu é Economista, doutorando em economia pela PPGCE/Uerj

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