Entrevista: Capef fortalece proteção das carteiras para enfrentar cenário de maior volatilidade

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Não é segredo para ninguém que 2021 foi um tanto indigesto para os investidores de todo o país. E é bem provável que você tenha iniciado o ano de 2022 com a impressão de que as coisas parecem longe de melhorar, afinal, além da pandemia e eleições, que já eram fatores previstos de movimentação do mercado, o mundo passou a ser acometido por uma guerra em pleno século XXI.

A pergunta que muitos devem estar se fazendo é a seguinte: quais estratégias os gestores do plano de previdência estão adotando para superar os desafios de um ano que começa tão intenso? Para responder a essa e outras perguntas, publicamos entrevista com o Diretor de Administração e Investimentos da Capef, Sérgio Clark. Na conversa, ele explica mais a fundo os resultados do último ano e que medidas já foram e estão sendo adotadas para melhorar a performance das aplicações dos Planos BD e CV I da entidade.

Uma das estratégias visa aproveitar as oportunidades com a abertura das taxas dos títulos públicos. “No segundo semestre de 2021, a partir de outubro, visando aproveitar essa subida crescente da taxa de juros, a Capef passou a adequar sua posição, trocando títulos mais longos por papéis mais curtos com taxas bastante atrativas, marcados na curva”, diz o Diretor.

Além disso, ele transmite sua opinião sobre os impactos macroeconômicos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Confira a seguir na íntegra:

Quais os principais fatores que impactaram os resultados dos ativos da Capef em 2021?

Em resumo, a recuperação da atividade econômica tão esperada para 2021 não aconteceu. Pelo contrário, as incertezas ocasionadas pela pandemia, dentre outros fatores, fizeram com que a economia sofresse em todo o mundo. No Brasil, o ano foi marcado por baixo crescimento econômico, manutenção de elevado índice de desemprego, alta da inflação – que voltou a alcançar dois dígitos -, e queda da Bolsa de Valores. Diante desse cenário, dois pontos foram fundamentais para que nossos planos não alcançassem a meta. Um deles foi o desempenho dos ativos em renda variável. O índice Bovespa (principal indicador médio de desempenho do mercado de ações no Brasil) fechou o ano em queda de 11,93%. Embora ocupe uma parcela relativamente pequena na carteira dos dois planos, os índices negativos da renda variável contribuíram para os números finais. No entanto, a renda fixa também não alcançou bons resultados, sendo esse o segundo e principal motivo para o não atingimento da meta atuarial no último ano.

Por que os resultados da renda fixa não foram satisfatórios?

Uma parte expressiva dos títulos públicos que compunham a carteira de renda fixa dos planos BD e CV I estavam “marcados a mercado”, termo técnico utilizado para dizer que os preços dos títulos estavam sendo contabilizados diariamente pelo preço de venda do ativo no mercado secundário. Como muitos dos papéis foram adquiridos em momentos de pré-turbulência, com as altas na taxa de juros verificadas no último ano, em um cenário de pandemia e posteriormente problemas fiscais do governo, nossos ativos se desvalorizaram contabilmente uma vez que os títulos de renda fixa passaram a ser oferecidos com prêmios maiores. Mas como eu disse, as perdas na renda fixa foram apenas contábeis, uma vez que o retorno acordado no ato da compra continua preservado, está mantido o mesmo.

E quais as estratégias adotadas pela Capef para enfrentar esse cenário econômico que parece se manter em 2022?

Já era de se esperar que 2022 continuaria sendo um ano de volatilidade. Além do Brasil já vir num crescimento econômico tímido, abaixo do esperado, com alta inflação, esse ano teremos eleições presidenciais, algo que por si só já mexe com os mercados. Por isso, a nossa estratégia está sendo adotar uma postura mais defensiva. Nós readequamos a carteira para diminuir a volatilidade.

Como foi essa readequação?

Há cerca de dois anos, quando a inflação deu uma arrefecida e a taxa básica de juros estava reduzida a níveis recordes no Brasil, a Capef se viu obrigada a procurar alternativas para buscar alcançar a meta atuarial estipulada para os Planos, tais como ampliar a participação em renda variável, como bolsa de valores, investimentos no exterior, fundos multimercados, pois os títulos de renda fixa não pagavam prêmios suficientes para o nosso objetivo. Esse cenário foi mudando com a pandemia, particularmente a partir do ano passado, quando o Banco Central começou a elevar a Selic e os títulos públicos passaram a ser oferecidos a uma taxa maior para os investidores.

No segundo semestre de 2021, a partir de outubro, visando aproveitar essa subida crescente da taxa de juros, a Capef passou a adequar sua posição, trocando títulos mais longos por papéis mais curtos com taxas bastante atrativas e “marcados na curva”, ou seja, que não sofrem contabilmente com a oscilação de juros do mercado, a tal volatilidade a que me referi anteriormente.

Já em 2022, projetando um ano não menos volátil, demos sequência à estratégia de proteção das carteiras. Reduzimos a exposição em ativos de risco, como ações, fundos imobiliários, e migramos recursos e novas entradas para esses títulos de renda fixa, aproveitando que estão com retorno acima das nossas metas de rentabilidade. Também rebalanceamos a carteira de investimentos no exterior, nos desfazendo de ações de empresas com foco em crescimento, como as de tecnologia, por exemplo, e realocamos para empresas mais consolidadas no mercado, como as de commodities.

Por falar em investimentos no exterior, como o conflito entre a Rússia e Ucrânia pode impactar nossos planos?

Primeiramente, há de se ressaltar que a Capef não possui aplicações em nenhum dos dois países. Com relação ao impacto macroeconômico, no meu entendimento, a não ser que a guerra se espalhe pela Europa, ou até mesmo se estenda por um período longo, a consequência já vem sendo vivenciada, que é o agravamento da pressão inflacionária e instabilidade econômica, não só no Brasil, mas no mundo todo. Então, por enquanto não vejo como um fator de grande impacto para os nossos planos, uma vez que as nossas estratégias mencionadas já buscam se defender dessas situações de instabilidade. O conflito mantido como está até aqui, localizado apenas na Ucrânia, não trará maiores impactos em nossa estratégia.

Quais as perspectivas para 2022?

É lógico que o mercado financeiro não nos permite cravar nada, porque o futuro está cada vez mais incerto, mas acredito que com as nossas medidas de proteção contra volatilidade na carteira, a tendência é começarmos a reverter os resultados negativos, com nossos planos alcançando a meta de rentabilidade do ano.

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