Entrevista: Ativos offshore ajudam na busca de maior retorno e equilíbrio dos portfólios

Em um cenário de taxa de juros em patamares mínimos históricos, as entidades fechadas (EFPC) têm enfrentado um desafio cada vez maior para superar as metas atuariais dos planos de benefícios. Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, Renato Santaniello, Head de Soluções de Investimentos e Multimercados da Santander Asset Management, comenta a necessidade de maior diversificação para as carteiras das fundações.

Ao mesmo tempo, aponta a importância de buscar essa diversificação, mas mantendo o nível de risco adequado. “As fundações precisam combinar estratégias que buscam mais retorno e, ao mesmo tempo, tragam equilíbrio ao portfólio”, diz o gestor. nesse contexto, surge a opção dos investimentos no exterior como alternativa para buscar melhores retornos com uma correlação de riscos mais favorável para o portfólio. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Blog Abrapp em Foco – Comente o atual cenário de juros reduzidos da economia e o desafio da superação das metas atuariais das entidades fechadas.

Renato Santaniello – No cenário de crescimento baixo e inflação abaixo da meta, o Banco Central deve manter a taxa básica em níveis próximos aos atuais por um período prolongado. Nesse contexto, aumenta o desafio de superar a meta atuarial nos próximos anos e, com isso, as fundações precisarão buscar alternativas de investimento com maior potencial de retorno, em contrapartida, com mais risco.

Abrapp em Foco – Analise a importância e a necessidade de maior diversificação das carteiras de investimentos das EFPC diante do atual cenário macroeconômico.

Santaniello – No cenário de juros baixos, as fundações precisam buscar alternativas para conseguir balancear o risco da carteira. Com a necessidade de assumir mais risco, se torna ainda mais importante a diversificação dos investimentos para evitar prejuízos elevados em momento de stress de mercado. As fundações precisam combinar estratégias que buscam mais retorno e, ao mesmo tempo, tragam equilíbrio ao portfólio.

Abrapp em Foco – Como os investimentos no exterior podem compor a política de investimentos das fundações no sentido de se alcançar maior diversificação das alocações com menor risco?

Santaniello – O conceito de diversificação muitas vezes é interpretado como a necessidade de ter mais ativos na carteira, no entanto, o ponto mais relevante é saber diversificar as fontes de retorno e risco do portfólio, selecionando ativos que, quando combinados, reduzam o risco do portfólio. O investimento no exterior ajuda bastante nesse processo, pois os ativos acessados apresentam fonte de riscos distintas dos ativos locais.

Abrapp em Foco – Comente a correlação ou descorrelação dos investimentos no exterior e dos investimentos domésticos.

Santaniello – Quando calculamos a correlação dos ativos offshore com ativos locais, encontramos na média valores baixos, o que reduz o risco da carteira. Quando o investimento não apresenta hedge cambial, esse efeito fica ainda mais claro, pois nossa moeda em geral apresenta uma performance negativa em momentos de stress e ajuda a suavizar o impacto de retornos extremos no portfólio.

Abrapp em Foco – Quais as principais opções de investimentos no exterior acessíveis aos fundos de pensão? Renda variável, renda fixa, BDRs, outros.

Santaniello – Hoje já contamos com opções tanto no mercado de renda fixa como em renda variável, além de fundos multiestratégia. O mais comum ainda é a alocação em ações globais na composição de renda variável.

Abrapp em Foco – O que acha da proposta de aumentar o limite de alocação da Resolução 4.661 dos investimentos no exterior para até 20% do total do patrimônio dos fundos de pensão.

Santaniello – Entendo que deixa de ser uma opção e passa a ser uma necessidade em linha com o que já discutimos sobre o cenário e a necessidade de diversificação de fontes de retorno e risco nos portfólios. Hoje muita fundações já estão próximos dos limites atuais, porém ainda com necessidade de manter e aumentar a alocação offshore no processo de maior diversificação do risco.

Abrapp em Foco – Qual a melhor opção, o investimentos no exterior com hedge ou sem hedge cambial? Por que?

Santaniello – Não existe uma resposta certa ou errada, pois os investimentos sem hedge podem apresentar maior volatilidade e essa alocação depende bastante do perfil de risco e política de investimento da fundação. No entanto, a característica da moeda de desvalorizar em momentos de crise, ajuda bastante no balanceamento de risco quando os ativos apresentam retornos extremos negativos em períodos de maior stress. Com isso, quando o investimento é sem hedge cambial, o efeito da diversificação é ainda maior e os impactos em momentos adversos são menores.

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