Artigo: Investimento sustentável cresce na crise, com foco migrando para o longo prazo – Por Daniel Celano e Fernando Cortez*

Daniel Celano, Schroders

O investimento sustentável vem crescendo nos últimos anos e a crise atual tem impulsionado ainda mais o segmento, com alta no lançamento de fundos de ações especializados em empresas que seguem critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês, que tem sido usada como ASG no Brasil). Muitos poderiam pensar que a sustentabilidade deixaria de ser prioridade em um momento de instabilidade nos mercados, mas o que vem acontecendo é o contrário. Isso porque investir em ações de empresas sustentáveis traz, intrinsecamente, um componente de mitigação de risco, com foco em resultados no longo prazo. E a diversificação internacional pode somar-se aos esforços para o investidor proteger o seu patrimônio contra oscilações momentâneas do mercado e obter retornos acima do mercado.

Segundo a Anbima, a quantia aplicada no Brasil em fundos de ações sustentáveis cresceu 29% nos últimos 12 meses, totalizando R$ 543,4 milhões em junho. Além de modismos ou discussões sobre ética empresarial, do ponto de vista do investidor, companhias com menores passivos ESG apresentam menores chances de serem prejudicadas no futuro, maiores chances de terem os seus resultados catalisados por iniciativas sustentáveis eficazes, e menor custo de capital, em decorrência de serem geridas para o longo prazo, com redução dos “riscos de cauda”. Geridas para o longo prazo, essas empresas levam em consideração o impacto sobre todos os seus stakeholders, conseguindo obter resultados sustentáveis acima da média. Ou seja, essas companhias levam em conta, ao mesmo tempo, os interesses de seus acionistas, clientes, reguladores, meio ambiente, fornecedores, colaboradores e da sociedade como um todo. Como consequência, a performance de estratégias de investimento com gestão ativa e foco em empresas sustentáveis tende a ser superior à do mercado em geral, no longo prazo.

Como referência, o fundo global de ações Schroder Sustainable Growth, que prioriza o investimento em empresas com parâmetros positivos de sustentabilidade, está gerando retornos 5,6 pontos percentuais ao ano acima do mercado global (índice MSCI AC World) nos últimos 36 meses (até 31 de maio de 2020). A estratégia internacional é acessada por meio do fundo local, Schroder Sustentabilidade Ações Globais, e está disponível no Brasil a partir de julho, para aplicações de Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS).

Fernando Cortez, SchrodersO fundo propõe unir investimento sustentável a diversificação internacional, que é outro fator que contribui para construir um forte histórico de retornos e proporcionar geração de Alpha consistente, e que tem atraído o interesse dos brasileiros em particular, diante da valorização do dólar e da queda da taxa básica de juros no Brasil. Agora, a crise da Covid-19 vem somar-se aos motivos para olhar mais para o exterior: dedicando uma parcela da carteira a ativos globais, é possível ter acesso a setores favorecidos pela crise, mas escassos no Brasil; e resguardar-se contra riscos do mercado local.

De fato, não somente as ações brasileiras são mais voláteis do que as ações globais durante períodos de estresse, mas também há vários períodos em que as ações domésticas experimentaram maior volatilidade e retornos negativos independentemente dos mercados globais. Com base em volatilidades e correlações históricas nos últimos dez anos, a Schroders calcula que um investidor brasileiro que investe 50% em ações e 50% em renda fixa domésticos, elevaria o seu retorno em aproximadamente 1 ponto percentual ao ano ao transferir uma parte das alocações locais para uma alocação de 10% ou 20% em ações internacionais, mantendo ou diminuindo o nível de risco da carteira. Ou seja, destinar parte dos investimentos a ativos no exterior, de forma eficiente, pode melhorar o retorno esperado para o mesmo nível de volatilidade.

A diversificação com foco em ESG pode ser aliada não apenas em momentos de crise no mercado, mas sempre. Como referência, o Ibovespa registra queda de 17% em 2020 (até 25 de junho), e volatilidade de 63,8%. Se o investidor dedicasse 30% do seu portfólio de renda variável ao fundo global de ações no exterior com foco em ESG, sem hedge cambial, o retorno negativo seria limitado em 9,8%, com volatilidade de 48,6%. Em simulação para 36 meses, o retorno da carteira com um percentual de 30% aplicado no fundo internacional ESG seria de 67%, contra 39,4% em uma carteira alocada apenas no mercado de ações locais.

Como se pode ver, hoje existem muitas circunstâncias favoráveis para a diversificação internacional com foco em investimento sustentável, que tem atraído mais interesse no Brasil. Mas ainda há muito o que avançar por todos os investidores, de pessoas físicas a instituições. A Anbima estima que a quantia investida em fundos ESG no país representa 1% do patrimônio da indústria de fundos no Brasil. No mundo, esse percentual é de 36%, segundo o Global Sustainable Investment Alliance. Algo que pode fazer toda a diferença para o mercado explorar mais as oportunidades ESG é contar com ferramentas, escala e o conhecimento técnico de um time especializado de gestão.

Por exemplo, por trás do Schroder Sustentabilidade Ações Globais, há um time dedicado de especialistas integrado internacionalmente: além de mais de 100 analistas de ações distribuídos pelos principais mercados internacionais, há um time global de 20 profissionais especializados em investimentos sustentáveis e mais de 25 cientistas e analistas de dados (Big Data). O time de gestão também utiliza ferramentas proprietárias, como Context e SustainEx, esta, que faz uma avaliação profunda e abrangente da sustentabilidade do modelo de negócio de uma empresa no longo prazo, além do potencial de crescimento, com base na relação com seus stakeholders. A abordagem é qualitativa, em vez de quantitativa, e adota altos critérios para inclusão no grupo elegível, fazendo uma avaliação dinâmica, e não estática da empresa.

Mais do que se preocupar em seguir uma tendência momentânea, os investidores devem olhar para o investimento sustentável no exterior de forma estratégica e estrutural. Quando realizada com a dedicação que exige e de acordo com o perfil de cada investidor, a diversificação internacional com foco em ESG pode ser altamente eficaz para retornos acima do mercado no longo prazo.

*Daniel Celano – CFA e Country Head Brasil da Schroders (foto no topo) e Fernando Cortez – Head of Sales da Schroders (foto no meio)

(As opiniões e conceitos emitidos no artigo acima não refletem, necessariamente, o posicionamento da Abrapp a respeito do tema)

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