Artigo: Porque as EFPCs devem adotar a abordagem quantitativa – por Rodrigo Maranhão*

Em anos recentes, ao mesmo tempo em que temos visto uma propagação de gestores/fundos autodenominados “quants”, percebemos uma certa confusão em relação a esta nomenclatura. O objetivo deste artigo, portanto, é conceituar  de forma mais precisa o que seria uma abordagem quant, e mostrar  alguns dos principais benefícios para as EFPCs em adotá-la na gestão de seus portfólios.

Primeiramente, é importante ressaltar que a abreviação “quant” não possui origem no termo “quântico” como alguns confundem, mas sim na palavra quantitativo. Quântico seria uma referência à física quântica, da famosa equação de Schrödinger. Até onde vai meu conhecimento, desconheço aplicações deste ramo da física naquilo que entendo por abordagem quant nos investimentos. Assim, o termo quant trata-se de uma abreviação de quantitativo, e não  de quântico.

Há 3 aspectos que podem ser observados quando nos referimos a uma abordagem quant nos investimentos. O primeiro deles diz respeito à sistematização dos investimentos. Isto nada mais é do que ter regras pré-estabelecidas, que determinam quando comprar ou vender cada ativo. Estas regras podem ser tão simples quanto, por exemplo, uma alocação alvo entre alguns ativos, cujo rebalanceamento é feito a cada intervalo de tempo pré-definido. Pode também ser complexa, como um modelo de cointegração que identifica distorções entre pares de ações. O importante deste aspecto é que as condições que definirão o posicionamento de investimentos foram estabelecidas previamente. Estas regras são os chamados algoritmos, que podem ser vistos como “receitas de bolo” a serem seguidas. As vantagens de adotar-se uma sistematização são imensas, mas podemos destacar duas de grande relevância para o público deste artigo: maior aderência às políticas de investimentos e redução dos vieses comportamentais que tanto atrapalham os investimentos. Há ainda a possibilidade da utilização parcial destas regras, como uma bússola que ajuda o investidor a encontrar a direção dos investimentos.

O segundo aspecto que pode ser observado é a automatização dos investimentos. Este aspecto diz respeito a usar robôs para comprar e vender os ativos. Ao fazer isso, o investidor passa a ter um registro formal de suas execuções e das razões que levaram àquela ordem ser enviada ao mercado. Isso confere uma maior transparência e facilidade de auditoria. Adicionalmente, quando o robô é o responsável pela execução, pode-se esperar que as ordens serão executadas com maior eficiência (ou ao menos consegue-se mensurar melhor a sua eficiência). Todos estes pontos são bastante interessantes para um investidor institucional que constantemente está sujeito ao escrutínio dos seus participantes e órgãos reguladores. Naturalmente, a adoção desta automatização não vem sem custo: são necessários investimentos e uma equipe especializada no assunto para a correta implementação deste tipo de solução.

Note que estes dois aspectos podem ser observados em casos onde obviamente não estamos nos referindo a um quant propriamente dito. Por exemplo: sobre o aspecto da sistematização, os ETFs têm todos seus investimentos definidos por regras claras; sobre o aspecto da automatização as corretoras têm robôs que ajudam a executar ordens de seus clientes. No entanto, nenhum destes dois podem ser classificados como quants. Vem então o terceiro e, na minha opinião, mais importante aspecto da abordagem quantitativa que é a aplicação da metodologia científica nos investimentos.

O cientista tipicamente tem uma postura cética ao tentar explicar o mundo. Ele observa a natureza, cria teorias sobre os fenômenos observados, mas jamais assume aquilo como verdade sem antes fazer experimentos para validar ou rejeitar a teoria. O quant “ortodoxo” faz algo similar, ou seja, não é porque leu uma teoria sobre como ganhar dinheiro que ele aceitará aquilo como verdade. Neste sentido, o experimento que ele tem à disposição são os backtests. Aqui, vale ressaltar que não é o tradicional backtest de Kupiac (utilizado para validar modelos de risco) que estamos nos referindo (Kupiac), mas sim de outro tipo.

De posse de uma ideia sobre como ganhar dinheiro, o quant irá programar aquela estratégia e testá-la numa base de dados histórica. Isto permite conhecer o comportamento daquela estratégia em diversos cenários. E por mais que a história não se repita, ela rima. Temos convicção de que não existem estratégias milagrosas capazes de serem bem-sucedidas em todos os cenários. Mas acreditamos ser possível identificar estratégias de investimentos capazes de atravessar uma ampla gama de situações, com um gerenciamento de riscos eficientes e que no longo prazo consiga entregar bons resultados. Ao adotar a metodologia científica nos investimentos, o investidor passa, portanto, a tirar os “achismos” do seu processo e trabalhar de uma forma muito mais baseada em evidências.

Estas três dimensões conjuntamente são o que definem um quant. Entendendo isso, é fácil perceber que cada uma delas pode ser adotada em maior ou em menor escala, sendo possível todo um espectro de adoção. Abre-se, portanto, um leque de oportunidades para as EFPCs. Estas podem optar por adotar cada uma destas dimensões internamente, para aprimorar seus processos e práticas. Mas também podem terceirizar parte dos seus investimentos para gestores que são especialistas nesta abordagem. Conhecemos casos de algumas das mais conceituadas fundações do Brasil que vêm adotando a abordagem quantitativa tanto internamente, como alocando em gestores quant.

Nós da Kadima somos especialistas nesta abordagem, com mais de 15 anos de experiência no assunto e uma grade bastante ampla de produtos que podem ajudar as EFPCs nesta jornada.

*Rodrigo Maranhão, Sócio e Diretor de Gestão da Kadima Asset Management.

Shares
Share This
Rolar para cima