Encontro Regional Sudeste: Inovação, Ética e ASG são essenciais para sustentabilidade do sistema

Os temas inovação, ética, integridade e critérios ambientais sociais e de governança (ASG) estão cada vez mais em pauta no dia a dia das entidades, sendo essenciais para sustentabilidade do sistema de previdência complementar. Durante o Encontro Sudeste, promovido pela Abrapp, Sindapp, ICSS, UniAbrapp e Conecta, iniciou nesta 27 de agosto, e teve esses assuntos abordados no segundo e terceiro painel do dia. Veja aqui como foi a abertura do evento. Na ocasião, foi feita uma pesquisa com os mais de 500 dos participantes do evento, que são profissionais das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), sobre a relevância desses temas dentro de suas entidades.

Entre os participantes, 43% responderam que sua entidade intensificou o uso de tecnologia pela pandemia, mais ainda não avançou tanto em inovação, enquanto 27% estão se adaptando e se organizado nessa direção, e 24% avançaram muito no tema. Para estimular ainda mais esse debate, o segundo painel foi “Sistema Focado em Inovação e Economia Compartilhada”. O moderador do painel, Guilherme Velloso Leão, Presidente do ICSS, ressaltou o momento desafiador que o sistema está passando que exige uma inovação em tecnologia, modelo de negócios e comunicação com clientes.

Inovação – Inovação e economia compartilhada são o ponto final de uma jornada que inicia com a disrupção, e o sistema de está caminhando ao encontro desse viés, conforme expôs a pesquisa. Claudia Regina Janesko, Superintendente Executiva da Conecta, disse que independente do tamanho das EFPC, o mindset e estruturas estão mudando. “Para isso, é fundamental que a gente tenha o engajamento, envolvimento e patrocínio da alta gestão”.

Aliada à disrupção, a tecnologia digital faz parte dessa jornada. “As ferramentas tecnológicas são o meio para nos conduzir ao ponto de sanar nossas dores”, disse. Para isso, o sistema precisa entender quais são os desafios para, depois, entender quais ferramentas ajudarão a solucionar essas questões. “A adaptabilidade à mudança é necessária para que nossos talentos façam essa mudança de mindset e, para isso, a tecnologia será aliada a profissionais com soft skills”, disse Claudia.

Assim, as EFPC passarão por um novo modelo de negócios. “Estamos em uma nova sociedade e vivendo um momento novo de plataformas e de uso intensivo do digital. Precisamos atuar dentro dessa construção de um novo modelo de negócios”, disse. A ação é mais um passo dessa jornada e para agir, a proximidade com empresas inovadoras se torna parte fundamental do processo. “Para fazer esse movimento, criamos um hub da previdência privada”, contou Claudia.

Mais que um grande laboratório de soluções, Claudia define o Hupp como um espaço de conexão. O projeto é patrocinado pela Abrapp com administração da Conecta e apoio técnico da LM Ventures. “Esse é um espaço de colaboração, onde um grupo de entidades, juntas, trabalham na busca de soluções não somente para si, como para todo o ambiente”. Além disso, o Hupp pretende promover o compartilhamento de ideias, soluções, desafios e ganhos tecnológicos, intelectuais, e econômicos dentro da economia compartilhada.

O Hupp conta com 11 entidades parceiras e 17 startups já selecionadas. “O papel das entidades parceiras é fundamental em todo o processo até as Provas de Conceito (POCs), quando validamos as soluções propostas, para verificar se elas geram resultado dentro das EFPC, trazendo ganhos efetivas à nossa estrutura e ambiente”.

Economia compartilhada – Dando sequência à questão de propostas de inovação, Magnus Arantes, Diretor da LM Ventures, destacou que a economia compartilhada nasceu do comércio e evoluiu ao longo do tempo. “Diferente do comércio tradicional, se a gente faz uma troca de ideias, cada um sai com mais de uma ideia. O compartilhamento de ideias e a inovação se somam”. Ele falou ainda sobre o propósito dos hubs setoriais, que visam a colaboração de empresas para levar mais de uma solução ao mesmo setor.

