Carta anual de Larry Fink traz como tema central o “Tempo de Repensar a Aposentadoria” e defende mecanismo de inscrição automática

Publicada nesta terça-feira (26/03), a tradicional carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock, aborda como tema central a necessidade de repensar a aposentadoria (título em inglês “Time to Rethink the Retirement”). Na posição de principal executivo de uma das maiores gestoras de recursos do planeta, a cada ano, Fink destaca um tema central que acaba influenciando a direção da indústria de gestão de ativos ao redor do mundo. 

Assim ocorreu quando começou a enfatizar a necessidade dos investidores seguirem os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) há cerca de cinco anos. Agora o discurso está voltado para os desafios da previdência para os trabalhadores da ativa e também para os aposentados. 

Larry Fink aponta as dificuldades que levam cerca de metade da população a chegarem com idades entre 55 e 65 anos e não terem nenhum recurso investido para a aposentadoria. O primeiro ponto é a renda baixa que não permite o direcionamento de sobras para a poupança previdenciária. O segundo aspecto, segundo o gestor, é a complexidade do mercado financeiro quando o tema é planejamento para a aposentadoria.  

“É aqui que os trabalhadores se deparam com outra barreira: investir é complexo, mesmo que se possa pagar. Ninguém nasce investidor nato. É importante dizer isso porque às vezes, no setor de serviços financeiros, insinuamos o contrário. Fazemos parecer que poupar para a aposentadoria pode ser uma tarefa simples, algo que qualquer pessoa pode fazer com um pouco de prática, como dirigir para o trabalho. Basta pegar as chaves e sentar no banco do motorista. Mas financiar a aposentadoria não é tão intuitivo”, diz Fink. Ele apresenta alternativas de produtos criadas pela gestora para a população em geral.

O CEO da BlackRock cita as diferentes alternativas de sistemas de previdência o redor do mundo, mas destaca o modelo australiano como um dos mais interessantes. “Outras nações simplificam as coisas para os seus trabalhadores de tempo parcial e contratados. Na Austrália, os empregadores devem contribuir com uma parte da renda de cada trabalhador com idade entre 18 e 70 anos para uma conta de aposentadoria, que pertence então ao empregado. O sistema foi introduzido em 1992, quando o país parecia estar a caminho de uma crise de reforma. Trinta e dois anos depois, os australianos provavelmente têm mais poupanças para a aposentadoria per capita do que qualquer outro país. O país tem a 54ª maior população do mundo, mas o 4º maior sistema de pensões”, comenta.

Inscrição automática – Larry Fink defende também o mecanismo de inscrição automática nos planos como forma de ampliar a participação e a cobertura previdenciária. “Em 2017, o economista da Universidade de Chicago, Richard Thaler, ganhou o Prémio Nobel, em parte, pelo seu trabalho pioneiro em torno dos “nudges” – pequenas mudanças nas políticas que podem ter um enorme impacto na vida financeira das pessoas. A inscrição automática é uma delas. Estudos mostram que o simples passo de tornar a inscrição automática aumenta a participação no plano de reforma em quase 50%’, diz. 

Ele comenta ainda que os EUA devem fazer tudo o que estiver ao alcance para tornar o investimento na reforma mais automático para os trabalhadores. 

Outro aspecto abordado na carta é a necessidade de orientar os aposentados na gestão e nos gastos dos recursos poupados. Ele lembrou que em 2018, a BlackRock encomendou um estudo com 1.150 aposentados americanos e encontrou um resultado surpreendente. 

A pesquisa mostrou que, após quase duas décadas de aposentadoria, as pessoas em média ainda tinham 80% do dinheiro da pré-aposentadoria economizado. Estamos falando de pessoas que provavelmente tinham entre 75 e 95 anos. Se tivessem investido para a aposentadoria, provavelmente teriam dinheiro mais do que suficiente para o resto da vida. E, no entanto, os dados também mostraram que estavam preocupados com as suas finanças. Este paradoxo tem uma explicação simples: mesmo as pessoas que sabem poupar para a reforma ainda não sabem como gastar para isso.

E explica que a insegurança com os gastos da poupança na fase de aposentadoria tem raízes na mudança dos planos de benefício definido para os de contribuição definida. 

“Como a maioria das contas de contribuição definida não vem com instruções sobre quanto você pode sacar todos os meses, os poupadores individuais devem primeiro acumular uma reserva e depois gastar a uma taxa que durará o resto de suas vidas. Mas quem realmente sabe quanto tempo isso vai durar? Simplificando, a mudança do benefício definido para a contribuição definida tem sido, para a maioria das pessoas, uma mudança da segurança financeira para a incerteza financeira”, aponta Fink.

O gestor revela que 14 empresas de gestão de Previdência Privada estão preparando um novo modelo de plano denominado LifePath Paycheck, que se trata de uma alternativa de investimento a ser acoplada nos planos de contribuição definida. O novo modelo deve ser oferecido inicialmente a um grupo de 500 mil trabalhadores dos EUA. 

Larry Fink aborda ainda temas como investimentos em infraestrutura e energia em sua carta, além de falar de mudanças e perspectivas da própria gestora de recursos. 

Clique aqui para ler a carta anual de Larry Fink na íntegra. 

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