Artigo: Os fundos de pensão e a gestão de riscos – *Por Leonardo Moraes, da Petros

Não há negócio com um relacionamento tão longo com o cliente como o nosso. Uma entidade que gere planos de previdência, especialmente de grandes empresas, está habituada a se relacionar com seus clientes, a quem costumamos chamar de “nossos participantes”. Acompanhamos toda a trajetória profissional deles. Somos uma instituição à qual o participante confia o depósito mensal que, no futuro, contribuirá para a sua qualidade de vida e a de sua família.

Ao término de seu período como “ativo”, mais uma das nomenclaturas do nosso setor, é com a nossa empresa que o participante conta na sua aposentadoria. Até mesmo em sua falta, nosso relacionamento continua, desta vez com a sua família.

Dado tão longo período de contato e tão importante papel que exercemos, é dever de todos os fundos de pensão gerenciar da melhor forma possível todos os riscos envolvidos no negócio. E a lista não é pequena: riscos financeiros (mercado, crédito, liquidez), riscos atuariais (como as obrigações podem variar no futuro), riscos jurídicos/normativos e risco sistêmico são exemplos que lidamos diariamente.

O ano de 2021, quase uma extensão do ano de 2020 para todos nós, mostra o desafio que é a gestão de riscos nos fundos de pensão. Embora sejamos uma indústria de longo prazo e nossa visão esteja em garantir que tenhamos recursos suficientes para o pagamento das obrigações aos nossos clientes no futuro, somos cobrados anualmente por um retorno mínimo das nossas aplicações.

Assim, surge o primeiro desafio da gestão de riscos: com um olhar no longo prazo, ajudar os fundos de pensão a tomarem as melhores decisões no curto prazo, atendendo aos objetivos de ambos os horizontes.

Esse olhar envolve uma grande complexidade. Além das questões teóricas, como as modelagens envolvidas e a definição de indicadores e orçamentos (limites) de riscos, a área de gestão de riscos deve entender profundamente do negócio e ser extremamente ágil em suas análises, de forma a permitir a gestão também mais ágil dos investimentos nas empresas, cada vez mais necessária neste contexto de cobranças em curto e em longo prazos.

A evolução da função riscos nas entidades deve ocorrer, e rapidamente!

A área de gestão de riscos de um fundo de pensão deve garantir, proativamente, que a empresa identifique seus principais riscos em todos os seus processos. Deve também, a partir desse levantamento, de fontes externas e da percepção de stakeholders-chave, apoiar a definição dos riscos estratégicos da empresa e elaborar, com as áreas relacionadas, planos de ação para tratamento desses riscos.

É papel da área de gestão de riscos de um fundo de pensão acompanhar a execução dos planos de ação e, principalmente, manter a administração da empresa (Diretoria e Conselho) ciente dos principais riscos e do andamento das ações para seu tratamento. Para isso, é fundamental um relacionamento próximo e frequente com as outras áreas da empresa.

A área de gestão de riscos de um fundo de pensão deve apoiar a administração na tomada de decisão de assuntos estratégicos e precisa levantar o tradeoff normalmente existente entre as diversas decisões possíveis para um problema. Se expor a riscos faz parte do dia a dia de uma empresa, mas uma administração bem-informada é capaz de decidir a quais riscos tolera expor a empresa e a quais não tolera.

Na Petros, temos fortalecido a cultura de gestão de riscos, pois sabemos de sua importância estratégica para o aprimoramento da governança e da administração dos recursos investidos.

A evolução das áreas de riscos dos fundos de pensão é fundamental para o setor. Para isso, precisamos de profissionais que saibam mais do que estatística, finanças e programação. Precisamos daqueles que sejam curiosos, inquietos, questionadores, mas que saibam construir relações duradouras. É com esses profissionais que iremos trilhar nosso caminho de evolução.

 

* Leonardo Moraes é Diretor de Riscos, Finanças e Tecnologia da Petros

Shares
Share This
Rolar para cima