Ao longo de sua apresentação, Magnus demonstrou diversos exemplos de como as soluções compartilhadas geram inovação e benefícios a várias pontas de uma mesma economia. “Por isso, nosso objetivo maior é identificar grandes temas para encontrar soluções que sejam compartilhadas entre as entidades”, disse. “Queremos apresentar não somente o benefício econômico, como também de aumento de eficiência, melhoria de atendimento, entre outros”, complementou.

Processos de gestão – A tecnologia está mudando também o processo de gestão de fundos. É esperado que daqui 10 anos, a quantidade de pessoas trabalhando em operações, risco e comercial de uma gestora de investimentos reduzirá, sendo que esses processos serão cada vez mais automatizados. Por outro lado, 40% da tomada de decisão das gestoras será com base em pesquisa, e 40% usará tecnologia, área que hoje não faz parte dos processo básico de gestão. Os dados foram apresentados por Rodrigo Terni, Co-fundador e Co-CEO da Giant Steps Capital que participou do painel falando sobre o futuro da indústria na gestão.

Segundo ele, a tecnologia muda muito rápido e as gestoras precisam investir bastante para atuar. Ele destacou que a indústria de fundos muda muito rápido, e dos fundos que nasceram há 10 anos, apenas 40% ainda são existentes. “Isso porque a indústria brasileira tem certa dificuldade em inovar e investir em tecnologia”, disse Terni.

Ele contou um pouco sobre as três etapas de investimento que toda gestora passa: pesquisa; tomada de decisão, e execução e gestão de riscos. “Antigamente, os gestores usavam dados pré-processados e existia um trabalho em cima da informação inicial para que depois ela fosse disponibilizada ao gestor. Ao longo do tempo, contudo, os gestores perceberam que não dava tempo de esperar pela informação, e a tecnologia facilitou o surgimento de dados brutos de balanços, fluxo de caixa, etc. Hoje nós vivemos de maneira diferente. Os dados brutos ficaram lentos demais, e trabalhamos com dado únicos, ou fabricados”, destacou. Segundo Terni, hoje há tecnologia para enviar sensores que captem a melhor alternativa que o dado tem, informando o gestor para que ele possa, assim, tomar a decisão mais rápida.

Tomada de decisão – A tomada de decisão de um gestor pode ser discricionária ou sistemática. “A decisão baseada em sistemas tem o gestor por trás, pois é que ele que desenvolve o sistema. Mas seguir o sistema é importante, pois apenas o ser humano não consegue fazer uma análise tão rápida para tomar uma decisão discricionária”, disse. “O mercado vai caminhar para ser cada vez mais sistemático conforme o tempo passa”, complementou.

Guilherme Velloso Leão reiterou a importância da análise que deve ser feita na escolha de assets para que elas, de fato, tomem a melhor decisão. “Precisamos entender se os gestores estão preparados para essas mudanças no mercado, com essa agilidade na tomada de decisão”, destacou.

Sustentabilidade – A parte da tarde do Encontro Regional Sudeste iniciou com o terceiro painel do dia “Muito Além de Tendência: Gestão de Investimentos com Foco em ASG, Integridade e Ética”. O moderador José de Souza Mendonça, Diretor-Presidente do Sindapp, destacou que o índice ASG avalia o desempenho das fundações em impactos de três eixos: ambientais, sociais e governança “Hoje, cada vez mais além da rentabilidade dos investimentos, é necessário cumprir o compromisso com nossos planos, e a sensibilidade também importante”.

Marcelo Coelho de Souza, Chefe de Gabinete da Previ destacou que além do ASG, as entidades devem medir também a integridade, ampliando a sigla para o ASGI. “Esse tema é uma realidade que ganha cada vez mais força no Brasil. A gente deve estar nessa agenda, pois o ASGI mede os eixos da sustentabilidade, que é quando a decisão que você toma hoje dura por um longo tempo. E a previdência também é um negócio de longo prazo, que busca perenidade e longevidade”, explicou.

Segundo ele, as EFPC têm uma responsabilidade enorme de fazer essa agenda acontecer. “Se algum segmento tem que estar nesse negócio, é o nosso. Ao praticar sustentabilidade, estamos efetivamente cumprindo o nosso dever fiduciário com os participantes”, disse. Marcelo Coelho alertou, contudo, para um impasse comum do sistema de se achar que a rentabilidade está acima do ASGI, mas que esses eixos já influenciam na rentabilidade e influenciarão ainda mais no futuro. “Já é um consenso o quanto as questões ambientais e climáticas influenciam na economia do mundo”, destacou.

O aspecto social também é cobrado, pois um posicionado inadequado pode destruir valor e negócios, alertou Marcelo Coelho. “Como as empresas tratam os colaboradores impacta nos seus negócios”. Ele ressaltou que governança e integridade fazem parte do negócio das entidades e de seus resultados. “Não há como considerar rentabilidade sem considerar os aspectos ASGI”. Marcelo Coelho discorreu ainda sobre as possíveis formas de engajamento dentro desses eixos e refletiu se o próprio sistema não deve criar sua melhores práticas. “É importante que essa seja uma questão cultural que parta de dentro da entidades. E isso traz um dilema ético para as fundações, que ao cobrar um posicionamento de uma gestora, devem também ter o mesmo posicionamento internamente”.

Ética – Para tratar do relevante tema da ética, Liane Câmara Matoso Chacon, Diretora responsável pela Promoção da Ética do Sindapp, conduziu um debate com Aparecida Ribeiro Garcia Pagliarini, Coordenadora da Comissão de Ética do Sindapp, que iniciou com um questionamento sobre como rentabilidade e práticas ASG se dão diante também da decisão ética. Nesse sentido, Aparecida destacou que a ética deve ser coletiva. “A questão moral precisa ser solucionada na sociedade, não apenas enxergando a sustentabilidade imediatamente próxima a nós, e os princípios ASG não devem ser pensados apenas no nosso contexto, e sim para todo o planeta e humanidade, em um período que extrapole e que dê frutos por muitos longos anos”, disse.

Aparecida ressaltou que esses princípios são universais e que devem ser respeitados e  praticados. “A integridade está incluída nisso, e diante desses aspectos deve ser construída a previdência complementar”. Ela disse ainda que os investidores, sociedade civil, instituições e associações, ao assumir esses compromisso, estão preocupados com a vida. “Não é fácil por envolver vários atores, segmentos e políticas de Estado, e por isso precisamos, todos trabalharmos juntos para que essa complexidade diminua”.

Liane disse que o que era tendência passou a ser necessidade, mas questionou se pode haver ainda alguma lacuna na legislação brasileira que poderia ser preenchida visando fortalecer os aspectos ASG. “A Resolução nº 4.661 diz que os princípios ASG devem ser preenchidos sempre que possível, mas nesse caso, já se admite que em algumas hipóteses não seja possível. Então, não precisamos ficar dependentes da legislação, e isso é uma regra da governança corporativa: eu não preciso fazer só o que a lei manda”, avaliou Aparecida. “Os princípios ASG, para que se legitimem, devem ser adotados mesmo se não houver exigência da legislação”, ressaltou.

Aparecida destacou que a cultura de sustentabilidade deve partir do topo da governança dentro das entidades. “A estrutura não importa tanto, e sim a cultura interna, e é o Conselho Deliberativo das entidades que deve comandar isso”. José Mendonça complementou dizendo que ainda há uma pressão, dentro das entidades, para boas rentabilidades, e é difícil incentivar o direcionamento para empresas éticas. “Isso passa por uma educação financeira e previdenciária, que deve ser algo incentivado em todo o país. Todo mundo deveria ter essa consciência”, finalizou.

Confira a cobertura completa dos painéis do Encontro Regional Sudeste:

Os Encontros Regionais contam com o patrocínio de: Giant Steps Capital, Bradesco Asset Management, Pandhora, Rio Bravo, Santander Asset Management e Captalys. O evento tem o apoio da Mapfre Investimentos e da Franklin Templeton.

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